Refugiado de 19 anos atacou e ofendeu árabe-israelense e alemão que caminhavam pela capital usando quipás. Episódio provocou indignação no país. Conselho Judaico da Alemanha saúda veredicto.
Um refugiado sírio de origem palestina de 19 anos foi considerado culpado nesta segunda-feira (25) por um tribunal de Berlim por lesão corporal grave e por ofender dois homens que caminhavam pela capital alemã usando quipás – chapéu característico do judaísmo. O ataque, ocorrido em abril, provocou indignação na Alemanha e incendiou o debate sobre a integração de jovens muçulmanos à sociedade alemã.
A pena imposta inclui quatro semanas de detenção em um centro juvenil – o jovem sírio, identificado como Knaan al-S., no entanto, já cumpriu esse período atrás das grades antes do fim do julgamento e acabou deixando o tribunal em liberdade.
Ele, porém, ficará sob supervisão de conselheiros do estado pelo próximo ano e ainda terá que realizar uma visita à Casa da Conferência de Wannsee, o local onde líderes nazistas se reuniram no início de 1942 para planejar a deportação e extermínio dos judeus europeus durante o Holocausto. Hoje o local, que fica no oeste de Berlim, é um museu.
O Conselho Judaico da Alemanha elogiou o veredicto e apontou que o tribunal obviamente "não seguiu as absurdas desculpas e justificativas da defesa".
Felix Klein, comissário do governo para o combate ao antissemitismo da Alemanha, também saudou a decisão. Segundo ele, quem pratica atos antissemitas ou usa expressões antissemitas "está à margem da sociedade e deve arcar com as consequências do Estado de direito".
Ataque
O ataque ocorreu no dia 17 de abril, em plena luz do dia, e explicitou a persistência do antissemitismo na Alemanha, não só entre membros da extrema direita, mas também entre imigrantes muçulmanos.
Na ocasião, um homem árabe-israelense de 21 anos e seu amigo, um alemão de origem marroquina de 24 anos, que usando quipás pelas ruas do bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim, quando passaram a ser insultados em árabe por três homens. Quando a dupla pediu para que eles parassem, o sírio de 19 anos começou a agredi-los.
A cena foi registrada em vídeo e mostra o sírio atacando os homens com um cinto enquanto gritava "yahudi", a palavra do idioma árabe para judeu.
Posteriormente, o árabe-israelense que foi atacado disse à DW que ele não era judeu, mas que decidiu usar o quipá para testar se era perigoso para um judeu caminhar pelas ruas da capital alemã usando a peça de vestuário religiosa. "Foi um experimento", afirmou, relatando que muitas pessoas pararam ao ver o ataque, mas ninguém ofereceu ajuda.
Durante o julgamento, o jovem sírio disse que "só queria assustar" a vítima. "Sinto muito, foi um erro da minha parte", disse o réu. "Eu não queria bater nele, só queria assustá-lo." Ele também disse ao tribunal que estava sob efeito de drogas durante o ataque e que elas influenciaram seus atos. "Eu estava chapado, minha cabeça estava cansada."
Ele também negou que o ataque teve motivação antissemita e disse que não viu os quipás antes de avançar contra a dupla. Segundo a imprensa alemã, Knaan al-S. chegou ao país em 2015 e entrou com um pedido de refúgio. O tribunal não informou qual é seu atual status legal na Alemanha.
O ataque foi condenado por líderes religiosos e políticos na Alemanha. O incidente também provocou protestos em Berlim e em várias outras cidades alemãs. Milhares de pessoas saíram às ruas com quipás para protestar contra o antissemitismo no país. O quipá usado pelo árabe-israelense foi posteriormente exposto no Museu Judaico de Berlim como parte de uma campanha contra o antissemitismo.
Após o incidente, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou que a luta contra manifestações antissemitas precisa ser vencida. Ela destacou que há antissemitismo tanto entre cidadãos alemães quanto entre pessoas de origem árabe e que é preciso combatê-lo com "toda a severidade e determinação".