Vida do britânico girou em torno de ideias supremacistas desde seus 11 anos.
O líder demissionário de um movimento neonazista britânico provou ser uma caixa de surpresas. Kevin Wilshaw, preso por ofensas racistas, admitiu que é gay, que foi abusado pelos colegas neonazis que suspeitavam da sua homossexualidade e que afinal descende de… uma família judaica.
Kevin Wilshaw se interessou pelo Nazismo pela primeira vez aos 11 anos. Seu pai era de direita e ele queria imitá-lo, ele contou à imprensa britânica. Desde então, a vida do britânico girou em torno da supremacia branca. Agora, após uma vida inteira devoto à causa da extrema-direita, Wilshaw renunciou ao seu passado cheio de ódio e revelou que é gay e tem ascendência judaica, durante uma entrevista ao Channel 4.
— Você é um nazista, com um passado judeu, e é gay — surpreendeu-se o entrevistador Paraic O'Brien, evidentemente perplexo com a contradição.
Wilshaw entrou para a Frente Nacional Britânica, um partido político fascista e de extrema-direita, logo após completar 18 anos e tornou-se uma proeminente figura como organizador do partido nos anos 80, de acordo com o Channel 4. Ele depois juntou-se ao Partido Nacional Britânico, também de extrema-direita.
No começo desse ano, Wilshaw discursava em eventos de extrema-direita e foi preso em março por ofensas racistas na internet, de acordo com o Channel 4. Então, por que a súbita mudança?
Tudo aconteceu após Wilshaw sentir na pele o próprio veneno, ele disse. Recentemente, suspeitaram que ele era gay e ele foi alvo de abusos devido à sua sexualidade.
— É uma coisa terrível para dizer, mas é verdade — disse Wilshaw. — Eu vi pessoas sendo abusadas, ouvindo gritos, sendo cuspidas na rua. Até que acontece com você, você subitamente percebe que é errado.
Wilshaw também revelou que sua mãe tinha ascendência judaica. Porém, apesar de seus antepassados, o ex-nazista escreveu em seu pedido para entrar para a Frente Nacional Britânica que a guerra contra os judeus — "inimigos da minha raça", ele escreveu — precisava ser realizada numa escala global para ser efetiva. Wilshaw disse que se sente terrivelmente culpado por seu passado.
— Eu realmente me sinto culpado — ele disse. — Não somente isso, é também uma barreira para eu ter um relacionamento com minha própria família. Eu quero me livrar disso, é muito peso.
Enquanto a Frente Nacional Britânica há muito tempo se separou em várias facções, o Partido Nacional Britânico, fundado em 1982, continua ativo, mas vive uma turbulência nos anos recentes, com pouca proeminência nacional e sucesso eleitoral. Porém, Wilshaw, de modo algum, oferece um ramo de oliveira aos seus antigos camaradas extremistas de extrema direita. De fato, ele parece querer ensiná-los uma lição.
— Eu quero prejudicar todas as pessoas que propagam esse tipo de lixo — ele disse. — Eu quero machucá-los, eu quero mostrar o que é viver realmente uma mentira e estar no fim desse tipo de propaganda. Eu quero realmente machucá-los.