Ortodoxos caminham para o Tribunal |
A Suprema Corte de Israel decidiu nesta
terça-feira (12) que jovens ultraortodoxos não podem mais se eximir do
alistamento militar obrigatório no país.
A decisão põe fim a uma discussão que
se arrastava na sociedade israelense desde os anos 1990. Por quase 30 anos a
exceção aos ultraortodoxos foi respaldada em leis, emendas, decretos e outros
instrumentos legais que se sucederam mantendo o que a Corte entendeu, agora,
ser um privilégio.
Durante todo esse tempo, prevaleceu o entendimento de que os
jovens ultraortodoxos podiam se eximir do alistamento militar obrigatório para
se dedicar exclusivamente ao estudo religioso. Porém, na sentença expedida
nesta terça (12), oito dos nove juízes entenderam que a situação era
discriminatória em relação aos jovens seculares (não religiosos) que são
obrigados a servir às forças armadas em Israel. O alistamento dos
ultraortodoxos se dará por cotas, que deverão ser preenchidas anualmente. O
excedente será dispensado.
Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, a
obrigatoriedade recai especialmente sobre os homens (que servem por três anos).
As mulheres podem optar entre serviço militar (dois anos de alistamento) ou
serviço civil obrigatório. Palestinos sob ocupação não se alistam, mas árabes
israelenses podem se alistar. Em Israel, o alistamento é tido como um ritual de
passagem para a vida adulta. Muitos incluem no currículo profissional
informações sobre a unidade em que serviram, além da patente alcançada. Quem
não cumpre serviço militar obrigatório fica sujeito a penas duras, incluindo em
alguns casos a pena de prisão.
O governo e a sociedade israelenses valorizam
enormemente suas forças armadas, chamadas de IDF (Forças de Defesa de Israel,
na sigla em inglês), pois o Estado mantém territórios palestinos sob ocupação
militar e participa de forma recorrente de conflitos armados internacionais na
região, de maioria muçulmana.
Decisão foi recebida com revolta e ameaças
Líderes ultraortodoxos, assim como diversos membros do Knesset (o Parlamento
israelense) protestaram contra a decisão da Suprema Corte. Para os religiosos,
a sentença não reconhece o fato de que esses jovens já prestam uma contribuição
à sociedade por outros meios, como o estudo dos textos sagrados do judaísmo,
central na identidade israelense. Para muitos políticos críticos à decisão, o
problema é de divisão dos Poderes, pois a Suprema Corte teria atropelado
atribuições legislativas do Knesset.
No início de setembro, mais de 500 mil
ultraortodoxos haviam participado de uma grande manifestação contra a decisão
que, previam, viria a ser tomada pela Suprema Corte. Depois de proferida a
sentença, líderes ultraortodoxos fizeram um chamado para que os fiéis orem pela
morte dos recrutadores militares. Além do benefício de não precisar se alistar,
os jovens ultraortodoxos também recebem assistência do Estado, pois muitos não
trabalham durante os anos de estudo. Para muitos israelenses laicos, o Estado deve
combater esses privilégios.
Quem são os ultraortodoxos
O judaísmo é uma
religião monoteísta. Seus seguidores seguem textos considerados sagrados,
chamados Torá. O termo também é empregado de maneira mais ampla, para se
referir à cultura e ao próprio povo judeu, que inclui judeus natos ou
convertidos.
Os ultraortodoxos são judeus que se opõem a qualquer abrandamento
das leis judaicas e tomam sua aplicação do modo mais rigoroso e literal
possível. Mantêm laços coesos e identificação forte, por meio de costumes e
vestimentas muito característicos.
Eles têm uma expressão política importante
em Israel, embora representem em torno de apenas 8% da população local. As
correntes mais radicais chegam até a se opor à criação do Estado de Israel,
pois, na visão deles, a indicação da “terra sagrada” só deveria ser feita com a
vinda do “messias” ou “salvador” enviado por Deus.