
Na primeira visita de um
primeiro-ministro israelense ao país sul-americano, Netanyahu se reuniu nesta
terça-feira com o presidente Maurício Macri e, aproveitando sua presença no
continente, falou abertamente de vários temas, que muitas vezes chegam à região
apenas por rumores ou comentários.
O primeiro-ministro garantiu, por
exemplo, que mantém posição fortemente contrária ao acordo assinado com o Irã,
sobre controle de tecnologia nuclear.
A afirmação veio para rebater a
informação que havia surgido, na qual, seguindo sugestão de membros do governo
americano, ele teria, ao lado da Arábia Saudita, enfim, aceitado a permanência
do acordo.
Ele também manifestou in
loco solidariedade às vítimas de atentados de 1992 (que deixou 29
mortos na embaixada de Israel) e de 1994 (que deixou 85 mortos na sede da Amia)
em Buenos Aires.
E, antes de reunião com o
presidente Mauricio Macri, o primeiro-ministro ainda declarou que está ansioso
para encontrar-se com o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, na
conferência anual da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas),
no próximo dia 26 de setembro.
A conferência ocorrerá depois de
Netanyahu ter visitado também a Colômbia e o México, além de ter se encontrado
com o presidente paraguaio Horácio Cartes na capital argentina.
Conforme ressaltou o cônsul-geral
de Israel em São Paulo, Dori Goren, toda essa movimentação deixa claro que
Israel quer manter seus aliados antigos e aprimorar o relacionamento com outros
países, transformando-os em novos aliados.
— Israel já está se abrindo faz
tempo para o mundo, mas, nos últimos anos, temos feito esforços especiais para
estreitar mais as relações com nações que antes Israel não trabalhava tanto,
como na África, Ásia e América Latina.
A aproximação de Israel ocorre em
um momento de fragmentação política no mundo. O governo israelense parece ter
encontrado uma ocasião em que há necessidade de novas ideias, novos conceitos,
a se encaixarem também às necessidades do país, que busca ainda ampliar
mercados para compensar o bloqueio econômico defendido pela campanha BDS
(boicote, desinvestimento e sanções) contra produtos israelenses.
Contra a propaganda negativa,
vinda, segundo o governo, de algumas decisões da ONU, e do boicote, Israel está
procurando fazer uma propaganda positiva de si mesmo. O governo, acompanhado de
uma comitiva de empresários, quer mostrar que Israel tem a oferecer muitas
novidades nas áreas de agricultura, da gestão da água, da defesa cibernética,
da luta contra o terrorismo, da criminalidade e de outras tecnologias.
Tom conciliador
Neste momento, o Estado judaico
superou sua própria fragmentação política e ideológica dos tempos de sua
implantação, quando os líderes da época divergiam. Moshe Sharret mostrava
preocupação com o lado diplomático e David Ben-Gurion, com o lado prático. Em
editorial, o The Jerusalem Post descreveu o atual cenário:
— Aumentar nossos esforços
diplomáticos para as áreas que historicamente receberam menos atenção é
importante como parte da luta em curso contra ataques infundados contra o
Estado judeu.
Netanyahu tem tentado unir essas
duas filosofias, de Sharret e Ben-Gurion. Mesmo vindo de um partido tido como
de direita, ele está buscando um tom conciliador tanto dentro quanto fora do
país, em um momento em que adquiriu maior sustentação para governar.
O primeiro-ministro agora procura
usar da habilidade para lidar com temas delicados, como certas divergências com
os Estados Unidos em relação à construção de assentamentos e a manutenção da
embaixada americana em Tel Aviv. Essas questões não têm atrapalhado a relação
entre os dois países, conforme afirma Goren.
— A nossa relação com os Estados
Unidos é ótima, os Estados Unidos foram, são e serão um aliado de Israel.
Independentemente do governo de Israel e dos Estados Unidos. O povo e congresso
americanos e todos os partidos políticos dos Estados Unidos apoiam Israel.
O editorial do Jerusalem Post
também dá a entender que novos tempos chegaram para Israel, apesar da segurança
continuar sendo uma das prioridades da nação.
— Israel tem muito a oferecer.
Com o passar do tempo, mais países começam a perceber isso. Antigos
preconceitos estão sendo separados em favor de se fazer o que é correto tanto
do ponto de vista moral quanto pragmático. A visita de Netanyahu reflete esse
fato simples.