A princesa de gelo vista como a nova Golda Meir de Israel.
direita, sionista e religioso, Ayelet Shaked tem sido criticada por ser jovem (tem 41 anos) e mulher. Ela não descarta vir a ser primeira-ministra.
Em
julho, a Lady Globes, a revista feminina do jornal financeiro Globes elegia
Ayelet Shaked como a Mulher do Ano em Israel. Jovem, bela e reservada de uma
forma calculada, a ministra da Justiça de Benjamin Netanyahu já foi apelidada
de "Princesa do Gelo". Mas esta nacionalista laica, que nem por isso
deixa de ser um ícone do partido de sionista religioso Lar Judaico (que ajudou
a formar em 2013) e popular entre os judeus ortodoxos, está habituada a que a
desvalorizem.
Apontada
pelo diário de esquerda Haaretz como "a política israelita
mais bem sucedida desde Golda Meir", a própria Shaked não destaca a
hipótese de ser a segunda mulher a chefiar o governo do país. Mas, garante ela,
só o seu mentor, Naftali Bennett, ter sido primeiro-ministro.

As
suas prioridades são claras: reforças o domínio israelita na Cisjordânia, acelerando
a construção de colônias, retirar a cidadania a árabes israelitas condenados
por terrorismo, escrutinar as ONG que atuem em Israel mas recebam dinheiro de
governos europeus para promover causas negativas para o Estado e promover
reformas no processo de escolha dos juízes do Supremo, transferindo o máximo de
poder para o Knesset (o Parlamento). Um dos seus maiores sucesso foi em
fevereiro a nomeação de quatro juízes para o Supremo, três deles conservadores.
"Se
Shaked fosse primeira-ministra não poderia responder a estas perguntas de forma
livre", afirma ao DN Gideon Levy. O jornalista do Haaretz garante
que se chegar ao poder, a ministra "vai mudar os últimos vestígios de
democracia israelita, até para os seus próprios cidadãos". Quanto ao texto
que escreveu a elogiar a sua honestidade, Levy sublinha que é apenas por ela
que a respeita - "outros pensam o mesmo e escondem-no".
Quanto
às comparações com Golda Meir, Levy garante que são diferentes e que "os
tempos também são diferentes". Já Diane Bederman, capelã num hospital de
Toronto e colaboradora do Times of Israel, de direita, recorda ao DN que há
"uma longa história de mulheres judias fortes que começa na Torá".
Comparada
pelo presidente turco, Recep Erdogan, a Hitler, Shaked foi repetidamente
atacada nas redes sociais com imagens manipuladas de fotografias sua vestida de
nazista. Para Diane Bederman, "que alguém compare qualquer judeu a Hitler
vai para além de qualquer comentário".
Mas
mesmo quem despreza as ideias que defende, aprecia a sua habilidade política. E
em termos de estratégia, Shaked tem tido bons professores - sobretudo os dois
políticos com quem mais conviveu até hoje: Naftali Bennett e Benjamin Netanyahu.
Segundo o Haaretz, com o primeiro aprendeu a "não pedir desculpas"
pelas suas posições pró-colonos, anti-solução dos dois Estados "para
agradar seja aos centristas, aos media ou aos líderes estrangeiros". Com o
segundo, aprendeu a ser uma política laica com a qual os judeus mais religiosos
se conseguem identificar.
Convidada
por Netanyahu em 2006 para ser sua chefe de gabinete, tudo indicava que Shaked
se tornasse numa estrela em ascensão no Likud, o partido de direita do atual
primeiro-ministro. Mas em 2012 deixou o Likud e juntou-se a Naftali Bennett,
que ela própria contratara para a equipe de Netanyahu, no Habait Hayehudi (Lar
Judaico). As reações não se fizeram esperar, com muitos próximos a questionarem
a sua ida para um partido religioso: "Enlouqueceste? És mulher e nem és
religiosa. Que hipótese tem de ser eleita? Mas foi e em 2013 entrou no
Parlamento como deputada.

Nascida
em Tel Aviv em 1976, Shaked cresceu em Bavli, o bairro de classe média alta
onde ainda mora. Filha de um iraquiano nascido no Irã e que sempre votou
Likud, Shaked orgulha-se das origens. Já a mãe, com raízes na Rússia e Romênia
e professora de Torá, sempre votou no centro esquerda. Lá em casa não se
costumava discutir política, mas em criança Shaked recorda-se de assistir a um
debate entre Shimon Peres e Yitzhak Shamir e de ficar encantada com a voz de
Shamir.
Excelente
aluna, Shaked andou no ballet e foi escoteira. Mas só durante o serviço militar
(obrigatório em Israel para homens - três anos - e mulher - dois anos) se
interessou pela política, reforçando as ideias de direita que sempre tivera.
Serviu em Hebron, tendo então percebido que "a solução para o conflito
palestino não viria agora".
Formada
em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação em Tel Aviv, começou a carreira
na área das novas tecnologias. Casada com um piloto de caça, tem dois filhos.