Acordei ontem pensando que tinha o meu dia inteiro planejado, que sabia o que estava fazendo e quando. Como de costume, estava errada. Como minha mãe sempre me diz em Yidish: “Mentch tracht und Gott lacht (“O homem planeja e D'us ri”).
Primeiro, às 7 da manhã, fui acordada por uma criança com febre (ele precisou voltar para a cama). Então, às 8h05, minha cliente das 9 horas (com quem eu tinha marcado exatamente às 9, porque é quando meu bebê tira sua primeira soneca) enviou-me o texto: “Elana, não sei se poderei ir – houve a explosão de uma bomba na minha cidade. As estradas estão bloqueadas. Não sei se consigo pegar um ônibus para Jerusalém…”
A única resposta na qual pude pensar foi “Não se preocupe, apenas tome cuidado.”
Tome cuidado. É isso que todos estão dizendo para todo mundo que conhece nesses dias – “Tome cuidado!” Cuidado? Como você pode ser cuidadoso? Não estamos falando sobre ser cuidadoso para não cair da escada ou não atravessar uma rua sem olhar para os dois lados. Não estamos falando sobre tomar cuidado para não subir numa árvore, ou mesmo para não andar por uma rua escura. Estamos falando simplesmente sobre caminhar pela rua durante o dia, e como alguém pode ser cuidadoso com isso?
Mas essas eram as palavras que nos vinham à mente. O que mais eu poderia dizer?
Liguei no noticiário para saber o que estava acontecendo. Eu quero saber o que está acontecendo? Eu tenho de saber o que está acontecendo? Ouvi. Mais facadas, mais ataques, mais ferimentos.
Minha cliente não podia pegar um ônibus, mas alguém lhe deu uma carona até Jerusalém. Ela chegou apenas 40 minutos atrasada. Estava trêmula, nervosa. Eu disse a ela que sua manhã – o carro bomba, chegar tarde a um compromisso, não ter qualquer controle da situação – na verdade é tudo parte do processo do tratamento (ela está vindo a mim para trabalho corporal para fortalecer o corpo para ficar grávida).
Todos esses eventos, tudo que está acontecendo: para quê é isso? O sofrimento é na verdade partes do processo. “Acordem!” dizemos aos terroristas. “Vocês não têm controle.” Não, não os terroristas. É D'us nos dizendo: “VOCÊS não têm controle, mas Eu, Eu tenho…”
No Shabat de Sucot, fui ao Cotel com minha filha de sete anos e meu bebê. Rezamos e voltei para casa uma hora antes de dois pais perderem seus filhos ali. Ao termino do Shabat eu soube o que tinha acontecido, o quanto estivemos perto, não pude acreditar…
Não tenho voltado ao Cotel. Mas essa é a solução? Viver com medo? Devemos deixar nossos filhos maiores sozinhos pelos cinco minutos que andam até a escola? O que é seguro? O que não é seguro? O que é normal? O que não é?
Na semana passada, fui até a casa de Rebetsin Chana Henkin, fundadora do Instituto Nishmá para Estudos Judaicos Avançados em Jerusalém, minha ex-professora, quando ela sentou shivá (o período de sete dias de luto) pelo seu filho e nora que foram brutalmente assassinados na frente dos quatro filhos por terroristas palestinos.
Enquanto eu caminhava para a shivá, meus pensamentos voltaram 16 anos quando eu me sentava na classe da Rebetsin. Lembrei do seu sorriso, que me saudava toda vez que ela me ensinava ou falava comigo, e pensei: “Eles tiraram o filho dela; será que tiraram também seu sorriso?”
A casa estava lotada, e mal pude encontrar espaço para entrar. Eu a vi sentada numa cadeira baixa com o marido. Ele estava chorando, e os olhos dela estavam repletos de lágrimas, mas o sorriso de força, o sorriso de amor pelo povo judeu, pela Torá, por Israel, pela vida – era notável, o sorriso ainda estava ali.
O que fazemos? Sim, estamos vivendo com medo. Todos estão mais nervosos do que estiveram durante muito tempo. Todos estão mais assustados. Mas temos de continuar vivendo e sorrindo, pois que bem traz este tipo de medo?
Levei meu filho febril ao médico hoje. Caminhamos pelo shuk, que geralmente é lotado de gente. Hoje estava vazio. As pessoas têm medo de vir. Esperamos nossa vez no médico, e todos ao redor estavam ouvindo ou lendo as notícias em seus smartphones. Silêncio. Todo mundo estava escutando, lendo. Outro ataque. Como é possível?
Voltamos para casa. Tranquei a porta. Esperei nervosa meu filho mais velho chegar. Comecei a escrever. Parei para ver outro cliente. Começamos nossa sessão, e ouvimos sirenes e mais sirenes. Meu coração disparava. Meu corpo inteiro estava tenso. Sim, nossos piores temores. Tinha acontecido outro ataque.
O que podemos fazer? Existe algum lugar seguro? Essa vez é realmente diferente de qualquer outra? Quantas vezes sofremos esses medos no passado? Outra e mais outra e outra vez.
Acabei de limpar o chão, e então uma criança derrubou iogurte em toda parte. Ela observou minha reação. Eu disse para ela não se preocupar, e agarrei o esfregão novamente. Quem se preocupa com iogurte derramado num chão recém limpo quando estamos ouvindo sirenes, de ambulância e carros de polícia? Na vida, precisamos ter prioridades e alguma perspectiva.
Digo aos meus filhos: “Não, não podemos ter medo. Obviamente devemos ter cuidado, o que quer que ‘cuidadoso’ signifique, mas quando caminhamos pela rua, é com preces e salmos nos lábios, e sem medo.” Onde quer que você esteja, seja em Nova York ou Londres, ou Sidney… existe o medo. Aqui estou em Jerusalém e é assustador. É assustador estar em sua casa e sentir medo. É assustador ir para a escola ou ao supermercado.
Mas que bem o medo traz? Qual é o objetivo dele?
Sou neta de sobreviventes do Holocausto. Não vou viver com medo. Confio em D'us. Estou me concentrando nas minhas prioridades, e aprendendo com tudo isso a recuperar o controle. Quero amar mais e sorrir mais. Quero fazer mais e viver mais.
Por favor, não tenha medo. Mas também peço a você que ame mais e faça mais. Também peço a você que reze mais, por nós, por você, por Israel.