Antes da Guerra dos Seis Dias, Israel temia um novo Holocausto

Antes da Guerra dos Seis Dias, Israel temia um novo Holocausto

0
Antes da Guerra dos Seis Dias, Israel temia um novo Holocausto

Passados 50 anos da Guerra dos Seis Dias, evento cujas consequĆŖncias polĆ­ticas continuam na ordem do dia, as causas e o contexto do conflito passam longe do noticiĆ”rio e, por consequĆŖncia, do senso comum.

NĆ£o, nĆ£o houve invasĆ£o nem ocupaĆ§Ć£o do Estado palestino – mesmo porque ele nĆ£o existia. NĆ£o, Israel nĆ£o era apoiado maciƧamente pelos EUA. NĆ£o, Israel nĆ£o tinha mais armas do que os paĆ­ses Ć”rabes.

ApĆ³s a criaĆ§Ć£o, em 1964, da OrganizaĆ§Ć£o para a LibertaĆ§Ć£o da Palestina (OLP), as incursƵes de comandos palestinos contra Israel, principalmente a partir dos territĆ³rios jordaniano e sĆ­rio, tornaram-se cada vez mais frequentes, e as forƧas israelenses reagiam com retaliaƧƵes. Note-se que os hoje chamados territĆ³rios ocupados eram antes de 1967 ocupados por JordĆ¢nia e Egito. Cabe a pergunta: qual “Palestina” a OLP queria libertar?

Naquela dĆ©cada de 1960, Israel comeƧou a construir seu sistema de irrigaĆ§Ć£o nacional, para trazer Ć”gua do mar da Galileia para o sul do paĆ­s. Em resposta, a SĆ­ria comeƧou a construir canais para desviar as fontes do Rio JordĆ£o. Com o confronto sobre a divisĆ£o das Ć”guas entre Israel, SĆ­ria e JordĆ¢nia, as tensƵes se intensificaram, com um pico em abril de 1967.

Em 16 de maio de 1967, Nasser, o presidente do Egito, ordenou que todas as tropas da ForƧa de EmergĆŖncia das NaƧƵes Unidas (UNEF), estacionadas hĆ” mais de 10 anos na fronteira com Israel no deserto do Sinai, saĆ­ssem de lĆ”. Enquanto o secretĆ”rio-geral da ONU, U Thant, pedia esclarecimentos ao Cairo, tropas egĆ­pcias cruzaram a linha da UNEF e ocuparam alguns postos.

U Thant reuniu-se com os membros do ComitĆ© Consultivo da UNEF e informou-lhes dos acontecimentos no terreno, explicando que, se um pedido formal de retirada da UNEF fosse feito pelo governo egĆ­pcio, ele teria de cumprir, pois a ForƧa estava lĆ” somente com o consentimento do governo e nĆ£o poderia permanecer sem ele. Seguiu-se grande divisĆ£o na ONU sobre o que deveria ser feito. Antes que uma decisĆ£o fosse tomada, os governos da ƍndia e da IugoslĆ”via decidiram retirar seus contingentes da UNEF.

Enquanto isso, o secretĆ”rio-geral consultou o governo israelense sobre a possibilidade de colocar as tropas no lado israelense, mas Israel declarou que isso seria inaceitĆ”vel. Pouco tempo depois, o representante do Egito enviou uma mensagem a U Thant indicando a decisĆ£o do seu governo de pĆ“r fim Ć  presenƧa da UNEF no Egito e na Faixa de Gaza, pedindo-lhe que se procedesse a retirada o mais rapidamente possĆ­vel. Com o fracasso das negociaƧƵes, o comandante da UNEF foi instruĆ­do a retirar as tropas. 

Logo apĆ³s, em 22 de maio as forƧas de Nasser retomaram a cidade de Sharm el-Sheikh, bloqueando o Estreito de Tiran e fechando o acesso de Israel ao mar Vermelho. No final de maio, a JordĆ¢nia assinou um pacto de defesa mĆŗtua com o Egito - nĆ£o custa lembrar que a JordĆ¢nia anexou a CIsjordĆ¢nia e JerusalĆ©m Oriental em 1950 e trĆŖs anos depois passou a chamar a cidade de sua "segunda capital".  O Iraque se juntou alguns dias depois. Os lĆ­deres Ć”rabes proclamaram que iriam “reconquistar a Palestina” de uma vez por todas. O jornal O Estado de S. Paulo, ediƧƵes de 27 e 31 de maio de 1967, destacou:
Antes da Guerra dos Seis Dias, Israel temia um novo Holocausto



A FranƧa, que apoiava militarmente Israel, decidiu retirar seu apoio no dia 3 de junho [ao contrĆ”rio do senso comum, os EUA nĆ£o apoiaram militarmente Israel nem na Guerra de IndependĆŖncia, em 1948, nem na de 1967].

ApĆ³s a longa Guerra de IndependĆŖncia da ArgĆ©lia (1954-1962), De Gaulle tinha tomado uma decisĆ£o estratĆ©gica: reforƧar a estatura da FranƧa no vasto mundo Ć”rabe, o que significou manter por algum tempo um jogo duplo, que chegou ao fim quando a crescente tensĆ£o em 1967 o forƧou a tomar uma posiĆ§Ć£o, que chocou os israelenses: abandonar Israel.
A FranƧa tornou permanente o embargo de armas contra Israel, procurou fazer acordos petrolĆ­feros com os Estados Ć”rabes e adotou uma retĆ³rica cada vez mais anti-Israel.
A UniĆ£o SoviĆ©tica temia que Israel estivesse construindo uma bomba nuclear em Dimona e fez o possĆ­vel para levar os Ć”rabes Ć  guerra. JĆ” os EUA, obcecados com a guerra no VietnĆ£, nĆ£o deram garantia de ajuda.
Nesse contexto, a populaĆ§Ć£o Israel temia um novo Holocausto. Rabinos consagravam parques pĆŗblicos como cemitĆ©rios, e milhares de sepulturas foram cavadas, antecipando mortes em massa. ƀ medida que alguns israelenses cavavam tĆŗmulos, outros comeƧaram a armazenar lĆ”pides e caixƵes. 

O jornal O Estado de S. Paulo, ediƧƵes de 28 e 30 de maio de 1967, destacou:

Antes da Guerra dos Seis Dias, Israel temia um novo Holocausto

Postar um comentƔrio

0ComentƔrios
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Os comentĆ”rios sĆ£o de responsabilidade exclusiva de seus autores e nĆ£o do Blog. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.NĆ£o publicamos comentĆ”rios anĆ“nimos. Coloque teu URL que divulgamos

Os comentĆ”rios sĆ£o de responsabilidade exclusiva de seus autores e nĆ£o do Blog. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.NĆ£o publicamos comentĆ”rios anĆ“nimos. Coloque teu URL que divulgamos

Postar um comentƔrio (0)

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Our website uses cookies to enhance your experience. Learn More
Accept !