Um membro sênior da comitiva que prepara a visita do presidente Donald Trump a Israel, na semana que vem, criou um tremendo mal estar com as autoridades israelenses, ao dizer a seus pares locais que "o Muro Ocidental [ou das Lamentações] não é seu território; é parte da Cisjordânia, reservada aos palestinos pelas Nações Unidas.
O incidente foi relatado pela televisão israelense e, como é óbvio, provocou irada reação do governo, que se disse "chocado" com o comentário, conforme relato do site "Times of Israel".
A reação israelense, por sua vez, provocou uma retratação da Casa Branca: "Os comentários sobre o Muro das Lamentações não são uma comunicação autorizada e não representam a posição dos Estados Unidos e certamente não a do presidente", relata o "Times of Israel".
É fácil entender a irritação dos israelenses: o Muro é o mais sagrado local de orações para os judeus. É parte do que sobrou do Antigo Templo e, como tal, o ponto de oração mais próximo do próprio Templo.
A área que ocupa foi capturada, junto com o restante da Cidade Velha de Jerusalém e Jerusalém Ocidental, na guerra de 1967 e a partir de então foi anexada por Israel como componente de sua capital, que os judeus consideram una e indivisível.
Mas a anexação não é reconhecida pela comunidade internacional e, obviamente, tampouco pelos palestinos, que querem fazer da Jerusalém Oriental a sua capital, se e quando conseguirem constituir um Estado.
O comentário do membro da comitiva norte-americana foi em resposta ao pedido dos israelenses para que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu acompanhasse Trump na visita que deve fazer ao Muro, durante sua estada em Israel, nos dias 22 e 23.
A delegação norte-americana rejeitou a solicitação, alegando que a visita de Trump seria privada (será, aliás, a primeira visita de um presidente norte-americano ao local sagrado para os judeus; outros presidentes já estiveram no local, mas não no exercício do cargo).
Os israelenses pediram então que fosse permitido que uma equipe de TV local pudesse filmar a estada no Muro das Lamentações.
Deu-se então a "rude resposta" do representante norte-americano, segundo o relato do "Times of Israel":
"Do que vocês estão falando? Não é de seu interesse. Não é nem parte de sua responsabilidade. Não é seu território. É parte da Cisjordânia.
O incidente dá uma perfeita ideia do equilibrismo que Trump terá que fazer em Israel se quiser de fato conduzir negociações que levem a um acordo de paz, ideia que repete incessantemente.
Se há, na equipe avançada do presidente, quem considere o mais sagrado local do judaísmo como fora do território de Israel, mais ainda será a própria Jerusalém, a cidade em que Israel quer que se instale a embaixada norte-americana (hoje, está em Tel Aviv, como a esmagadora das representações estrangeiras em Israel).
O secretário de Estado, Rex Tillerson, acaba de dizer que Trump está avaliando se transferir a embaixada para Jerusalém ajuda ou atrapalha o processo de paz. Os israelenses já responderam que ajuda, os palestinos acham que seria uma afronta.
Resta saber se Trump dirá algo na sua visita. O que quer que diga desagradará um lado e, se não disser nada, frustrará a expectativa de Israel.