Por Roberto Leon Ponczek*
O antissemitismo é, sem dúvida, o mais
antigo e mais longo dos ódios. Remonta aos egípcios, gregos, persas, romanos e
cristãos, e teve o seu mais trágico desfecho durante o Holocausto, em que 6
milhões de judeus foram assassinados por Hitler e os nazistas. Cada um desses
povos perseguiu os judeus por motivos diferentes. Os egípcios os mantinham como
escravos, os gregos queriam abolir apenas a religião judaica, mas os persas de
Haman queriam aniquilá-los fisicamente e os cristãos perseguiram os judeus por vários
motivos sendo o mais renitente a acusação de deicídio (matadores de Jesus).
Segundo Sartre e sua máxima
existencialista “o inferno são os outros” o povo judeu manteve-se unido até
hoje devido ao ódio dos outros, ou seja, pelo antissemitismo. Conceito este
defendido por Einstein que disse “o antissemitismo mantém o povo judeu unido”,
bem como pelo líder da revolta estudantil francesa durante o mandato do
General De Gaulle, Daniel Cohn-Bendit que disse explicitamente que "seria
judeu até o momento que antissemitismo desaparecesse." Portanto,
seguindo esse raciocínio, os judeus existem até hoje porque são perseguidos
pelos gentios. No entanto, não poderíamos pensar o contrário e afirmar que o
antissemitismo existe porque os judeus insistem em serem judeus? A causa seria
então o ódio à diferença? Atavicamente o ódio à diferença remonta aos primeiros
momentos da história da civilização quando os homens se organizavam em pequenas
tribos ou agrupamentos isolados e quando surgia alguém diferente naquele espaço,
este seria necessariamente o inimigo invasor. Portanto, o ódio ao diferente
resultaria de uma necessidade de um grupo de se defender do inimigo. Mas
será o diferente, quase sempre minoritário em grandes países, um verdadeiro
inimigo,ou um risco, para as grandes civilizações? Os judeus ameaçavam a
estabilidade dos impérios romano, egípcio ou persa? É evidente que não.
Segundo Umberto Eco o antissemitismo
não vem de uma real ameaça nem da leitura de panfletos antissemitas como Os
protocolos do Sábios de Sião ou de livros como Mein Kampf de Hitler,
mas surge como uma necessidade básica que os governos e governados achem um
culpado para suas mazelas sociais, o chamado bode expiatório. Essa parece ser a
melhor hipótese para a nossa questão. Ela explica porque a Inquisição ibérica
perseguia os judeus espanhóis e portugueses mesmo depois que muitos deles
terem-se convertido ao Cristianismo, tornando-se cristãos novos. Ainda assim
recaia sobre eles a suspeita de praticar o judaísmo ocultamente em suas casas.
A coroa espanhola precisando angariar recursos para financiar suas guerras e
para a conquista do Novo Mundo achacava as famílias judias fossem elas
convertidas ou não, ou seja, a Inquisição seria um pretexto para ter-se uma
fonte de renda extra. Já o nazismo assassinava indistintamente judeus
religiosos ou os completamente assimilados à cultura germânica
responsabilizando-os por uma fictícia conspiração de banqueiros judeus que
teria levado a Alemanha à bancarrota depois da 1ª Guerra mundial.
Não faltam exemplos históricos que
comprovam a hipótese acima: a decadente Rússia czarista do final do sec.
XIX precisava de um bode expiatório, e assim, foi criado um
panfleto forjado pela polícia secreta do czar Nicolau II, os tais “Protocolos
do Sábios de Sião” que acusavam os judeus de promover a erosão da
civilização cristã pela manipulação do capital e de planejar a tomada completa
de poder por uma conspiração internacional. O livro de Hitler, Mein
Kampf, que sustentaria os ideais e a agenda nazistas foi inspirado na farsa
dos Protocolos e surge numa Alemanha falida.
Às vezes o antissemitismo torna-se
completamente irracional e acusa os judeus de praticarem coisas opostas.
Enquanto que os russos do czar Nicolau e os nazistas acusavam os judeus de
promoverem a revolução comunista bolchevique, o stalinismo acusava os judeus de
capitalistas que queriam sabotar os regimes comunistas instalados na Europa
oriental. E não faltam exemplos de antissemitismo, e outras formas de
racismo, que estão diretamente associados à decadência econômica de um
determinado Estado-Nacão. A recente ascensão de políticos ultradireitistas na
Europa como Marine Le Pen e Trump nos Estados Unidos são os mais novos exemplos
de um discurso de ódio às diferenças que são majoritariamente islâmicas na
Europa e hispânicas, nos Estados Unidos. No entanto, sendo o judeu o mais
antigo dos “diferentes” é explicável que o antissemitismo seja o mais antigo
dos ódios.
No texto-poema abaixo tento
exemplificar alguns dos chavões mais comuns do antissemitismo descritos, em
vários livros panfletários tais como o famigerado Protocolos dos
Sábios de Sião, cujos estereótipos acabam-se alojando no imaginário
coletivo de muitos povos de países ocidentais. Mostro também como os judeus
podem conciliar harmonicamente as suas crenças religiosas com os costumes das
sociedades que os acolheram como cidadãos, sendo assim , ao mesmo tempo,
diferentes, mas também iguais aos demais membros das sociedade do qual fazem
parte. Trata-se assim de um pequeno poema-texto desnecessário para os que
sabem o que é um judeu, mas necessário para
àqueles que ainda o vêem de forma
estereotipada e preconceituosa.
Não
sou o judeu que você imagina.
Não
sou rico,
Não
sou avarento,
Não
sou banqueiro,
Não
empresto dinheiro a juros
Não
tenho tino comercial,
Não
pretendo dominar o mundo,
Não
conheço nenhuma conspiração judaica que pretenda dominar o mundo,
Não
tenho nariz adunco,
Não
me julgo superior a ninguém,
Sou
brasileiro, de estatura mediana,
Amo
o Brasil,
Tomo
cerveja em boteco,
Vivo
na Bahia por escolha,
Adoro
samba e forró,
Sou
Flamengo e já tive uma nega chamada Teresa,
Tive
fusca e violão,
Sou
ao mesmo tempo, e em iguais proporções, judeu e brasileiro,
Vou
à Sinagoga, mas respeito todas as religiões,
Portanto,
não sou o judeu que você imagina,
E
a maioria dos judeus não é como você imagina.
*Roberto Leon Ponczek é Prof. de
Metodologia científica no Doutorado Multidisciplinar da UFBA.
Assino em baixo o seu texto; mesmo com tanta complexidade histórica de um povo, antes de opinar algo a respeito preciso conhecê-los profundamente.
ResponderExcluirAssino em baixo o seu texto; mesmo com tanta complexidade histórica de um povo, antes de opinar algo a respeito preciso conhecê-los profundamente.
ResponderExcluirE sempre bom conhecer um assunto para opinar sobre ele.
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