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Hebron, sempre e para a eternidade

Hebron, sempre e para a eternidade
por Jerold S. Auerbach

Quarenta anos atrás fui convidado a participar de uma viagem a Israel que transformou minha vida. Ironicamente, foi patrocinada pelo Comitê Judaico Americano, que fora certa vez resoluto em sua oposição a um estado judaico. 

Mas Yehuda Rosenman, um refugiado polonês que se tornou um executivo do Comitê, acreditava que até os acadêmicos americanos não afetados poderiam descobrir algo sobre si mesmos em Israel: o programa Birth Right.

Durante a viagem de duas semanas, fomos levados a Hebron para encontrar o Prefeito Ali Ja-abari. Dirigindo pela cidade, avistei uma enorme estrutura retangular de pedra com duas torres idênticas. O que é isso, perguntei ao nosso guia Tuvia. Me’arat haMachpelá, ele respondeu. Eu jamais ouvira falar daquilo. 

Após a palestra do Prefeito Ali Ja’abari, Tuvia sussurrou-me: “Pergunte a ele o que sua família fez em 1929.” Não entendi o significado da data, mas perguntei. 

O prefeito lançou-me um olhar severo e saiu. Deixei Hebron com perguntas não respondidas, ansioso para saber as respostas. Durante meu professorado Fulbright em Israel no ano seguinte, passei horas incontáveis caminhando pela Cidade Velha de Jerusalém, determinado a vencer minha ignorância sobre história judaica. Ao longo do caminho, por acaso fiz amizade, incentivada pela minha coleção de louça israelense antiga, com um árabe mercador de antiguidades.

Quando Ibrahim vendeu-me um antigo vaso de Hebron, sugeri casualmente que eu gostaria de visitar a cidade. Na semana seguinte ele fechou sua pequena loja e levou-me até lá com meus dois filhos. Caminhamos pela movimentada praça perto do Bairro Judeu abandonado e subimos as escadas para Machpelah. 
Hebron, sempre e para a eternidade
Àquela altura eu sabia que os muçulmanos, num exemplo antigo de roubo da identidade judaica pelo qual os palestinos tinham se tornado famosos na época atual, tinham convertido o reverenciado túmulo dos patriarcas e matriarcas bíblicos numa mesquita na qual os judeus foram proibidos de entrar durante sete séculos anteriores a 1967.

Guardei uma memória duradoura do olhar intrigado (real ou projetado) do soldado israelense que conferiu nossos passaportes quando entramos. Por que, imaginei que ele se perguntava, judeus americanos viriam a Machpelá com um árabe? Depois que relatei a estranha visita e um amigo meu da universidade, ele contactou um antigo colega que tinha no governo que arranjou um tour particular com um coronel das FDI como meu guia.

Numa fria manhã de inverno chegamos a Kiryat Arba, uma apinhada comunidade judaica na colina acima de Hebron. Uma graciosa jovem israelense – originária de Louisville – nos deu as boas-vindas ao seu apartamento. O coronel reconheceu instantaneamente – mas eu não – o retrato de Rabino Avraham Kook, o pai espiritual da síntese de Judaísmo e Sionismo que tinham inspirado o movimento de colonização sob a liderança de seu filho Rabino Tzvi Yehuda após a Guerra dos Seis Dias.

Dez minutos de nossa conversa, e então entrou um homem barbudo no apartamento. Nossas vidas, como soubemos, tinham seguido caminhos divergentes, ou distantes, do Judaísmo. Rabino Eliezer Waldman crescera no Brooklyn enquanto minha infância era passada no Queens. Ele estudou numa yeshivá para tornar-se rabino; eu frequentei um colégio liberal e me tornei professor de história. Ele fez aliya; eu me mudei para Boston.
Hebron, sempre e para a eternidade
Quando fiz uma pergunta inocente sobre assentamentos judaicos, ele respondeu secamente: “O maior assentamento judaico no Oriente Médio é o Estado de Israel.” Mas não fomos além de Kiryat Arba naquele dia. Com informação de que uma nevasca estava se aproximando, partimos prontamente. Mas eu insisti. No decorrer dos anos, retornei a Hebron para encontrar os intrépidos líderes sionistas que restauraram a vida judaica ali cinquenta anos depois que o assassinato de 67 judeus no massacre de 1929 (conhecido como Tarpat) deixara Hebron Judenrein.

Dentre eles estavam Rabi Moshê Levinger, o líder incansável da comunidade reconstruída; Elyakim Hatezni, um culto imigrante alemão, ferido na Guerra da Independência, que se tornou um competente advogado em Tel Aviv e sentiu a Guerra dos Seis Dias como uma “vitória milagrosa”, decidindo “Eu devo voltar a Hebron”, e Sarah Nachshon, que em 1979 liderou o retorno no meio da noite das mulheres e crianças a Beit Hadassah, a velha clínica médica no Bairro Judaico destruído.

Dentro do edifício há muito abandonado, as crianças cantaram alegremente v’shavu banim l’gvulam, a promessa de D'us de que os filhos de Israel retornariam a Zion. Quando um surpreso soldado israelense chegou para investigar, uma menina de quatro anos explicou: “Jacob, nosso antepassado, construiu para nós uma escada e entramos.”

Os judeus permaneceram ali desde então. E em toda parte de Hebron: desafiando as objeções do governo, Sarah Nachshon atravessou uma fileira de soldados israelenses para enterrar seu bebê morto no antigo cemitério judaico entre as vítimas do massacre de 1929.

Capturar essas experiências foi meu retorno a Hebron uma década atrás (mais uma vez numa viagem do Comitê Judaico Americano) para o Shabat Chaye Sarah, recentemente reconhecido pelo Primeiro Ministro Netanyahu como “Shabat Hevron”. É celebrado em Me’arat haMachpela em um dos dez dias todo ano quando os judeus apreciam uma entrada exclusiva no seu santuário mais antigo.

Milhares chegam de todas as partes do mundo para participar.

A leitura da Torá relata que Abraham comprou a caverna de machpelah como um local para enterrar Sarah. Um morador estrangeiro, sua determinação de pagar Ephron ao hitita o preço total de quatrocentos shecalim de prata iria assegurar para sempre o indisputável título legal. Foi o primeiro pedaço de terra possuído pelo povo judeu na sua terra prometida. Ali, segundo a narrativa bíblica, os patriarcas e matriarcas (exceto Rachel) também seriam enterrados.
A exuberante celebração de Shabat Chaye Sarah em Machpela é única. Na presença maciça de devotos judeus, preces e leitura da Torá ressoam através do salão onde os túmulos de Yitschac e Rivka estão localizados. Ficar entre os celebrantes judeus acima do próprio local que a narrativa bíblica descreve minuciosamente, na mais antiga cidade judaica do mundo, é uma experiência extraordinária.

Ao compartilhar isso dez anos depois com meu filho, tocamos o rolo de Torá com nosso talit quando ele passou. Foi um momento feliz. Neste próximo Shabat, quando o texto relata quando “A terra de Ephron em machpela… passou para Avraham como sua posse,” os judeus em toda parte são testemunhas da transação em Hebron que selou para sempre o futuro judaico na Terra de Israel.
Jerold S. Auerbach é autor de Judeus de Hebron: Memória e Conflito na Terra de Israel (Roman & Littlefield, 2009)

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