Nas últimas semanas, dois cemitérios judeus foram profanados, cerca de 50 centros comunitários e colégios sofreram ameaças de bomba e foram evacuados, e se multiplicaram os incidentes antissemitas, como pichações no metrô de Nova York que diziam que "os judeus deveriam estar nos fornos".
Em Israel aumenta a sensação de que Trump olha para outro lado e minimiza o ocorrido e, embora exista o cuidado nas esferas oficiais de não acusar seu governo, eles acreditam cada vez mais que é preciso exigir maior firmeza.

A diretora da ADL evitou acusar diretamente Trump e seu entorno, mas afirma que é "um caso clássico de abrir as comportas do antissemitismo, não apontando para os judeus, mas legitimando e não lutando contra o discurso de ódio de todo tipo", o que cria um clima no qual "aqueles que odeiam ganham coragem e se sentem com poder". Segundo a ADL, a onda antissemita começou durante a campanha eleitoral, com assédio a judeus e retóricas incendiárias.
Trump denunciou esses atos e se declarou "o homem menos antissemita do mundo", mas foi reprovado em Israel por ter agido tarde e com cuidado excessivo, talvez para não gerar insatisfação na parte de seu eleitorado mais próximo da extrema-direita. Quem também foi criticado foi o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que nesta situação e depois, quando a Casa Branca não mencionou os judeus como vítimas do Holocausto em sua cerimônia internacional, parabenizou Trump por "manter uma posição firme contra o antissemitismo".
"(O problema) não é resultado das políticas ou atitudes da Administração Trump, mas há extremistas nazistas e racistas que subiram na crista da onda de sua eleição e agora sentem que têm poder para fazer coisas que não fariam antes", explicou à Efe Zalman Shoval, ex-embaixador israelense nos EUA nos anos 1990.Diante de "incidentes diários", a Casa Branca não deve "limitar-se a fazer declarações e bons gestos, mas deve mobilizar toda a força da lei e da polícia contra grupos que realizam atos antissemitas ou racistas em geral", opinou Shoval. O diplomata acrescentou que Israel deve distinguir entre as relações com os EUA e a firmeza na defesa dos judeus, dos quais 40% vivem nesse país.
Mais enfático é o correspondente e editor-chefe nos EUA do jornal "Haaretz", Chemi Shalev, que acredita que "o presidente Donald Trump escolheu fechar os olhos, no melhor dos casos, ou está sendo ajudado e instigado, no pior".Para o jornalista, Trump se cercou de "apologistas, muitos deles judeus", que "lidam com os ataques superficialmente, ridicularizam a crescente apreensão judaica e absolvem Trump de toda cumplicidade" na "explosão de animosidade contra os judeus".
Shalev lembrou que Trump "esteve brincando com fogo antissemita desde que começou sua campanha presidencial" e "enviou mensagens subliminares" de tolerância aos que odeiam os judeus. "Estamos preocupados. São incidentes graves, mas temos fé que as autoridades dos EUA encontrarão os culpados e lutarão contra isto. Trump declarou que não é antissemita e se posicionou contra essas ações", disse à Efe a porta-voz das Relações Exteriores de Israel, Michal Maayan.
O líder da oposição israelense, Isaac Herzog, advertiu que Israel deve se preparar para uma onda de imigrantes judeus que provavelmente deixarão EUA e França. Um funcionário israelense que pediu anonimato declarou à Efe que há inquietação pelo fato de que algumas pessoas que cercam Trump "fazem parte de organizações preocupantes", mas ressaltou que seu entorno também tem influência da comunidade judaica, incluída a de seu genro e assessor, Jared Kushner.