Em sua obra “Bem-vindo ao judaísmo”, antes de iniciar sua apresentação do judaísmo, o recém-falecido Rabino Maurice Lamm Z”L (de abençoada memória) faz a “pergunta das perguntas”: “QUEM SOMOS?” E ele prossegue: “Antes de prosseguir com a descrição dos ideais e costumes do judaísmo, convém que nos apresentemos. Afinal, quem são os judeus?” E ele diz como fará isso: “Iremos responder-lhe dizendo em que acreditamos, quem é nosso Deus, o que Ele solicita de nós, quais são nossas metas e costumes, e por que os judeus foram escolhidos para cumprirem uma missão eterna e são o objeto de perpétuo preconceito.”
Nós, o povo de Israel, somos os descendentes dos patriarcas Abrahão, Isaac e Jacob e das matriarcas Sara, Rebeca, Raquel e Léa, aos quais Deus escolheu e com quem Ele fez Sua aliança eterna. Eles, que falaram com Deus e acreditaram profundamente em Sua Providência, moldaram o futuro do povo judeu. Nós temos mais de três mil anos, mas recebemos de Deus a promessa de um futuro ilimitado, “a semente de eternidade que Ele plantou em nós”. E nos esforçamos para permanecermos fiéis à crença dos antecessores.
Após sucessivos períodos de fome na terra de Canaã (a terra prometia a Abrahão), por volta do ano 1500 a.e.c., Jacob desceu ao Egito, onde seu filho, José, tornara-se vice-rei. Dois séculos depois, um faraó que “não conhecera José”, escravizou os judeus e afogou seus primogênitos por medo de que crescessem, prosperassem e acabassem derrubando a monarquia. Deus então redimiu os judeus desta escravidão no exílio e os trouxe para o deserto. Lá, ao pé do Monte Sinai, Deus revelou-Se em uma experiência mística que mudou a história do mundo. Moisés, o maior profeta judeu, aprendeu a Torá e sua interpretação, e trouxe as duas tábuas com os Dez Mandamentos nela gravados. Deus primeiro fez sua aliança com Abrahão e depois uma aliança recíproca e obrigatória, formal e pública, com todo o povo judeu, no Monte Sinai.
Após a redenção do Egito e a Revelação no Sinai, os judeus atravessaram o deserto em direção à Terra Prometida, mas eles não souberam lidar com a liberdade recém-adquirida, a abundância de comida, as nuvens que os guiaram e protegeram de dia e de noite; e eles marcaram sua marcha com recalcitrância e rebelião, com defeitos e futilidades. Mesmo depois das várias intervenções milagrosas que Deus fez a seu favor, eles ainda duvidaram de que Ele os conduziria em segurança a Canaã e, por sua falta de fé, foram condenados a morrer depois de vagarem errando durante quarenta anos no deserto. A geração seguinte, com a ajuda de Deus e sob a liderança de Josué, conquistou a Terra que lhes foi prometida. O povo de Israel, a Torá de Israel e a Terra de Israel, todos escolhidos por Deus, estavam agora unidos.
A seguir, a nossa história tem o desmembramento e consolidação alternados destas três escolhas Divinas – o povo cumprindo a Torá e prosperando na Terra, depois esquecendo-se da Torá, virtualmente se autodestruindo, sendo exilado da Terra e depois retornando em triunfo espiritual. É uma série impressionante de escaladas até os picos mais elevados e tropeços até os pontos mais baixos do espírito; de exílio e retorno à Terra; castigo e recompensa; de dois Templos construídos e destruídos; de imensas contribuições aos ideais e esperanças da civilização, e dos inacreditáveis sofrimentos que sempre atingiram o judeu, instando-o a desistir do empreendimento de fé de Abrahão, a Lei Mosaica e a missão profética. É uma marcha dinâmica e criativa através das gerações, dos profetas e sacerdotes, eruditos e escribas, rabinos e juízes, pessoas pobres e financistas, pessoas que realizaram muito e indivíduos comuns, numerosos estudiosos e um punhado de guerreiros.
Perdemos milhões de pessoas durante os longos e sombrios séculos de diáspora – especialmente durante o exílio de 1900 anos entre a destruição do Templo e Jerusalém no ano 70 e.c. Mas o judaísmo - a Torá, a Terra de Israel, o povo eleito - sobreviveu, sempre redimido pela mão estendida de Deus que dá e tira - e devolve.
Nós judeus caracteristicamente temos orgulho de nossa herança, embora nem sempre a mantenhamos fielmente. Acreditamos ser os herdeiros de uma gloriosa tradição, que consideramos a mais magnífica existente nos anais da humanidade. Dentro de nossos ossos está a medula dos profetas e filósofos. Em nossas veias corre o sangue de sábios como Hilel e Rabi Akiva, de Rashi e Maimônides, de mártires e homens santos, de mestres e pensadores, pioneiros e heróis. Em nossos corações bate o ritmo dos martelos dos grandes construtores dos dois Templos Sagrados, de uma Terra Santa, uma cultura imortal, de sinagogas, escolas e instituições filantrópicas. Não é muito difícil para a maioria de nós acreditar que o povo que escolheu Deus foi escolhido por Deus.
Há lições importantes a serem aprendidas de nossa história.
Em primeiro lugar, os judeus originaram-se em forma de uma família que cresceu para tornar-se uma nação. Isto é importante não só como um dado sócio-político curioso, mas como base para a ética judaica. Isto sublinha a ideia de Ahavát Ha’Rea, amor pelo seu semelhante, pelos companheiros judeus, por todas as pessoas justas, como membros da mesma família. Da mesma forma que o amor familiar vai além dos fatores de união, como passado comum e metas compartilhadas, e é também uma ligação existencial, assim também devemos amar o próximo porque foram criados à imagem de Deus, o Pai de toda a humanidade. Até hoje, esta nação de judeus é denominada “Casa de Israel”.
Em segundo lugar, esta família não cresceu somente pelo aumento natural de parentes consanguíneos, mas devido também àqueles que entraram nela por meio do “casamento” e se consideram parte da família - os convertidos que esposam a ideia de Deus e da Torá e se unem a este povo. Eles enriqueceram e aumentaram a família original de judeus.
Em terceiro lugar, diferentemente de outros povos, o povo judeu tornou-se uma nação no momento em que adquiriu liberdade, antes de ter uma Terra, quando saiu do Egito quarenta anos antes de conquistar a Terra Prometida. O simples fato dos judeus terem sido reunidos por ideias antes de terem uma Terra pode muito bem ter sido o gerador de sua capacidade de sobreviver durante séculos sem seu lar, quando possuíam somente a Torá em comum.
Em quarto lugar, esta família tornou-se uma nação, foi escolhida por Deus, como o foram sua Terra e sua Lei, para testemunhar Sua lei moral na Terra e trazer à civilização os conceitos de fraternidade entre os homens e as famílias de nações. Ao serem escolhidos, eles passaram a carregar o fardo de serem um povo antes de experimentarem os prazeres e a segurança da nacionalidade.
Excelente artigo
ResponderExcluirGostei muito do artigo! Parabéns!
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