Uma israelense de 19 anos já passou mais de três meses em uma prisão militar, no que segundo seus defensores é a maior sentença já aplicada a alguém que se recusou a alistar por objeção de consciência.
Tair Kaminer se recusa a fazer o serviço militar obrigatório porque é contra a ocupação militar por Israel de terras palestinas, que já dura quase 50 anos.
Tami Kaminer, 19, está presa há mais de três meses por se recusar a servir no Exército de Israel.
Apesar de não ser o primeiro caso de objeção de consciência, sua longa pena de prisão —juntamente com uma coluna de jornal que ela escreve— está atraindo mais atenção para seu caso.
Em entrevista por telefone da cadeia, Kaminer disse que está pronta para servir ao país, mas não em uma unidade militar.
Ela disse que quer uma dispensa e entrar no programa de "serviço nacional" de Israel, alternativa civil geralmente reservada a mulheres religiosas em idade militar, permitindo que trabalhem como voluntárias em escolas e hospitais.
Kaminer disse que cresceu em uma família na qual se discutia muita política, e que há muito tempo é contra a ocupação da Cisjordânia por Israel.
Mas sua decisão de não se alistar ganhou força depois que ela passou um ano, após o colégio, trabalhando como voluntária com crianças em Sderot, uma cidade pobre do sul israelense na fronteira com a faixa de Gaza.

Ela disse que viu muito "ódio" das crianças de Sderot contra os árabes e concluiu que as crianças de Gaza têm um "bom motivo" para sentir o mesmo em relação aos israelenses.
"Estamos criando gerações de ódio nos dois lados, o que só vai piorar a situação", disse ela. "Se não pararmos com isso, devemos ser contra."
OBRIGAÇÃO
Em Israel, o serviço militar é obrigatório para a maioria dos judeus. As mulheres têm de servir dois anos e os homens, três.
Dispensas são concedidas a várias categorias, como pessoas com problemas psiquiátricos, estritamente religiosas e pacifistas, segundo o Exército. As que recebem dispensa têm a opção de entrar no programa de serviço nacional.
Enquanto o Exército dá dispensas aos pacifistas, que se opõem à violência ou à guerra em todas as suas formas, adota uma posição dura para os objetores de consciência, que se recusam a servir por motivos políticos.
Os defensores de Kaminer dizem que ela passou ao todo 111 dias atrás das grades, o período mais longo já aplicado a uma mulher objetora. Geralmente há menos de dez casos como esse por ano, segundo o Exército.
O grupo Mesavort, que presta auxílio aos objetores de consciência, diz que a pena de prisão mais longa foi dada a um homem que passou 23 meses na cadeia há mais de uma década.
Na maioria dos casos, os objetores acabam sendo considerados incapazes de servir e são dispensados, disse a organização.
Em um comunicado, os militares informaram que estão aplicando a lei. "Em relação a Tair Kaminer, a recruta se recusou a servir e portanto foi presa", dizia.
Sua atual pena de prisão deverá terminar em 28 de maio, mas ela poderá pegar mais tempo se novamente se recusar a servir. Ela já foi condenada a cinco períodos de 20 a 30 dias cada um.
Emanuel Gross, um ex-juiz militar que hoje é professor de direito na Universidade de Haifa, chamou o caso de "infeliz", mas disse que simplesmente atender aos desejos de Kaminer estabeleceria um precedente perigoso.
"Ela está levando a política para dentro do Exército. O Exército não quer permitir que ninguém leve para o Exército suas ideias políticas e as considere uma razão para não obedecer às ordens legais", explicou ele.
"Se o Exército permitir que qualquer jovem escolha o modo como prefere servir, criaria confusão com a ideia de igualdade que existe em nossa lei", acrescentou.
COLUNAS
Kaminer disse que divide uma cela com outras sete jovens em uma prisão militar no norte de Israel. Segundo ela, acordam às 5h para uma chamada e ela passa a maior parte do dia na cela, lendo ou conversando com as colegas prisioneiras.
Pode fazer telefonemas durante vários minutos por dia e sua família pode visitá-la a cada duas semanas. Na tentativa de chamar a atenção para sua causa, Kaminer também escreveu colunas sobre sua experiência no jornal "Haaretz".
Em uma delas, a jovem contesta a ideia de que o Exército está acima da política. "O Exército é um instrumento político que permite que o governo continue a ocupação de outro país, e durante anos sua principal tarefa tem sido o controle, e não a defesa", escreveu.
Em outra, Kaminer comentou que ela e suas colegas vestem uniformes militares americanos usados. A prisioneira dirigiu a coluna a "Mr. Smith", o soldado que usou suas roupas antes.
"Sua camisa não chegou até mim por acaso, seu país faz um pouco mais que apenas nos dar seus velhos uniformes.
Agora que você sabe, não o incomoda que suas roupas e seu dinheiro estejam na verdade perpetuando a ocupação dos palestinos, a falta de segurança em Israel? Você dorme bem à noite sabendo disso?"
Kaminer disse que esperar ser solta em breve, mas não se arrepende do que está fazendo.
"Não fui realmente afetada por isso quando era mais jovem, mas ver as pessoas que são afetadas me fez compreender que as políticas deste governo favorecem a situação atual. E isso é algo que realmente me revolta", disse.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES