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Silvinha Alves e Nina, sua filha (Foto: Ian Rassari/Facebook) |
Mulher negra sofre preconceito ao andar de ônibus e relato viraliza nas redes sociais "Reflitam, se fôssemos brancas, loiras, essas duas situações iriam acontecer?", dispara
Mãe e negra, Silvinha Alves passou por duas situações extremamente desconfortáveis ao utilizar o transporte público, em Natal.
No relato viral, publicado nas redes sociais nessa semana, ela descreve o motivo de sua indignação. Primeiro ofereceram moedas a ela por confundirem Silvinha com uma pedinte.
Em seguida, foi negada a entrar no ônibus pela porta traseira, apesar de ser impossível passar pela catraca carregando a filha. O motorista custou a acreditar que ela pagaria pela passagem... O texto já tem mais de 8 mil compartilhamentos, 1, 2 mil comentários e 96 mil reações. Leia na íntegra:
Gostaria de compartilhar com vocês o que aconteceu comigo nessa semana que passou:
Eu estava esperando o ônibus com a minha filha, quando percebi uma mulher estava me oferecendo moedas. Eu perguntei: "O que é isso?" Ela disse: "Uns trocados pra você comprar alguma coisa pra sua filha". Fiquei sem ação e apenas respondi: “Obrigada, mas eu não preciso. ” Ela: “Você não quer? ” Eu: “Não! ” Até que finalmente se afastou não acreditando que eu tinha recusado as moedas.
No dia seguinte, saí novamente com Nina, minha filha. Eu ando com Nina envolvida em um tecido, muitos conhecem esse tecido como Sling, e sempre para entrar no ônibus eu peço pra abrir a porta traseira, pois com Nina no tecido não tem como passar pela roleta. Desta forma eu entro, me dirijo até o motorista, pago a passagem e movo a roleta com as mãos. Normal. O ônibus parou, e o motorista me disse que não ia abrir a porta traseira, disse que não podia, que as câmeras estavam filmando. Eu respondi: “Mas como assim? Todos os motoristas fazem isso pra mim? ” Ele respondeu: “Mas eu não faço! ”. Fiquei atônita, imaginei ficando sozinha com minha filha na parada, sem ter como ir para casa. Uma mulher gritou: “Motorista ela está com uma criança! ”. Alguém dentro do ônibus gritou “Motorista ela vai pagar! ” Quando ele ouviu isso, finalmente disse: “Ok, eu vou abrir, pode ir lá”
Reflitam, se fôssemos brancas, loiras, essas duas situações iriam acontecer?
Porque aquela mulher achou que eu precisava de moedas pra comprar “alguma coisa” pra minha filha? Porque o motorista achou que eu não iria pagar a passagem? Porque outro dia a moça da farmácia me perguntou com cara de nojo “Você está deixando o cabelo da sua filha igual o seu? ”. Ah, o racismo não existe no Brasil né... nós vemos racismo em tudo. Sim! Realmente o racismo está em tudo! No comportamento das pessoas, nos olhares, nos discursos torpes, no sistema de educação, nos padrões de beleza, está na história desse país...sim, está em tudo!
Procurar entender e saber mais sobre as questões raciais é importante, enaltecer a identidade e ancestralidade negra muito mais ainda!
Depois do que aconteceu, entrei no ônibus totalmente envergonhada, todos ali me olhavam. Até que um moço estiloso entrou, percebi que olhou para nós e sentou. De repente ele virou e me disse: "Moça, estou tomando coragem para falar, você e sua filha são incríveis! São lindas! Eu leio e acompanho o empoderamento negro, sou fotógrafo, faço parte de um projeto que faz fotos do cotidiano em Natal, fotos inesperadas, não me contive ao ver vocês. Por favor, posso fazer algumas imagens de vocês duas?" Com certeza aceitei e conversamos bastante sobre essas questões que muitas mães negras passam no dia-a-dia, sobre a importância de ter sabedoria em criar nossas crianças negras em um sistema racista. Nem contei pra ele o que aconteceu comigo antes dele entrar no ônibus, achei melhor falar agora que as fotos ficaram prontas e agradecer a você Ian Rassari por me encher de alegria nesse dia e parabéns pelo lindo projeto de fotografia, muitas histórias ainda vão ser contadas através dessa iniciativa e inspirar as pessoas!
Fonte: Glamour