Meninas judias trazidas do Iémen
para Israel são cumprimentadas por um familiar em Beersheba
| REUTERS/BAZ
RATNER
Em segredo, na sua maioria, desde
os anos 1940 e com a ajuda dos EUA, o seu principal aliado, Israel fez várias
operações para pôr a salvo judeus em países muçulmanos. O Iémen foi o último
caso.
"Talvez um dia façamos um
filme. Estou a falar de uma operação secreta num ambiente hostil. Não é fácil
transportar pessoas facilmente reconhecíveis como judeus", disse Yigal
Palmor. Foi assim que o porta-voz da Agência Judaica (AJ) justificou, no passado
dia 21 de março, o secretismo que envolveu a chegada a Israel de 19 judeus
iemenitas.
Salman Dahari, o rabino da
comunidade, estava entre os recém-chegados. Transportava os rolos da Torah que,
disse, "passaram de pai para filho" na sua família e terão entre 500
e 600 anos de existência. Com a partida deste grupo, a comunidade judaica no
Iémen, com cerca de dois mil anos, fica reduzida a umas meras 50 pessoas que
quiseram ficar naquele país muçulmano, que vive em guerra há um ano.
Tapete Mágico
A chegada destes 19 judeus fecha
um ciclo: foi do Iémen que partiu a primeira grande emigração judaica para
Israel, de junho de 1949 a setembro de 1950, na "Operação Tapete
Mágico" ou "Operação nas Asas das Águias".
Apresentada por Israel como
absoluto sucesso e pela crítica como "fracasso que penalizou centenas de
judeus iemenitas", a operação resgatou 49 mil judeus, dos 55 mil que
viviam no Iémen e oito mil na colónia britânica de Aden. O seu transporte, de
Aden até Israel, implicou 380 voos de aviões norte-americanos e britânicos.
Esther Meir-Giltzenstein, no
livro O Êxodo dos Judeus Iemenitas, revela que eles "chegavam doentes e
esfomeados ao campo de trânsito [sem condições] na cidade portuária de Aden,
após caminharem centenas de quilómetros". Um total de 850 perderam a vida.
E as mortes, em especial de crianças, continuaram em Israel por
"incompetência no planeamento, apatia e abandono". "Por questões
sanitárias", conta, as crianças eram retiradas aos pais; muitas morreram
ou foram dadas como mortas e adotadas por casais sem filhos o que levou,
depois, ao "caso das crianças iemenitas".
Ali Babá
Entre 1950 e 1952, Israel apostou
na "redenção" dos judeus do Iraque, comunidade que se crê descendente
de deportados da Judeia por Nabucodonosor em 586 a.C. Na década de 1940,
contava com 135 mil pessoas, muitas delas foram perseguidas pelos muçulmanos
após o Plano de Partilha das Nações Unidas em 1947 (divisão da Palestina em
dois estados, judaico e árabe) e a criação de Israel.
É nesta conjuntura que Israel, criado
com a intenção de ser um lar judaico, realiza a "Operação Ezra e
Nehemiah" ou "Operação Ali Baba". Fá-lo em segredo, via Irão,
porque o Iraque proibia a emigração judaica. Em 1950, Bagdad dá um ano aos
judeus para saírem desde que renunciem à cidadania. Israel não perde tempo: os
voos fazem-se via Chipre até 1951, depois são diretos. E quando a operação
acaba em 1952, o Iraque tem só seis mil judeus.
Virgens sírias
A "ascensão" (à Terra
Prometida), uma das traduções para aliyah, também ocorreu a partir da Síria. Em
novembro de 1971, um comando da Mossad (serviços secretos externos israelitas)
chegou à capital síria, Damasco. Tinha como missão resgatar jovens judias que
não conseguiram fugir para Israel e, numa comunidade envelhecida, era difícil
arranjar marido.
Algumas fugiram pelo Líbano;
outras foram apanhadas, torturadas e mortas pela polícia de Hafez al-Assad (pai
do atual presidente sírio Bashar al-Assad).
A notícia desta violência levou a
primeira-ministra israelita da altura Golda Meir a decidir que o resgate das
jovens seria feito por israelitas. Uma tarefa que agentes secretos consideraram
menor, segundo o livro Mossad de Michael Bar-Zohar e Nissim Mishal, porque a
Mossad "não é uma agência matrimonial"... Com a ajuda da Esquadrilha 13
da Marinha israelita, a "Operação Cobertor" acaba em abril de 1973 e
fez sair da Síria 120 jovens judias.
Rainha do Sabá
"Se os israelitas tivessem
ficado calados mais um mês, teria sido possível salvar todos os judeus da
Etiópia", desabafou um responsável em Washington. Este desabafo, ou o ter
ficado impressionado com a Operação Moisés, levou o então vice-presidente
norte-americano George H.W. Bush (que depois seria presidente dos Estados
Unidos entre 1989 e 1993) a agir.
Semanas após a gafe de Shimon
Peres (primeiro-ministro de Israel entre 1977 e 1996), os Estados Unidos
lançaram a Operação Rainha do Sabá: sete Hércules da Força Aérea aterraram no
Sudão e agentes secretos da CIA que iam a bordo ajudaram ao resgate das cinco
centenas de judeus etíopes que transportaram para a base militar israelita no
deserto do Negev.
Operação Salomão
Este foi o resgate mais dramático
de milhares de judeus da Etiópia, em plena guerra civil. Em maio de 1991, o
governo etíope de Mengistu Haile Mariam estava à beira do colapso e fez um
acordo de última hora com Israel por intermédio dos Estados Unidos: Israel
pagaria 33 milhões de dólares pela saída dos judeus e os norte-americanos
garantiam asilo político a responsáveis do governo de Adis Abeba. Um acordo de
tréguas limitadas foi feito com os rebeldes que cercavam a capital.
Em 34 horas, 14 400 judeus
"voaram" para Israel em aviões da companhia nacional israelita El Al
e da Força Aérea do país. Bateu-se o recorde: um boeing 747 da El Al descolou
de Adis Abeba com 1087 judeus a bordo; ao chegar a Israel levava 1088. Um bebé
nasceu durante o voo.