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O Necessário Perdão a Spinoza

Roberto Leon Ponczek
AMSTERDÃ - Mais de 350 anos após a comunidade judaica desta cidade excomungar Baruch Spinoza e proibir seus escritos para a eternidade, livros do filósofo estão à venda na loja de recordações da sinagoga da comunidade.

Spinoza, um filósofo judeu nascido na Holanda, que lançou as bases intelectuais do Iluminismo e é por vezes referido como a história do primeiro judeu secular, foi banido por judeus portugueses de Amsterdã, em 1656, por heresia. O fato de que as suas obras já estão sendo vendidas pela própria comunidade da qual ele já foi condenado ao ostracismo é citada por alguns como evidência de que atualmente a proibição é completamente anacrônica.

Mas, para os admiradores do filósofo (como eu), o fato de que ele nunca ter sido formalmente readmitido permanece uma mancha na comunidade e reforça a visão de Spinoza de que o judaísmo (ortodoxo) é uma fé dogmática.
É por isso que centenas deles estiveram reunidas para um debate histórico sobre a possibilidade de levantar formalmente a proibição e, talvez, até mesmo do efeito da reabilitação simbólica de Spinoza no seio do povo judeu.


"Suas ideias são uma parte da herança holandesa", disse Ronit Palache, um judeu secular holandês, de 30 anos, e auto descrito como aficionado por Spinoza e que organizou o simpósio. "O tempo para levantar a proibição está muito atrasado. É uma marca negra na história judaica."
O simpósio, um evento com lotação esgotada, que contou com um discurso do chefe da comunidade judaica portuguesa, holandesa e principais estudiosos sobre Spinoza de quatro continentes.

Já não é sem tempo, pois a Igreja Católica há muito redimiu Galileu Galilei, pedindo perdão pelo absurdo de tê-lo excomungado. Como disse Ronit Palache, nós judeus estamos atrasados em relação aos católicos, pois temos a obrigação moral de pedir perdão a Baruch Spinoza pelo absurdo de tê-lo banido.

Ninguém pode ser condenado por defender novas ideias, mas são estas as que mais assustam as instituições. O físico italiano defendeu ferreamente a ideia correta de que a Terra não é o centro do Universo, mas um pequeno planeta que gira em torno do Sol, criando a ciência moderna. Spinoza defendeu a bela ideia de que Deus não é um soberano sentado nas nuvens, mas é a Natureza Naturante com suas infinitas e perenes leis causais que geram todas as coisas existentes. E também é a Natureza Naturada que são essas próprias coisas em constante movimento e transformação. Todos os homens e todas as coisas são divinas. Não porque foram criadas por D’us, mas porque são modos de ser e existir de D’us. Ideias estas que estão muito próximas da Cabalá e da ideia do tzitzunim (contrações de D’us).

Portanto, ninguém precisa ser um grande profeta para ter revelações divinas, pois todos somos pequenos profetas que vibramos em ressonância com Sua Existência. Essas foram as principais ideias que levaram a ultra ortodoxa comunidade sefaradita de Amsterdã a bani-lo com um Cherem (sentença de banimento) extremamente cruel.

O grande Primeiro Ministro de Israel, David Ben Gurion era um spinozista convicto e tentou redimi-lo, mas esbarrou na ortodoxia do Grande Rabinato de Israel (leiam o maravilhoso diálogo de Ben Gurion com Amós Oz emSobre Amor e Trevas). Mais de um século antes da revolução francesa, Spinoza fundou o Iluminismo e tornou a religião e a filosofia compatíveis com a ciência moderna, influenciando profundamente Albert Einstein e sua Teoria da Relatividade.


Precisamos lutar contra os pequenos, mas renitentes bolsões de intolerância e obscurantismo que ainda se alojam no interior das ortodoxias religiosas, pois, sem dúvida, Spinoza pode ser considerado o nosso Galileu e Rousseau, juntos!
Termino com um poema de Albert Einstein dedicado a Spinoza:

Como amo esse nobre senhor,
Mais que expressar sou capaz,
Com sua auréola de esplendor,
Temo, porem que ficará a sós
.
(Albert Einstein, Zu Spinozas Ethic)

*Roberto Leon Ponczek é professor de Filosofia e Metodologia da Ciência no Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar da UFBA. É membro da SIB e do Chabad Salvador. Seus pais Tadeusz e Wanda Ponczek sobreviveram ao Holocausto e emigraram para o Brasil depois da Guerra.

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2 Comentários
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  1. Uma linda reflexão, Roberto ! Acho interessante ver como a filosofia do Spinoza tem uma mensagem tão relevante em nossos dias.

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  2. Uma linda reflexão, Roberto ! Acho interessante ver como a filosofia do Spinoza tem uma mensagem tão relevante em nossos dias.

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