Fonte: TPS / Texto: Alexander J. Apfel / Tradução: Graziela Dreilich
JERUSALÉM (TPS) - A Suprema Corte de Israel adiou recentemente a sua controversa decisão de demolir a sinagoga Ayelet Hashachar na comunidade de Givat Ze'ev, fora da cidade de Jerusalém. O Tribunal decidiu que a sinagoga, marcada para ser demolida em 17 de novembro, foi construída ilegalmente sobre propriedade privada palestina.
O assunto tem sido o centro de muitos debates entre as autoridades israelenses, que temem que, em meio à turbulenta situação de segurança atual, simpatizantes da sinagoga tentem se vingar e responder violentamente à demolição.
Com o prazo final se aproximando, os manifestantes não estão dando sinais de que recuarão de suas posições. Em uma entrevista para a TPS, David Harush, o zelador (gabbai) de Ayelet Hashachar explicou por que a comunidade é contra a demolição da sinagoga, que serviu Givat Ze'ev nos últimos 20 anos.
Harush disse à TPS que, apesar da Suprema Corte de Israel afirmar que a sinagoga foi construída de forma ilegal, a terra sobre a qual está instalada foi na verdade comprada legalmente por $ 68.000. Harush disse que a comunidade pode provar isso com contratos originais e outros documentos juridicamente válidos, mas que o Supremo Tribunal as está privando do direito de defesa.
"A Suprema Corte, que aliás é extremamente esquerdista, não se preocupa em verificar os detalhes, então eles simplesmente dizem que destruirão o edifício em lugar de examinar cuidadosamente os fatos. Mas nós compramos esse terreno", disse ele à TPS. "Em vez disso, apressa-se a uma decisão e não nos dá tempo para ir aos tribunais. É por isso que estamos indignados com essa situação", avaliou Harush.
Ele também insistiu na existência de um duplo padrão moral, citando o modo como a Suprema Corte tem deliberado a respeito das demolições de habitações de terroristas. "Eles nem sempre destroem as casas dos terroristas. Costumam dizer: 'vamos esperar para ver o que fazer'. Então por que não vão esperar agora para ver o que está acontecendo com a sinagoga?", perguntou Harush.
O duplo padrão moral é visível, ressaltou Harush, ainda mais quando consideramos as pesquisas da ONG Regavim, cuja missão é "garantir a preservação e a utilização responsável e legal das terras de Israel e o retorno do Estado Democrático de Direito a todas as áreas e extensões do território".
E de fato, Ari Briggs, o diretor de Relações Internacionais da Regavim, afirmou que o duplo padrão moral do Supremo Tribunal de Israel é notório entre políticos e profissionais de Direito israelenses. Briggs disse ainda que há inúmeros templos de outras religiões para os quais existem ordens de demolição. No entanto, segundo ele, as únicas ordens já executadas foram apenas as referentes às sinagogas.
"Temos exemplos claros de mesquitas construídas em terras como as de Negev. Existe uma cidade chamada Al Zarnog, que é uma vila construída ilegalmente em terras privadas de Israel e sabemos de mesquitas construídas por lá. No entanto, mesmo em situação ilegal e com ordens de demolição emitidas, o Estado nunca executa de fato tais mandados naquele local", disse Briggs à TPS.
Ele descreve isso como uma política trivial do governo, a de não cumprir a lei igualmente contra mesquitas irregulares. Sobre sua explicação para esse considerado por ele evidente duplo padrão moral, ele citou a pressão internacional e ONGs que forçam as autoridades israelenses a se preocupar em demasia com suas reputações. "Isso faz com que a aplicação da lei seja seletiva", comentou.
Briggs afirmou que as complicações jurídicas da sinagoga em Givat Ze'ev poderiam ser discutidas em um tribunal mais adequado e que, independentemente de qual fosse a decisão final, o maior ressentimento de agora se deve sobretudo à discriminação, ao tratamento desigual.
"Se neste caso há ou não mérito, essa não é a questão. Se o governo estivesse implementando tal lei igualmente entre as religiões, sem discriminar os judeus, não veríamos problema algum", ele concluiu.
Foto: Ehud Amiton/TPS