A história verÃdica de um judeu que se tornou pugilista,
para sobreviver nos campos de concentração alemães, é contada numa banda desenhada
que o autor alemão Reinhard Kleist apresenta neste fim-de-semana, no festival
AmadoraBD.
Com a história a começar em 1939, quando a Alemanha invade a
Polônia, "O pugilista" relata a vida de Hertzko Haft, judeu polaco
que foi enviado, ainda adolescente, para um campo de trabalhos forçados e
campos de extermÃnio, onde foi escolhido para entreter as tropas nazis em lutas
de boxe.
Numa das viagens entre campos de concentração, Hertzko Haft
conseguiu escapar e chegar aos Estados Unidos, onde ganhou a vida como
pugilista profissional, tendo enfrentado o norte-americano Rocky Marciano.
Hertzko Haft morreu em 2007, mas ainda assistiu ao
lançamento da biografia, escrita pelo filho - que o descreveu como uma pessoa
cruel e violenta -, e que deu o mote à banda desenhada "O pugilista",
de Reinhard Kleist, e cujos desenhos originais estão numa exposição no festival
AmadoraBD.
Em entrevista à agência Lusa, Reinhard Kleist contou que
ficou fascinado pela "força dramática" da história do pugilista,
sobretudo porque é um desafio à capacidade de empatia do leitor por relatos
relacionados com judeus e o Holocausto.
"Hertzko não é uma boa pessoa, é alguém que carrega
muita culpa nos ombros, que matou outras pessoas, que não agiu, digamos assim,
de uma forma correta com a famÃlia e com quem não é fácil
identificarmo-nos", explicou o autor.
"O pugilista" começou por ser publicado em tiras
num jornal alemão, em 2011, e só depois em álbum. Atualmente está publicado em
vários paÃses, incluindo Itália, Indonésia, Brasil, República Checa e agora
Portugal.
Reinhard Kleist tem várias obras de banda desenhada editadas,
algumas das quais em registro biográfico. Já escreveu e desenhou sobre os
músicos Johnny Cash e Elvis Presley ou sobre o histórico lÃder cubano Fidel
Castro. Prepara atualmente um livro sobre o músico Nick Cave.
Reinhard Kleist não tem propriamente uma lista de
personalidades que queira retratar em banda desenhada. "Percebi que gosto
de trabalhar de uma forma que relacione ficção e fatos reais. Além disso, há
por aà tantas histórias boas, que é difÃcil escolher uma para contar".
O autor alemão gosta sobretudo de personagens que tenham
algo sombrio ou dramático nas histórias de vida; e a banda desenhada é um gênero
que ajuda a transmitir tanto um lado emotivo como factual.
"Os leitores gostam de saber coisas sobre História ou
sobre personalidades e paÃses distantes, e gostam de saber isso através da perspectiva
de um artista".
No sábado, além do lançamento oficial de "O
pugilista", no festival AmadoraBD, Reinhard Kleist ainda fará uma sessão
de desenho em tempo real, no Musicbox, em Lisboa, em simultâneo com uma sessão
de DJ de Marla Singer, apenas com músicas de Nick Cave e Johnny Cash.