Negros e Judeus na Praça Onze

Negros e Judeus na Praça Onze

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Negros e Judeus na Praça OnzeLivro resgata história de negros e judeus na Praça Onze/RJ

Nas quatro primeiras décadas do século 20, negros vindos da Bahia e da região cafeeira do Estado do Rio e judeus do Leste Europeu dividiam ruas, escolas e mesmo casas no bairro Praça Onze. Eles vendiam mercadorias, produziam boa música e boa comida. Ao redor da praça, os judeus criaram sinagogas e escolas. 

Esta história quase esquecida é contada pela jornalista e pesquisadora Beatriz Coelho Silva, que busca reconstituir essa convivência, com depoimentos, dados biográficos e estatísticas no livro "Negros e Judeus na Praça Onze. A história que não ficou na memória" (Editora Bookstar), que está sendo publicado pelo sistema de crowdfunding. “Meu interesse é mostrar que negros e judeus, juntos na luta pela sobrevivência, criaram importantes elementos da cultura brasileira”, explica a autora. “Na Praça Onze, havia seis jornais em ídish e muitas instituições judaicas: a Federação Sionista, o Grêmio Juvenil Kadima, a sinagoga Beith Iaakov, a Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e o Centro Obreiro Morris Wintschevsky”.

A coloração política era variada, mas todos se uniam nas causas comuns, como em setembro de 1929, quando 3.000 judeus cariocas foram em passeata até o Consulado Britânico protestar contra os pogroms na Palestina. Grandes conglomerados da indústria têxtil começaram neste período, cuja clientela chegava até os subúrbios e zona norte do Rio de Janeiro. No carnaval, a cada noite, 40 mil pessoas se espremiam na praça. Era lá que desfilavam, até os anos 1930, as primeiras escolas de samba, entre elas a Mangueira e a Portela

Em 1942, o bairro foi demolido para construção da Avenida Presidente Vargas, mas entrou para a mitologia carioca. Muito se fala da Praça Onze em sambas clássicos e textos acadêmicos.
Negros e Judeus na Praça Onze

A historiadora e arquiteta Fânia Fridman também atribui a demolição à necessidade que o governo brasileiro, simpatizante das ideologias antissemitas dos anos 1930 e 1940, tinha de conter os judeus que lá se refugiaram e que combatiam o governo em seus jornais, suas associações e seus clubes. Os negros protestaram no carnaval de 1941, com a marcha “Praça Onze”, de Herivelto Martins e Grande Otelo, que lamentava o fim do logradouro: “Vão acabar com a Praça Onze/Não vai haver mais Escola de Samba...”. 

Nas décadas seguintes, a praça virou símbolo da resistência cultural dos negros, como no samba-enredo “Bumbumpaticundumprugurundum”, que deu a vitória no carnaval de 1982 ao Império Serrano. A letra diz, sobre a Praça Onze: “Tu és imortal/Teus braços embalaram o samba”. Na região, foram construídos posteriormente o Sambódromo e o metrô.

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