Dez anos após a retirada de Israel de Gaza, ex-moradores de Gush Katif relembram a vida na região
Para os 9 mil moradores de Gush Katif, região que abrigava assentamentos judaicos em Gaza, que foram tirados de seus lares durante a retirada unilateral de Israel em 2005 da região sudoeste de Gaza, as memórias da vida na faixa arenosa ainda são dolorosamente intensas.
"Eu tenho saudades do mar e tenho saudades do meu lar", disse a jovem Hodaya Giat, 28 anos. "Eu ainda me recordo de quem eu era lá. Hoje eu tenho esse estranho sentimento de separação", Giat contou à Agência de Notícias Tazpit em uma entrevista. "Eu ainda procuro me encontrar, tento achar meu lugar" explicou Giat, que se formou em Recursos Humanos na faculdade e atualmente trabalha como caixa em um supermercado.
"Toda a minha infância foi apagada, meu lar destruído", lamentou a jovem que viveu com sua família em Kfar Darom, que acrescentou que na época ninguém impediu que isso acontecesse. Logo após o anúncio do Plano de Retirada em dezembro de 2003 pelo falecido primeiro-ministro Ariel Sharon, os moradores de Gush Katif iniciaram uma maciça campanha de alcance nacional para impedir a expulsão, o que acabou acontecendo aproximadamente dois anos depois, em 15 de agosto de 2005.
"Imagine se isso tivesse acontecido a você, se fosse o seu lar destruído?" pergunta Giat. "Nós somos pessoas simples, pessoas de fé nos ideais sionistas. Vimos Ariel Sharon colocar a pedra fundamental de nossa comunidade e então ele e seu governo a destruíram." Para ela, ainda hoje é muito difícil compreender tudo que aconteceu.
Quatro comunidades do Norte de Samaria também foram desmanteladas durante a Retirada, enquanto em Gush Katif houve a destruição de 1.900 casas, 400 fazendas, 88 centros educacionais (incluindo creches, jardins de infância e colégios de ensino médio) e 38 sinagogas.
A comunidade em que Giat cresceu, Kfar Darom, tem uma longa história de ocupação judaica antes mesmo do estabelecimento do Estado de Israel. Na década de 1930, o Fundo Nacional Judeu comprou a área de um agricultor de frutas cítricas chamado Tuvia Ziskind Miller. E de acordo com o website do Centro de Celebração de Gush Katif e Norte de Samaria, a área foi ocupada em 1946, com a criação de uma vila no período Mishná e de um kibutz (fazenda coletiva) chamado Kfar Darom, formado pouco tempo depois. Em 1948, durante a Guerra de Independência de Israel, o exército egípcio atacou e destruiu o kibutz. Ao fim da guerra, o Egito capturou a Faixa de Gaza e a manteve sob seu controle durante os 20 anos seguintes. Em 1970, após a Guerra dos Seis Dias, Kfar Darom foi reestabelecido como uma das muitas vilas agrícolas israelenses da faixa.
"A situação de segurança não era boa", recorda Giat. "Houve muitos ataques terroristas. Nós poderíamos ter abandonado a área durante aqueles momentos difíceis mas não o fizemos". Em um dos piores ataques, em novembro de 2000, uma bomba de origem Palestina colocada à beira de uma estrada atingiu um ônibus escolar cheio de crianças de Kfar Darom, deixando dois adultos mortos e três irmãos aleijados. Em resposta ao ataque, uma escola foi construída dentro da comunidade.
"Apesar de todo o sofrimento, havia um espírito especial em Kfar Darom", disse a mãe de Hodaya, Orna. "Estávamos sempre reconstruindo, seguindo com nossas vidas. Nossa conexão com a terra era muito forte". O Estado deveria ter sido muito mais sensível à situação dos moradores de Gush Katif", reforçou Nachi Eyal, o diretor geral do Fórum Jurídico de Israel, que foi criado no início da operação de Retirada para defender os direitos das pessoas expulsas da área.
"Os prejuízos teriam sido muito menores se todas as comunidades de Gush Katif tivessem sido reassentadas juntas", explica Eyal. "Eram pessoas centradas em suas comunidades, que eram a razão de suas forças. A dor e os danos foram muito maiores, uma vez que os moradores de Gush Katif foram dispersados por toda o território de Israel e antigas comunidades foram divididas e afastadas", ressaltou Nachi Eyal.
Hoje, Hodaya Giat e sua família vivem em Shavei Darom, que significa "Aqueles que voltaram para o Sul" em hebraico, uma comunidade formada por 20 famílias de Kfar Darom no Conselho Regional de Merhavim, localizado na região noroeste de Negev.
Fonte: Agência Tazpit / Texto: Anav Silverman / Tradução: Graziela Dreilich
Foto: Orna Giat e Hodaya Giat.