A
imprensa, a rádio e a televisão de Israel têm transmitido o conteúdo da
entrevista que a ministra concedeu ao semanário feminino AT.
“São um bando de ingratos que acham saber tudo, de hipócritas que
envenenam a vida. Não me sinto à vontade trabalhando com o mundo
cultural”, afirma Regec na gravação de sua conversa com a revista, ao
mesmo tempo em que lamenta que o primeiro-ministro e líder de seu
partido, Benjamin Netanyahu, não tenha cumprido a promessa de entregar-lhe a pasta dos Assuntos Sociais.
Ajudas congeladas
A polêmica ministra tem cobrado protagonismo dentro do novo Governo
de coalizão – integrado por conservadores, nacionalistas e
ultrarreligiosos –, considerado como um dos mais direitistas da história
de Israel. Regev ameaçou primeiro cancelar os subsídios de seu
ministério a uma companhia de teatro infantil de Haifa, na qual atuam
crianças judias e palestinas dirigida por um árabe-israelense que se
negou a levar suas representações aos assentamentos de colonos na
Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967.
Pouco depois, Regev
pressionou os responsáveis do Festival Internacional de Cinema de
Jerusalém para que retirassem o documentário Além do Medo,
sobre a vida familiar de Yigal Amir, o nacionalista judeu radical que
assassinou o primeiro-ministro Isaac Rabin há 20 anos, pouco depois de
ter assinado os acordos de paz com os palestinos.
Os partidos de
esquerda radical foram os primeiros a pedir sua retirada da programação.
No fim, o filme será projetado fora das datas oficias da competição.
Rebelião no pavilhão do porto
Mais de 400 artistas israelenses se reuniram no domingo passado em um
pavilhão do porto de Jaffa, ao sul de Tel Aviv, para fazer frente às
medidas da nova ministra da Cultura, Miri Regev. O diretor do Teatro
Khan de Jerusalém, Michael Gurevitch, pediu “uma greve de todas as
instituições culturais” no caso de que se imponha uma censura em Israel.
A ministra havia sido muito clara em sua advertência aos artistas: “Não
vou apoiar as instituições culturais que deslegitimem ou boicotem
Israel”. Mas Gurevitch respondeu que “ela não é quem determina quais são
as ameaças para a segurança do Estado”.
No fundo está a divisão na sociedade israelense entre os setores
liberais, que defendem a solução de dois Estados e o diálogo com os
palestino como via para acabar com o conflito, e a visão nacionalista
dos defensores da expansão dos assentamentos judaicos no território
palestino. Uma maioria dos artistas parece apoiar a primeira opção.
Apesar de a ministra da Cultura ter minimizado suas declarações da
entrevista ao assegurar que suas críticas se dirigiam “só a alguns
artistas”, que continuava disposta a trabalhar com o mundo da cultura e a
“aumentar o orçamento” de seu departamento, Regev foi recebida na sexta
passada com gritos de protesto em Tel Aviv em sua chegada numa
cerimônia de entrega de prêmios teatrais.
Nascida há 50 anos em uma família judia que acabava de emigrar de
Marrocos para Israel, Regev deve tudo que conseguiu ao Exército, onde
ingressou com 18 anos para cumprir o serviço militar obrigatório, se
formou como oficial e foi subindo até alcançar o posto de general de
brigada. Ocupou os cargos de porta-voz das Forças Armadas para as
relações com a imprensa e de responsável pela censura militar
israelense, que se encarrega de que as informações publicadas não
coloquem em perigo a segurança de Israel. Em 2007, deixou a vida militar
para dar o salto à política nas fileiras do Likud, o partido encabeçado
por Netanyahu, e em 2009 foi eleita deputada no Knesset.
O mundo da cultura israelense recebeu com hostilidade sua nomeação
após as eleições passadas. O cantor de rock Shalom Hanoch exigiu que
Regev não interviesse antes de sua atuação no mês de maio no Festival de
Israel. Mas a ministra lembrou que o show era patrocinado por seu
departamento. A oposição israelense de esquerda também tem pedido que
ela renuncie. “Não se pode deixar a liberdade de expressão nas mãos de
um censor”, afirmou a líder do partido Meretz, Zehava Galon.
Em sua polêmica entrevista, Regev disse que vai anunciar em breve as
regras para determinar as condições que vão definir a perda dos
subsídios nas obras artísticas que “deslegitimem o Estado de Israel”.
“Dentro de um mês se saberá o que está permitido e o que está proibido
se quiserem receber as ajudas oficiais”, anunciou.
Em sua coluna no jornal Yedioth Aharonot, o analista Yoaz
Handel ironizou recentemente a “nova era de ouro cultural” que
representa a presença de Regev no Governo: “Nunca havia se falado tanto
como agora do teatro ou dos filmes de Israel”.