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O alfabeto e a Criação

Coisas Judaicas
A CRIAÇÃO: O alfabeto

Quando Deus estava para criar o mundo pela sua palavra, as vinte e duas letras do alfabeto desceram da terrível e augusta coroa de Deus onde haviam sido gravadas com uma pena de fogo fla­me­jante, posicionaram-se em pé ao redor de Deus, e uma após a outra falou e pediu:
– Crie o mundo através de mim!
A primeira a vir à frente foi a letra Tav. Ela disse:

– Ó, Senhor do mundo! Seja da sua vontade criar o mundo através de mim, visto que é através de mim que o senhor dará a Torá a Israel pela mão de Moisés, como está escrito: “Moisés ordenou-nos a Torá.”

O Santo, bendito seja ele, respondeu e disse:

– Não.

– Por que não? – perguntou Tav.

E Deus respondeu:

– Porque nos dias que virão deverei colocar você como sinal de morte sobre as frontes dos homens.

Assim que Tav ouviu essas palavras da boca do Santo, bendito seja ele, retirou-se da sua presença desapontada.

A letra Shin deu um passo a frente e pediu:

– Ó, Senhor do mundo, crie o mundo através de mim, visto que o seu próprio nome, Shaddai, começa comigo.

Infe­liz­mente Shin é também a primeira letra de Shav, mentira, e de Sheker, falsidade, e foi por isso des­clas­si­fi­cada. Resh não teve melhor sorte: foi observado que ela era a letra inicial de Ra’, perverso, e de Rasha’, maligno, e diante disso a distinção de que ela desfruta por ser a primeira letra no Nome de Deus, Rahum, o mise­ri­cor­di­oso, em nada contava. Kof foi rejeitada porque Kelalah, maldição, pesa mais do que o fato de ser a primeira letra em Kadosh, o Santo. Em vão Tzade chamou a atenção para a palavra Zaddik, o Justo: havia Zarot, os infor­tú­nios de Israel, tes­te­mu­nhando contra ela. A letra Pe tinha Podeh, redentor, em seu favor, mas Pesha, trans­gres­são, refletia desonra sobre ela. Ayin foi declarada ina­de­quada, porque embora comece ‘Anawah, humildade, faz a mesma coisa por ‘Erwah, imoralidade.


Samek disse;

– Ó, Senhor, seja da sua vontade começar a criação através de mim, pois o senhor é chamado como eu de Samek, o Sus­ten­ta­dor de todas as coisas que tendem a cair.

Mas Deus disse:

– Você é neces­sá­ria no lugar em que está, e deve continuar a sustentar todas as coisas que tendem a cair.

Nun é a primeira letra de Ner, “a lâmpada do Senhor”, que é “o espírito dos homens”, mas também de Ner, “a lâmpada dos ímpios”, que será apagada por Deus. Mem começa a palavra Melek, rei, um dos títulos de Deus, mas como é também a primeira letra de Mehumah, confusão, não teve chance de realizar o seu desejo. A rei­vin­di­ca­ção de Lamed trazia sua própria refutação. Ela apre­sen­tou o argumento de que era a primeira letra em Luhot, as tábuas celes­ti­ais dos Dez Man­da­men­tos, esque­cendo que as tábuas eram feitas em pedaços por Moisés. Kaf estava certa da vitória: tanto Kisseh, o trono de Deus, quanto Kabod, sua honra, e Keter, sua coroa, começam com ela. Deus teve de lembrá-la de que iria bater uma contra a outra as suas mãos, Kaf, em desespero pelos infor­tú­nios de Israel. À primeira vista Yod parecia ser a letra apro­pri­ada para o princípio da criação, devido à sua asso­ci­a­ção com Yah, Deus, porém Yezer ha-Ra’, a incli­na­ção para o mal, também acontecia de começar com ela. Tet identificava-se com Tob, o bem, porém o ver­da­deiro bem não é deste mundo; pertence ao mundo que está por vir. Het é a primeira letra de Hanun, o Gracioso; porém essa vantagem é vencida por seu lugar na palavra para pecado, Hattat. Zain sugere Zakor, lembrança, mas é ela mesma a palavra para arma, aquela que fere. Wav e He compõem o Inefável Nome de Deus, e são portanto exaltados demais para prestarem serviço no mundo terreno. Se Dalet repre­sen­tasse apenas Dabar, a Palavra Divina, teria sido usada, mas repre­senta também Din, justiça, e sob o governo da lei sem o amor o mundo teria caído em ruína. Final­mente, a despeito de lembrar Gadol, grande, Gimel não foi escolhida, porque Gemul, retri­bui­ção, começa com ela.

Depois que as revin­di­ca­ções de todas essas havia sido negadas, a letra Bet aproximou-se do santo, bendito seja ele, e pediu diante dele:

– Ó, Senhor do Mundo! Seja sua vontade criar o mundo através de mim, levando-se em conta que os moradores do mundo dão louvor ao senhor através de mim, como é dito: “Bendito seja o Senhor para sempre. Amém e amém”.
O Santo, bendito seja ele, atendeu ime­di­a­ta­mente ao pedido de Bet.
– Bendito o que vem em nome do Senhor – disse ele.
E criou o seu mundo através de Bet, como é dito: “Bereshit [No princípio] Deus criou os céus e a terra”.

A única letra que absteve-se de fazer qualquer pedido foi a modesta Alef, e Deus mais tarde recom­pen­sou sua humildade con­ce­dendo a ela o primeiro lugar nos Dez Mandamentos.

Lendas dos Judeus é uma com­pi­la­ção de lendas judaicas reco­lhi­das das fontes originais do Midrash (par­ti­cu­lar­mente o Talmude) pelo tal­mu­dista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.


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