
Terceiro filme em competição em Cannes, "Saul Fia" ("Son of Saul"), do húngaro Laszlo Nemes, conta a história de Saul Auslander, um deportado judeu forçado a participar na Solução Final em Auschwitz, no Sonderkommando, unidade de prisioneiros que trabalhava nas câmaras de gás.
Um dia, no coração do inferno, Saul descobre um jovem rapaz que sobrevive, mas apenas brevemente ao gás, e no qual ele acredita ter reconhecido seu filho. Desolado, ele então fará de tudo para tentar dar-lhe um enterro.
Laszlo Nemes, de 38 anos, cuja família de judeus da Ucrânia foi assassinada em Auschwitz, decidiu, depois de encontrar uma coleção de textos escritos por membros do Sonderkommando, tratar este assunto relacionado a sua história pessoal.
"Eu me perguntava qual era a impressão que os judeus tinham quando chegavam na rampa em Birkenau. O que viam? E quais foram suas últimas horas? Me projetar foi a força que me conduziu a fazer o filme", explicou, comovido, à AFP.
Filmando de perto seu herói em seu cotidiano insuportável, o diretor assumiu o desafio de mostrar as coisas a partir da perspectiva de Saul, e fazer com que o espectador veja o que ele vê, quase sempre deixando o horror borrado ou fora de foco.
"Ele está no meio da usina da morte, ele já não olha para a usina, ele não olha mais os deportados, ele não olha mais os cadáveres. O que ele olha é tudo o que está relacionado com sua busca de tentar enterrar aquele garoto que ele acha que é seu filho", ressalta.
O diretor disse que tentou "encontrar uma forma diferente de representar o inferno dos campos de extermínio" porque, em sua opinião, "o assunto é geralmente tratado de forma insatisfatória".
"Os filmes muitas vezes têm esta tendência de querer mostrar demais", acrescentou.
Opressivo, visualmente pontuado pelos movimentos e gestos de Saul, o filme também é marcado por sons arrepiantes do forno crematório: de metal batendo, passos e rufar de mãos na porta da câmara de gás, o farfalhar dos corpos que são jogados em carrinhos, que rangem ao ser empurrados, gritos de ordens em alemão, trechos de conversas em várias línguas...
O diretor húngaro Laszlo Nemes e a roteirista Clara Royer posam no Festival de Cannes nesta sexta-feira (15) para lançar o comovente 'Saul Fia' (Foto: Yves Herman/Reuters)