Rabino Nissan Ben Avraham
A Tribo de Educadores
O Livro de Vayicrá vem a ser a essência do povo de Israel, sua personalidade mais íntima. Neste vimos os mandamentos relacionados com o Tabernáculo, que é o centro de nossa existência, os sacerdotes e os levitas, que são os responsáveis pela execução das funções mais importantes e mais delicadas: a educação, a justiça e a reabilitação do Povo.
Muitos acreditam que os sacrifícios eram apenas cumprir com os rituais, ofertas trazidas por aqueles que tinham algum pedido ou qualquer expiação, e isso era suficiente para receberem o favor do Criador. O Profeta Shmuel (Samuel) teve o cuidado de explicar ao Rei Shaul (Saul), que todo aquele que utiliza os sacrifícios como “mágica” para apagar os pecados, não é mais do que um rebelde, pois significa que continuará como antes, com os mesmos defeitos não corrigidos e sem esperança.
A tribo dos Levitas, em geral, e a família dos sacerdotes, em particular, tinham a missão e a obrigação de mostrar a todos os que viessem ao Tabernáculo (e mais tarde, ao templo), quais eram os motivos de seus erros e como podiam corrigi-los. Tudo isso está neste livro que têmos lido nos últimos meses. O problema é que muitas vezes não lemos corretamente e nos enroscamos com detalhes, ignorando assim, os pontos importantes. Para isso está a Torá Oral, o Midrash, a Mishná e o Talmud, que nos ajudam a concentrar-se no que é importante.
Consequências do Ano Sabático
Na última Parasha, Bechucotai (nas minhas leis), lemos duas listas: uma de bênçãos e de outra de longas maldiçõe, noventa e oito, para aqueles que não cumprem as leis divinas, as leis do Criador. Nossos Sábios explicam que é evidente que, estas recompensas e maldições se referem ao cumprimento dos mandamentos que vieram um pouco antes, no Parasha Behar (Cap. 25), sobre o ano sabático, o jubileu, e tudo o que lhes diz respeito . No livro do Kuzari, com base no Talmud e no Midrash, o Rabino Yehuda Halevi explica que estes mandamentos têm uma capacidade especial de “atrair” a Presença Divina, ou seja, que são essenciais para que o Criador possa ‘residir’ entre nós. A Presença Divina, que nos “percebe”, que nos trata de uma maneira especial, nós mima, nos leva para muito além das leis naturais, para as leis sobrenaturais, espirituais.
De fato, percebemos que é dado a Terra da Profecia um status quase humano, com vontades, desejos e necessidades. A Terra “necessita” seus sábados, seus períodos sabáticos e seus jubileus. E las exige quando não lhe são dadas por bem. Perto do fim dessa longa lista de maldições, a própria Torá nos diz que esta é a razão de que “então a terra folgará nos seus sábados, todos os dias da sua assolação, e vós estareis na terra dos vossos inimigos; nesse tempo a terra descansará, e folgará nos seus sábados. Por todos os dias da assolação descansará, pelos dias que não descansou nos vossos sábados, quando nela habitáveis” ( 26:34-35 ).
Setenta Anos
Yermiahu, o Profeta (Jeremias 29:10) disse que o exílio da Babilônia duraria 70 anos sem averiguar o porquê. Mas, no segundo livro de Crônicas, nos seus últimos versos (II Crônicas 36:21), diz: “Para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Yermiahu, até que a terra se agradasse dos seus sábados, todos os dias da assolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram”. Este versículo nos traz os dois textos: o de nossa Parasha, que está escrito no mesmo estilo e com as mesmas expressões, e a do Profeta Yermiahu, citado explicitamente, o que significa que os setenta anos do exílio foram os 70 anos que os mandamentos referentes ao ano sabático e ao jubileu, não foram cumpridos. Os Sábios nos fazem o cálculo dos “430 anos de iniqüidade”, como diz o profeta Yechezquel (390 anos no capítulo 4:4-5 e 40 no capítulo 4:6, explicação do comentarista Rashi).
Em quatrocentos anos há 8 jubileus e 56 licenças sabáticas, e em 35 anos mais 5 anos sabáticos, com mais sete anos que faltavam até a destruição do Templo (já que a profecia de Yermiahu era antes da destruição mesma) temos uma Shemitá mais, num total de 70 licenças sabáticas que Terra não descansou.
Assim, vemos que a Terra da Profecia necessita seus anos de descanso assim como os Filhos de Israel precisam do Sábado a cada semana. Estes são tempos dedicados ao estudo e renovação da nossa conexão com o Criador, a profecia.
Esta mensagem vem a ser o resumo do livro de Vayicrá que é dedicado especificamente a indicar-nos os meios para que esta nossa conexão com o Criador não seja prejudicada, ou que possa ser renovada caso, por nossas más ações, esta tenha se deteriorado.
As Consagrações
O último capítulo discute sobre as consagrações especiais que eram feitas. Os Filhos de Israel queriam quanto mais objetos materiais seus, conectados com o Criador, e para isso os consagravam ao Templo e, em seguida, adicionavam um resgate de vinte e cinco por cento do valor (um quarto chamado de “quinto externo”, que, com a adição deste valor tornava-se um quinto total). Isso agregava ao objeto “resíduos de santidade” que ajudavam o dono a tirar o máximo do benefício espiritual de usar os mesmos objetos.
Poderia ser uma casa consagrada ao Templo, ou um campo, ou animais de trabalho. Quando se tratava de um animal que era oferecido, obviamente não se podia resgata-lo, deveria ser sacrificado ao Senhor no Templo, mas se fosse um cavalo ou um animal com defeitos físicos que os impediam de ser oferecidos no Templo, estes poderiam ser resgatados e, em alguns casos, poderia continuar trabalhando com eles, elevando o valor espiritual da tarefa realizada, juntamente com os bons objetivos e os bons meios que o dono fornecia.
Também se podia consagrar pessoas. Não como o juiz Yiftach (Jefté) acreditava que, como vimos no Capítulo 11 do Livro dos Juízes, cometeu um erro terrível. A Torá indica o “valor” de cada pessoa a partir de seu sexo e sua idade, e esta quantia que deveria ser paga no Templo. Podia consagrar a ele mesmo ou a outra pessoa. Podeia consagrar uma pessoa para que se cure de uma doença, ou para agradecer por um milagre, etc. Outra possibilidade era entregar o valor em ouro ou prata, de acordo com o que especificou aquele que fez o voto.
Tudo isso, com o enfoque em santificar cada vez mais a matéria, as casas e os campos, os animais e os utensílios e, claro, o próprio homem, até transformá-los em espírito. Esta é a nossa missão neste mundo que vivemos, transforma-lo, lentamente, no Mundo do Futuro!.