“No início fiquei incomodado, pensei que se tratava de título que me colocaria acima de outros valorosos rabinos, mas quando compreendi que se tratava de um adjetivo, justificado pelo fato de eu me vestir, falar e atuar de um jeito ‘muito brasileiro’, confesso que fiquei feliz pois, apesar dos problemas que enfrentamos, amo muito o nosso país e adoro ser brasileiro”, disse.
Ventura tem se mostrado um forte aliado dos Bnei anussim, ou seja, dos descendentes dos judeus forçados a abandonar o judaísmo, séculos atrás, na península Ibérica e no Brasil. De acordo com Ventura, há cerca de quarenta anos surgiram no Nordeste os pioneiros de um movimento que hoje tem ganhado força em dezenas de cidades.
O rabino destaca entre eles João F. Medeiros, nascido em Acarí do Seridó, e Elias Cosme, de Fortaleza que, intrigados com os contrastes que encontravam entre suas práticas religiosas e a de seus vizinhos - estas pessoas, criadas num catolicismo diferente do convencional -, passaram a buscar os motivos de tais discrepâncias chegando à sua raiz.
Outro aspecto destacado por Ventura refere-se à regionalização do judaísmo. “Um judeu nordestino cantar uma reza em aboio, ou em ritmo de Asa Branca, é tão legítimo quanto o uso dos ritmos judaicos adquiridos na Europa e no Oriente médio. O chapéu de boiadeiro com a Estrela de David pode ser tão judaico quanto o chapéu e o terno preto que marcam a ortodoxia oriunda da Europa.
Deixemos um pouco de lado os antigos rituais judaicos de luto, ainda em uso, inconscientemente por todo o nordeste, e brindemos, com uma boa cachaça, regando a tão judaica Carne de Sol. O judaísmo brasileiro, social e dialógico, escrito em cordel, rezado em aboio, embalado na viola, brindado na cachaça e coroado pelo chapéu do boiadeiro voltou. Visse?!”
Érika Zaituni
Assessora de comunicação