
“É uma corrida contra o tempo. Pretendemos registrar em vídeo o máximo de depoimentos possível, já que, nos próximos dez anos, possivelmente não haverá mais sobreviventes para contar a história de uma das maiores atrocidades que já ocorreu no mundo. É uma memória que corre perigo de ser esquecida, especialmente porque, sem os sobreviventes, abre-se espaço para os que insistem em negar a existência do Holocausto".
A primeira fase do projeto terá início em fevereiro e durará seis meses, período em que ela espera gravar testemunhos de 90 dos 284 sobreviventes do Holocausto que vivem no Brasil. Desse total, revela a pesquisadora, grande parte mora em São Paulo e chegou ao país vinda da Alemanha, Áustria, Polônia e Romênia durante a Segunda Guerra Mundial. Os recursos para custear esta etapa virão do Instituto Samuel Klein, criado após a morte do empresário - fundador das Casas Bahia que sobreviveu a dois campos de concentração, o de Majdanek e o de Auschwitz-Birkenau.
Os dez melhores depoimentos vão ser transformados em DVD. O registro será acompanhado de material paradidático e distribuído em escolas públicas. "O projeto tem caráter multidisciplinar e pedagógico. O objetivo é propor uma reflexão sobre todas as formas de intolerância a partir do Holocausto. Normalmente, as escolas não dão a esse tema a sua devida importância", explica a pesquisadora.
"Em outras palavras, queremos mostrar para os mais jovens que quando se investe contra uma etnia ou um grupo específico, também se lapidam a memória e a cultura de um povo. Com isso, chamamos atenção para o perigo do racismo e ensinamos esses alunos a conviver com a diferença", acrescenta.
A iniciativa de Tucci Carneiro é parte de um projeto maior, chamado “Travessias: narrativas e representações dos sobreviventes e refugiados do nazismo no Brasil”, cuja intenção é reunir o maior número de informações possível sobre os judeus que, forçados a deixar seus países de origem em meio à ascensão da Alemanha nazista, passaram pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.
"Temos um número expressivo de artistas e intelectuais judeus, entre refugiados e sobreviventes, que aportaram no país antes, durante ou depois do confronto", destaca ela.