Os atores Christian Bale (“Trapaça”) e Natalie Portman (“Thor: O Mundo Sombrio”) finalmente puderam conversar sobre o drama “Knight of Cups”, misterioso filme do cineasta Terrence Malick (“Amor Pleno”), que dividiu a crÃtica em sua première mundial no Festival de Berlim.
Trabalho de gênio ou exercÃcio de indulgência, o tÃtulo de “Knight of Cups” faz referência à carta do Valete de Copas, que representa o romantismo no tarô. A trama apresenta o mundo de excessos hedonistas de Hollywood, concentrados no personagem de Bale, um astro do cinema, frequentador de muitas festas e rodeado de belas mulheres, mas que no fundo é muito infeliz.
“A produção é sobre um homem cujos sonhos e desejos já foram realizados, mas mesmo assim ele sente um grande vazio”, declarou o ator na entrevista coletiva no festival. “Meu personagem não se dá conta de que precisa de ajuda. Ele é bem-sucedido, mas vive uma repetição contÃnua, em vez de ter um sentimento genuÃno de satisfação.”
Portman disse que Malick “captura boa parte da essência de Hollywood”. “O filme descreve tudo, desde a superficialidade que se pode encontrar nas festas até o modo como as mulheres são tratadas lá. O personagem de Bale tem uma jornada que reflete na forma como ele lida com as mulheres ao seu redor. Além disso, essa jornada é também um reflexo da grande diversidade de pessoas, homens e mulheres que encontramos em Los Angeles.”
Trabalhar em “Knight of Cups” foi um exercÃcio de improviso para Bale, que já tinha trabalhado com Malick em “O Novo Mundo” (2005).
“O fato mais interessante na abordagem de Malick é que, quando começamos a trabalhar, ele nunca nos disse nada sobre o que era o filme. Para mim, ele apenas deu a descrição do personagem e algumas informações gerais sobre seu passado. Nosso mantra no set de filmagens era: ‘Vamos começar a trabalhar antes de estarmos prontos’. Assim surgiram um monte de acidentes felizes e respostas reais da produção.”
Portanto, o mistério em torno do filme se devia ao fato de ninguém, nem mesmo o elenco, saber sobre o que era o filme. O improviso era tanto que Bale nem tinha roteiro. “Eu não tinha falas para decorar, mas os outros atores tinham. Assim, eu sempre dava um jeito de espiar para ver o que seria falado pelos outros em cena. Nunca sabia o que aconteceria com o meu personagem, durante todos os dias que duraram as filmagens.
Malick gosta de chamar esse processo de ‘torpedeamento’, para captar reações reais. Ele sempre dizia: ‘Vamos ver o que acontece’. O diretor se sente confortável nesse esquema.”
No caso de Portman foi diferente. “Malick me dava umas 30 páginas de roteiro por dia com sugestão de diálogos e eu ficava livre para escolher.
Era um exercÃcio de descobertas. Não parecia haver nenhum sentido naquele processo, mas todos os dias de filmagem foram uma busca por algo bonito.”
O processo “artesanal” também surgia quando os atores precisaram gravar as narrações em off, que ajudam a contar a história. Em vez de serem realizadas em um estúdio, o trabalho era feito dentro de uma van estacionada perto do set. “Com Malick é assim. Não há nenhuma abordagem convencional”, afirmou Bale. Portman contou que ela chegou a gravar mais narrações do que propriamente cenas filmadas. “Foi ótimo, pois era divertido fazer coisas diferentes e achar variadas formas para encontrar o tom certo da voz.”
Ao final, ela concluiu que trabalhar com Malick foi uma experiência única e enriquecedora. “Tenho sido fã dele por toda minha vida. ‘Cinzas no ParaÃso’ é o meu filme favorito. Ele realiza produções incrÃveis, de impacto visual e narrativo. Ser dirigida por ele foi uma experiência rara. Malick conseguiu exceder minhas expectativas. Ele é uma pessoa admirável.”
A oportunidade também serviu como uma aula para Portman, que nesse ano lançará “A Tale of Love and Darkness”, sua estreia como diretora de longa-metragem. “Eu me senti muito sortuda por ter trabalhado com Malick pouco antes de dirigir ‘A Tale of Love and Darkness’.
Ele me alertou que as regras não são necessárias nesse ofÃcio. Você pode encontrar a sua forma de dirigir por meio dos erros que comete. Você aceita o desconhecido. O que você normalmente considera um problema, para Malick é uma oportunidade criativa’, explicou a estrela.
Texto: Chloé Monteiro