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Herberts Cukurs o nazista que criou o pedalinho da Lagoa no Rio

Coisas JudaicasAbandonado numa mala no Uruguai: o fim do colaborador nazista que criou o pedalinho da Lagoa.

Vitor Sion 

Acusado pela morte de mais de 30 mil judeus na Segunda Guerra Mundial, Herberts Cukurs chegou ao Brasil em 1946.

Herberts Cukurs não teve uma vida trivial. Herói nacional da Força Aérea da Letônia na juventude, foi ele quem criou, já mais velho, o pedalinho da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. O motivo da vinda do letão para o Brasil, porém, passa pela colaboração com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial – ele foi acusado de ser responsável por mais de 30 mil mortes e ficou conhecido entre judeus como o "Enforcador de Riga". 

O letão, que viveu no Brasil por quase 20 anos, nunca assumiu ter ordenado matar nenhum judeu, mas, em depoimentos à polícia brasileira, admitiu ter colaborado com a Alemanha nazista contra a União Soviética. É nesse momento de sua vida que ele teria assassinado milhares de pessoas (veja depoimento de um sobrevivente aqui). Sua família também nega, até hoje, as acusações referentes às mortes durante a ocupação nazista da Letônia.
Cukurs chegou ao Brasil em 4 de março de 1946, durante o Carnaval, a bordo do vapor “Cabo da Boa Esperança”. Antes, tinha conseguido visto na França com a justificativa de ser perseguido político. De fato, segundo o historiador Bruno Leal, Cukurs poderia ter problemas na URSS pela participação no período da guerra.

Enquanto esteve em território brasileiro, o letão morou em Niterói, Santos, Rio de Janeiro e São Paulo. Nunca ficou totalmente tranquilo, principalmente após a captura de Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS, em 11 de maio de 1960, na Argentina. A partir daí, Cukurs renovou anualmente o direito a portar armas no Brasil. Além disso, contou com proteção policial durante sua permanência na capital paulista.

Antes de embarcar para Montevidéu com Anton Kuenzle, identidade falsa do agente do Mossad (serviço secreto israelense) responsável pela armadilha que culminou em sua morte, Cukurs deixou com a esposa uma foto do “amigo” com quem iria fazer negócios no Uruguai. Se algo lhe acontecesse, avisou, seus familiares já saberiam quem procurar. A busca por melhores condições financeiras, porém, falou mais alto que a desconfiança e o medo.
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O letão morreu no Uruguai em 23 de fevereiro de 1965, assassinado por um grupo do Mossad que deixou o corpo dentro de um baú. O aviso sobre a morte foi passado a jornalistas que não levaram a história a sério, segundo um episódio da série de documentários “Caçadores de Nazistas”, veiculada no Brasil pelo canal National Geographic.
Apenas em um segundo aviso dos agentes do Mossad, 11 dias após a morte de Cukurs, o corpo foi encontrado pela polícia uruguaia em 6 de março de 1965, já cheio de larvas.

Versões desencontradas

A vida e a morte de Cukurs permanecem cercadas de mistério. Entre as décadas de 1950 e 1970, quando o nazismo era um assunto comum na imprensa, informações controversas foram publicadas.  Em dezembro de 1968, o jornal O Globo afirmou que Cukurs “transportava fugitivos nazistas para o interior do Brasil”. Até hoje, no entanto, não há nenhum indício que confirme essa história, até porque ele era um homem de poucos amigos no Brasil.

Outro boato relacionado ao letão diz respeito ao momento da morte. De acordo com a mesma reportagem do jornal do Rio de Janeiro, ele teria sido morto por nazistas que o consideravam um traidor. Segundo o autor do texto, Jack Anderson, ao saber que tentavam matá-lo, Cukurs negociou sua vida pela localização exata do famoso médico de Auschwitz Joseph Mengele (1911-1979).

Tal informação também é considerada “muito implausível” por Bruno Leal e, antes dele, por Gerald Posner e John Ware, que escreveram o livro Mengele – A História Completa, sobre a vida do médico, que morreu afogado no litoral de São Paulo.

A disseminação de informações equivocadas sobre a caça de nazistas na América do Sul não é exclusividade da imprensa. Um importante personagem do pós-guerra, o sobrevivente de campos de concentração Simon Wiesenthal (1908-2005), também trabalhou com imprecisões. Conhecido por ajudar os aliados após 1945 e criar sua própria agência de busca por criminosos de guerra, Wiesenthal divulgou relatos que, posteriormente, foram checados e negados por jornalistas e pesquisadores.

Bruno Leal/Opera Mundi

No caso de Mengele, Wiesenthal deu entrevistas que continham ao menos dois erros sobre o médico. O primeiro deles dizia que o nazista estava em Porto São Vicente, na região do Alto Paraná. No entanto, autoridades paraguaias responderam que tal localidade sequer existia. Antes disso, em novembro de 1968, Wiesenthal distribuiu à imprensa e aos órgãos policiais supostas fotos de Mengele nas ruas de Assunção. O fotografado, porém, não era o médico de Auschwitz.

 Herberts Cukurs o nazista que criou o pedalinho da Lagoa no Rio
[Livro que conta os feitos de Cukurs como aviador foi republicado recentemente na Letônia]

Outro lado

A família de Cukurs mantém a versão de vida pacífica do aviador. Até 2011, um blog em defesa do patriarca destacava seus feitos como herói nacional no país europeu. Recentemente, um livro de 1934 foi republicado sobre sua trajetória na Força Aérea da Letônia.

OM tentou contato com dois familiares, sem sucesso. Atualmente, segundo o historiador Bruno Leal, os filhos do letão deixaram de conceder entrevistas por não concordarem com reportagens que já foram publicadas. Um dos seus filhos, Herbert Cukurs Jr., disse ao já citado documentário Caçadores de Nazistas: “Estamos aguardando há 60 e poucos anos uma prova contra o meu pai”. 

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