Yoel Barnea - Coisas Judaicas |
Grupo artístico pede em carta que a instituição devolva patrocínio recebido do governo israelense, por conta do recente conflito em Gaza.
Por Nilson Hernandes
SÃO PAULO — Após tomar conhecimento da carta aberta assinada por um grupo de 55 artistas de diferentes nacionalidades, entre eles um israelense, apelando à Fundação Bienal de São Paulo para que devolva os recursos financeiros doados pelo governo de Israel, o cônsul-geral israelense em São Paulo Yoel Barnea se disse surpreso com a atitude desses artistas.
— O Consulado de Israel sempre atuou na área cultural e artística. Estamos em contato com a Bienal de São Paulo há meses, pois houve a solicitação de apoio nesse sentido. Temos quatro artistas israelenses participando. Quando soubemos disso ficamos surpreendidos com a tal atitude.
Para o cônsul-geral de Israel, é ilógico misturar o tema político com o segmento cultural.
— Apoiamos um evento cultural. Essa iniciativa (dos artistas) é contraproducente, não ajuda na compreensão (histórica e geográfica) da região. Temos intercâmbio cultural também com árabes. As decisões do Conselho de Segurança da ONU não misturam apoios culturais com questões geopolíticas.
Barnea fez questão de salientar que conflitos no Oriente Médio acontecem em diversas partes da região e envolvem outros países árabes.
— Na Síria há um conflito que já resultou em milhares de refugiados. Realmente tivemos em conflito com nossos vizinhos recentemente, mas tomamos essa atitude para nos defender dos terroristas que lançavam diariamente mísseis contra o território israelense.
O representante do governo de Israel em São Paulo argumentou ainda que respeita a atitude desses artistas, mas lamenta que tenha sido feita às vésperas da abertura da Bienal.
— Respeitamos o que (os artistas) querem dizer, mas lamentamos por quererem atrapalhar a Bienal. Ninguém se dirigiu a nós sobre isso.
A respeito da possibilidade de rever o repasse financeiro ao evento artístico ou tomar uma atitude diplomática para responder aos artistas, Barnea negou qualquer ato nesse sentido.
— Nós não estudamos nenhuma atitude diplomática contra isso. Conversamos com a Bienal e é ela que deve se manifestar. Somos um apoiador como tantos outros que contribuíram. Inclusive estaremos na abertura oficial, no dia 1º de setembro.
Sobre o apoio de um artista israelense a esse manifesto endereçado à Bienal, o representante da diplomacia israelense em São Paulo fez questão de parabenizá-lo.
— Somos democráticos. Há pontos de vista diferentes em nosso país. Se isso envolvesse uma nação árabe, não seria possível o contraditório.
Por fim, Barnea lembrou que o governo de Israel costuma financiar eventos culturais e entidades educacionais no Brasil.
— Recentemente apoiamos uma exposição sobre o Papa Francisco. Apoiamos a tradução de livros escritos por israelenses para a língua portuguesa, além de colaborar com a Universidade Zumbi dos Palmares.
Fonte: O Globo