*Por
Sheila Sacks
O Estado
de Israel carrega dívidas memoriais em relação ao povo judeu traduzidas em dois
mil anos de desterros trágicos advindos das sucessivas perseguições religiosas
ocorridas ao longo do tempo nos quatro cantos do mundo – da Europa, Ásia,
África ao continente das Américas - e que culminaram com o horror do Holocausto
no início da década de 1940.
Instituída
como nação pela ONU, em 1948, desde então a cada embate que o estado israelense
é levado a travar com organizações ou governos extremistas instalados em suas
fronteiras (que lhe negam o direito de existir e se armam com palavras e
equipamentos de guerra para eliminá-lo), observa-se o recrudescimento do
antissemitismo que infelizmente ainda sobrevive latente em países dos mais
distintos, segundo pesquisas periódicas divulgadas pelos centros judaicos.
Abrigando
190 mil sobreviventes do Holocausto, a maioria com mais de 80 anos, Israel é o
primeiro e último refúgio dos judeus de diversas nacionalidades que de alguma
forma se sentem ameaçados pela face milenar do preconceito em sua própria terra
natal. O estigma da rejeição e a humilhação de se ver atado a um falso e
abominável estereótipo muitas vezes impõem a esses judeus o caminho de um
exílio não planejado. Um fato a lamentar que infelizmente ainda persiste nesse
século 21.
A cada
guerra o estado de Israel vive o seu dilema de Sofia, lembrando a obra do
escritor americano William Styron, falecido em 2006. Na história, Sofia é
uma jovem mãe, sobrevivente do Holocausto, forçada por um soldado nazista à
época da guerra a escolher um de seus dois filhos para ser morto. A outra opção
seria a morte de ambas as crianças. Uma escolha perversa que a condenaria a
viver em um doloroso martírio até o fim de seus dias.
Israel
como nação tem o dever de proteger a sua população de ataques externos e
atentados terroristas, respondendo com firmeza às investidas bélicas. Balancear
a “proporção” de sua resposta militar, conforme advogam muitos países e a própria
ONU, seria com toda a certeza a opção adotada, se isso fosse possível. Quando o
adversário se utiliza de táticas de guerrilha onde as vidas humanas não contam,
estocando armamentos letais em creches, escolas, hospitais e centros sociais,
em meio às mulheres, crianças e pessoas idosas, a imposição de procedimentos
que não ponham em risco à população civil soa como uma locução extemporânea
abstraída da realidade. Uma frase de efeito moral direcionada apenas a um lado
do conflito com a finalidade de criminalizar as ações de defesa de um exército
que combate o terrorismo em suas fronteiras.
Conviver
em paz com seus vizinhos é a maior aspiração do estado de Israel, compartilhada
com os judeus de todo o mundo. A sociedade israelense lamenta que grande parte
de seu orçamento esteja direcionada para a guerra ao invés de ser canalizada
para a educação, ciência, tecnologia e ações sociais. Israel não quer
assistir seus jovens serem abatidos em guerras sucessivas e nem criar dificuldades e constrangimentos aos judeus de várias
nacionalidades que estão adaptados socialmente aos seus países de origem.
Desafiar a
ONU ou o conjunto de nações democráticas não são procedimentos que se inserem
na agenda diplomática de Israel. Ao contrário, ser alvo de caretas e puxões de
orelha públicos maltrata e ofende profundamente um país em guerra contra o
terror, revelando um desconhecimento da história que ignora o real cerne
da questão: o agudo ódio e a total beligerância alimentados continuamente por
grupos extremistas em sua ideologia de intolerância e exclusão contra a nação
judaica.
Israel
é um estado acuado e militarizado por força de uma posição geopolítica adversa,
já expressa à época de sua fundação pela atitude belicosa de seus vizinhos
árabes que logo nos primeiros dias de sua independência se lançaram à batalha
para inviabilizar a independência da nova nação que surgia. Grupos como o
Hamas, Hezbollah e Al-Qaeda (agora presente na vizinha Síria) rondam
sinistramente Israel e seus líderes vociferam discursos de aniquilação. A requentada
e insana ideia de varrer Israel do mapa, disseminada no boca a boca diário, nas
escolas, mesquitas, imprensa, rádio e tevês, permanece como a principal
propulsora dos sonhos e ilusões desses extremistas que infelizmente controlam e
orientam suas comunidades.
Ainda que
se multipliquem as perdas humanas de ambos os lados, as guerras e tréguas que
se alternam nessa funesta gangorra têm sido usadas por esses grupos como
estratégia de marketing para encurralar o estado de Israel e empurrá-lo para um
beco sem saída no cenário internacional. Nesses termos, Israel seria o
Golias forte e poderoso lutando contra um David fraco e impotente. Uma imagem primária
acerca dos conflitos na região que exclui a premeditação dessas guerras e a imensa
cota de responsabilidades dos agressores para com as suas próprias populações,
as mais atingidas e as que mais sofrem com a insensatez dessas lideranças.
*Sheila
Sacks é jornalista
Em 31 de
julho de 2014