A mensagem primordial das Escrituras
Sagradas Judaicas é sobre a existência do SER Primeiro; o ETERNO,
que não somente é o responsável pelo início de toda a existência material; mas
que continuamente a mantém existindo.
Mas não é pretensão das Escrituras
Sagradas – por motivos óbvios - nos descrever “quem” ou “o quê” é D-us. Antes,
as Escrituras relatam fenômenos e acontecimentos provocados pelo SER, para que
possamos aprender a perceber Sua existência e participação em nosso mundo. O
conhecimento acerca de D-us vai sendo revelado gradualmente através das
Escrituras, desde o primeiro livro, Bereshit; até sua expressão máxima,
na Revelação do Sinai. Somente então, são outorgados Mandamentos, tais como: “Somente
guarda-te a ti mesmo, e guarda muito tua alma, para que não esqueças
as coisas que os teus olhos viram ...” (Devarim 4:9).
O objetivo das Escrituras Sagradas é
demonstrar ao homem que ele possui uma razão de ser e uma missão a cumprir
neste mundo. Seu dever é “vencer a si mesmo” subjugando seus instintos
animalescos à seu sentido espiritual. Deve procurar a vitória da mente sobre o
corpo, do espírito sobre a matéria. É dever de cada ser humano, construir seu
próprio paraíso neste mundo, fazendo que a Divina Presença tenha lugar em nossa
dimensão.
Embora a Divindade seja em essência um
mistério, as Escrituras nos instruem sobre o que é “compreensível” sobre
D-us, descrevendo-nos Seus “atributos” de forma antropomórfica, para que
possamos ter uma idéia em mente sobre o SER Primeiro, e assim sejamos capazes
de Lhe dirigir nossas orações e intenções. São estes “atributos” que nos
revelam as características da ação divina no mundo material e nos orientam
sobre o mecanismo do universo em que vivemos.
Tais informações chegaram até nos por
meio da Tradição Judaica, que tanto nos preservou as Escrituras
Sagradas, como também a Jurisprudência de todos os seus mandamentos,
revelando o significado de todas as suas passagens. De uma mesma fonte temos
tanto o texto, como a exegese, tanto as palavras como o sentido; tanto o corpo
como a alma do Judaísmo. A fidelidade da Tradição Judaica é verificada, não
somente pelo seu sucesso inigualável em preservar por séculos os manuscritos
sagrados que contém os relatos da revelação divina, como também; com a mesma
fidelidade, preservar a interpretação destes manuscritos, transmitindo geração
após geração, tal qual foram recebidos desde o princípio. É por esta precisa razão que a Torá, os
Profetas, os Escritos Sacros; e todos os sábios que desenvolveram o Judaísmo
posteriormente, procuram sempre o modelo antropomórfico de linguagem pelo que
ficou estabelecido, “a Torá fala na língua dos homens”.(Talmud,
Tratado de Berahot 31b)
As palavras e idéias sobre D-us devem
ser de tal forma, que sejam facilmente captadas pela mente do ouvinte, capaz de
projetar imediatamente o tema tratado em sua mente; no sentido material. Então,
procede-se em investigar o conhecimento oculto, cuja apresentação inicial é
apenas uma metáfora de sua realidade; e esta realidade, tão sublime, tão acima
da compreensão humana em sua plenitude, começa aos poucos a se desnudar em
nosso pensamento. Jamais alcançamos a compreensão plena. Cada pessoa absorve do
conhecimento da verdade, aquilo que é especificamente capaz.
Em meio a tudo isso, devemos ter sempre
em mente o tempo todo, que para serem compreendidos, os termos antropomórficos
devem ser expurgados de toda conotação temporal, espacial ou corpórea. Isso
implica que todas as referência, noção e conceito antropomórfico, literalmente
falando, não podem ser atribuídos a D-us, como estabelecido claramente pelas
Escrituras, Ieshaiáhu 40:18 - 25
18. A quem, pois, podeis
comparar o ETERNO? Ou a que O podeis assemelhar?
25. A quem, pois, Me podereis comparar
como se Eu fosse igual? – diz o Santíssimo.
Elohim
O primeiro atributo que aparece nas
Escrituras Sagradas Judaicas é o termo semita Elohim. Sendo uma
“referência à Divindade” é muito comum que seja traduzido em Português
diretamente como “Deus”, quando não “deuses” por ser plural. Porém,
literalmente Elohim significa: Forças, Poderes, Autoridades. Trata-se da
forma plural do termo Él, também traduzido como Deus, mas com o mesmo
significado de Elohim no singular. É importante notar que nenhum dos
atributos de D-us é uma “descrição” do Seu SER até porque isso é
tecnicamente impossível. Trata-se de “referências” ou indicações, com as quais
poderemos conceber alguma idéia acerca da Divindade no mundo físico. Tais referências apontam para uma “atividade”, ou “ação”
de causa divina em nosso mundo, e isto nos proporciona reconhecer a existência
de D-us em nosso mundo. A primeira vez que o termo Elohim aparece, é no
primeiro versículo do primeiro livro das Escrituras, Bereshit:
1. No princípio ao criar Elohim
os céus e a terra...
Eis o princípio fundamental sobre o
qual repousa toda fé nas Escrituras Sagradas. Jamais poderemos descrever a
essência da Divindade, e portanto; o profeta Moshê nos leva o mais próximo
possível desta noção; nos leva às forças multifacetadas que se lhe
manifestaram em visão, no momento em que o universo veio à existência. Eis o
esplendor da Divindade, perceptível pela nossa inteligência: As forças
universais que regem a existência de todas as coisas, sem as quais nada pode
existir; as leis que chamamos “naturais”; todas as misteriosas formas de
energia espalhadas pela vastidão universal, todos os fenômenos da matéria, suas
leis inalteradas e constantemente em transformação, eis aí o testemunho de que
nosso universo é obra de D-us. As substâncias que compõem a existência nos
parecem ser as mais variadas e distintas formas possíveis. Fortes contrastes
encontramos em todos os elemento que nossos químicos listaram na tabela
periódica, cada elementos singular em sua composição, embora sejam todos
constituídos da mesma substância. Esta diversidade química foi por eles
testemunhada na natureza, nas variadas formas de minerais e vegetais, dos
tecidos em todas as espécies de animais. Mas todas as múltiplas manifestações
da matéria na natureza são intimamente relacionadas; e se mostram apenas sob
forma transformada da outra. Moshê vislumbrou além da matéria neste mundo. Ele
pode perceber a infinitamente maior variedade de substâncias e transformações
pelo universo vasto que viu surgir. A visão que lhe foi concedida lhe permitiu
contemplar galáxias em formação, lhe permitiu enxergar os detalhes da formação
de cada e toda partícula, e as milhares de transformações até sua forma atual.
Moshê vislumbrou toda a glória do ETERNO, seu testemunho dela foi: No
princípio, ao criar Elohim os céus e a terra. Neste único verso, ele nos
demonstra a profunda realidade sob a qual existimos: Somos todos frutos da
Inteligência Suprema, o ETERNO o SER Primeiro.
Portanto, Elohim remete-nos à
manifestação Divina nas leis universais que mantém a existência universal. Todo
e qualquer fenômeno, tanto neste mundo; como em qualquer ponto no universo,
demonstra a atividade e presença do SER Criador. Toda vez que este termo
aparece nas Escrituras nos indica que o fenômeno descrito ocorreu por meio das
leis universais, e que por meio de tais fenômenos D-us demonstra em maior ou
menor grau a realidade da Sua Presença, de acordo com o mérito do receptor da
revelação.
* Hai Mendel, economista, da comunidade judaica de São Paulo.