Historiador estuda a relação entre Israel e o texto sagrado
As notícias da construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia são recebidas com pessimismo por palestinos. Na comunidade internacional, diz-se que a política de expansão entrava a paz. Mas o historiador Shlomo Sand se preocupa, por ora, com outras edificações: não as casas erguidas em assentamentos, e sim as construções feitas em cima da história sionista. “É imaginação política pensar que esse território pertence aos judeus”, afirma.
No livro “A Invenção da Terra de Israel”, Sand estuda a ideia de que há uma relação entre o Estado de Israel e o texto sagrado – e, então, discute se o argumento religioso pode ser de fato a pedra angular de uma nação. Em ambos os casos, ele conclui que não. “A tradição judaica enxergava essa terra como sagrada e nunca pensou que ela devesse estar em posse dos judeus”, diz. “Mas a maior parte dos israelenses foi educada como eu, estudando a Bíblia não como um livro religioso, mas como uma obra nacional”.
A ideia é controversa tanto à direita quanto à esquerda no espectro político israelense, assim como foi polêmica a teoria expressa em seu livro anterior, “A Invenção do Povo Judeu”, em que Sand criticou a noção de que há “uma existência judaica pura”.
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Shlomo Sand |
O “mainstream” dos historiadores em Israel discorda, mas Sand afirma, por sua vez, que “a historiografia local está cem anos atrasada”. “Uma das fraquezas da esquerda sionista, no país, é a crença ingênua de que Israel pertence aos judeus”.
A questão pode parecer acadêmica, mas tem peso real na política. Israel exige que palestinos reconheçam o “caráter judaico” do Estado para dar continuidade às negociações de paz entre ambos. A liderança palestina se recusa a fazer esse gesto. “Definir o Estado como ‘judaico’ não é democrático”, diz Sand. “É como falar que o Brasil é um país branco”.
Segundo a tese de “A Invenção da Terra de Israel”, “a ideia de propriedade da terra é europeia e moderna” e não tem a sua origem na tradição judaica. “Os sionistas criaram a noção de que Israel pertence aos judeus”.
Israel foi criado em 1948, após décadas de imigração judaica para o que era, à época, o mandato britânico da Palestina. O movimento sionista pedia, desde o fim do século XIX, o estabelecimento de um Estado judaico. “A maior parte das pessoas se opunha a essa noção”, afirma Sand. Até que o nazismo perseguiu judeus na Europa, vitimando milhões deles no Holocausto, após o que a imigração a Israel passou a ser assunto urgente.
Ficha
O QUÊ. “A Invenção de Israel”, de Shlomo Sand, editora
Benvirá, 376 páginas,
R$ 47,50