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Jogos mortais


Terrorismo manchou a Olimpíada de 1972
Ninguém se lembra do cachorrinho bassê chamado Wald. Em 5 de setembro de 1972, o rosto encapuzado de um terrorista tomou seu lugar como símbolo da Olimpíada de Munique. Perto das 4h30 da manhã, oito homens mascarados invadiram o alojamento da equipe israelense. Deram de cara com o treinador Moshe Weinberg, de 33 anos, e o mataram a tiros. Em seguida, o levantador de peso Yosef Romano também foi assassinado. No segundo piso do prédio de dois andares, os terroristas fizeram nove reféns, todos membros da delegação de Israel, e anunciaram pertencer ao Setembro Negro. Queriam a libertação de 234 palestinos presos. 
Quase desconhecido até então, o grupo já havia organizado dois ataques. Em novembro de 1971, matou a tiros o primeiro-ministro da Jordânia, Wasfi Tell, na entrada do hotel Sheraton, no Cairo. Dias depois, um homem no centro de Londres abriu fogo contra o carro do embaixador da Jordânia Zaid el Rifai, que sobreviveu. A escolha de alvos jordanianos era uma vingança pelos 4 mil palestinos mortos em 1970 em Amã, capital da Jordânia, durante uma tentativa de expulsá-los do país. 
O fato ocorreu em 17 de setembro (daí o nome da organização). Para William Daddio, da Universidade de Georgetown, o Setembro Negro é fruto de uma época de recrudescimento dos atritos entre Israel e os países árabes, após a Guerra dos Seis Dias. “Em 1967, o Exército israelense ocupou a Faixa de Gaza na Jordânia e partes da Síria e do Egito, onde viviam 1 milhão de palestinos. Uma massa descontente que se juntou aos 700 mil exilados desde a criação do Estado de Israel, em 1948.”Quase ninguém entre as 900 milhões de pessoas que acompanharam pela TV as imagens do seqüestro em Munique sabia disso. A causa palestina, pela primeira vez, chegava aos ouvidos do mundo, e de forma avassaladora. Depois de 18 horas de impasse, a polícia alemã organizou uma tentativa de resgate num aeroporto militar próximo de Munique. 
Já era noite quando dois helicópteros levantaram vôo da Vila Olímpica, levando a bordo os nove reféns e oito terroristas. No aeroporto, onde estava o Boeing 727 exigido para a fuga, atiradores foram posicionados e policiais disfarçados ficaram dentro do avião para capturar os terroristas que fariam a inspeção da aeronave. Porém, os policiais pressentiram que seriam vítimas de uma ação suicida e abandonaram seu posto. 
Quando os “inspetores” do Setembro Negro chegaram ao 727, os alemães abriram fogo. Os terroristas detonaram uma granada no helicóptero onde quatro atletas israelenses estavam amarrados. Os outros reféns foram mortos a tiros. Um policial e cinco terroristas também morreram. Três palestinos foram presos. Em 29 de outubro, após um seqüestro de um avião da Lufthansa, eles foram libertados. Em poucas horas, chegaram a Trípoli, na Líbia, onde foram recebidos como heróis.

Vítimas e carrascos

Dois lados de uma história de violência que divide israelenses e palestinos
Hassam Salameh
Também conhecido como “Príncipe Vermelho”, era uma das pessoas mais próximas de Yasser Arafat e seu provável sucessor no comando da OLP. Era, também, um dos líderes do Setembro Negro e um dos mentores do plano para atacar a Vila Olímpica. Foi o terrorista mais procurado pelo Mossad e levou anos para ser encontrado. Morreu em 22 de janeiro de 1978, quando um carro explodiu ao lado do seu nas ruas de Beirute.
Aharon Yariv
O general foi o primeiro a defender uma reação de força ao ataque de Munique. Criou o Comitê X, grupo de espionagem ligado à primeira-ministra Golda Meir. Nascido em Moscou, emigrou para a Palestina em 1935, na época sob domínio do Reino Unido. Em 1946, entrou para os grupos sionistas e iniciou carreira na inteligência militar. Considerado um gênio no assunto, tinha a total confiança de Golda Meir.
Ahmed Bouchiki
Depois de uma intrincada ação de espionagem que envolveu dezenas de agentes – incluindo até um brasileiro – e cinco países, o Mossad perseguiu e executou um garçom. O marroquino Bouchiki foi confundido com Ali Hassam Salameh e acabou assassinado a tiros na frente da esposa, uma norueguesa, grávida de sete meses, em julho de 1973. Esta foi a única morte violenta em Lillehammer em 40 anos.
Zvi Zamir
Era o chefe do Mossad na época do ataque à Vila Olímpica. Foi enviado a Munique pela primeira-ministra israelense para acompanhar a ação de resgate da polícia alemã – ele assistiu ao vivo à batalha no aeroporto em Munique. Em entrevista gravada no documentário One Day in September, acusou a polícia alemã de falta de preparo para a ação e de fraqueza durante a negociação com os terroristas palestinos.
Abu Iyad
Comandante do Setembro Negro e membro do alto escalão do Fatah, foi ele quem organizou o grupo que iria tomar o alojamento israelense em Munique. A idéia de render “o maior número de atletas possível” saiu de sua cabeça. Amigo de Yasser Arafat, era identificado como o elo entre os terroristas do Setembro Negro e a OLP. Curiosamente, não foi perseguido pelo serviço secreto israelense.
Ehud Barak
Comandou o grupo de elite do Exército de Israel conhecido como “A Unidade”, escalado para um eventual resgate dos atletas israelenses, ainda na Vila Olímpica. Foi peça fundamental na caçada aos membros do Setembro Negro, liderando ações que executaram alguns dos principais terroristas.Tornou-se político e primeiro-ministro de Israel em maio de 1999, cargo que ocupou até dezembro de 2000.

"Tenho orgulho do que fiz"

Único terrorista sobreviventedo massacre em Munique ainda vive escondido
O cineasta Kevin Macdonald (diretor de One Day in September) encontrou Jamil Al-Gashey, o único terrorista que participou do ataque em Munique que ainda está vivo, em 1998. Até hoje ele não sabe sequer em que país foi feita a gravação. “Passei seis horas vendado e fui levado assim ao estúdio”, diz Macdonald. “Não podia fazer perguntas, dar ou receber telefonemas. Tudo foi preparado pelos contatos de Al-Gashey. Algumas vezes ele ficava bravo e paranóico. Gritava, saía da sala e depois voltava”, diz. Leia, a seguir, trechos do depoimento.
A motivação
Minha família fugiu da Galiléia, em 1948. Em Beirute vivi como refugiado. Entrei para o movimento de libertação, recebi uma arma e treinei para usá-la. Senti-me um palestino pela primeira vez, e não um refugiado miserável.
O treinamento
Ficamos na Líbia por um mês e senti que algo grande estava para acontecer. Eu e mais dois membros viajamos para a Alemanha dois dias antes da operação e encontramos os outros. No dia seguinte, eu e um colega assistimos aos jogos de vôlei.
A invasão
Na noite da operação, o líder nos disse qual seria a missão. Fiquei orgulhoso. Então fomos para o alojamento dos israelenses, cada um com uma bolsa onde estavam as armas. O líder entrou no primeiro quarto, mas não percebeu que havia um israelense atrás dele. Nosso grupo atirou. Não tínhamos ordem para matar, mas fomos forçados quando as coisas deram errado. Não senti medo. Estava apreensivo, como qualquer um ficaria. Tinha medo apenas de falhar.
O aerôporto
Sentimos que uma emboscada estava nos esperando e começamos a nos preparar. Nos haviam dito que se algo desse errado devíamos combater com fúria. Alguns saíram do helicóptero, enquanto os outros ficaram esperando com os reféns. Os israelenses estavam muito assustados e falamos que seria melhor eles ficarem quietos. Quando o tiroteio começou, todos abrimos fogo. Eu me orgulho do que fiz, porque isso ajudou a causa palestina.
"Eu não tive medo. Tinha medo apenas de falhar."
Jamil Ali-Gashey

Saiba mais

Livros
One Day in September, Simon Reeve, Arcade Publishing, 2001 - Detalha o planejamento da ação do Setembro Negro e a reação israelense. Reproduz entrevistas da época com os principais envolvidos.
Vengeance, George Jonas, Lester & Orpen, 1984 - Baseada no depoimento de um ex-agente do Mossad, a obra serviu de base para o filme de Spielberg.
Memórias de um Terrorista Palestino, Abu Daoud, Arcade Publishing, 1999 - Revelações de um dos mentores da ação de 1972.
Filme
One Day in September, Kevin Macdonald, 2000 - Reúne entrevistas até então inéditas, incluindo a do único terrorista sobrevivente de Munique.
Revista
Superinteressante, “Munique 1972”, janeiro/2006 - Traz um infográfico inédito sobre a tentativa frustrada de resgate no aeroporto em Munique.

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