
O corpo do ex-premier será velado no prédio do Parlamento antes de ser enterrado em seu rancho no Deserto do Neguev, ao lado do de sua mulher, Lily, morta de câncer em 2000.
— Ele partiu quando decidiu partir — disse o filho Gilad Sharon.
Em coma desde o derrame, Sharon foi submetido a várias cirurgias, sendo a última em setembro para corrigir um problema no sistema intravenoso de alimentação. No início do ano passado, no entanto, um exame revelou que seu cérebro ainda registrava atividade significativa. Segundo o professor Shlomo Nov, do hospital onde Sharon estava internado, o coração do ex-premier enfraqueceu devido aos problemas dos últimos dias e ele "foi pacificamente separado de sua família".
A internação do então premier, em 2006, forçou a transferência de poder para seu vice, Ehud Olmert. Após mais de 50 anos no cenário político e militar israelense, Sharon conquistou seu lugar nas páginas da História como símbolo da dureza. De jovem combatente dos grupos clandestinos judaicos que atuavam na antiga Palestina antes da criação do Estado de Israel, Sharon fez carreira no Exército, entrou na política e enlouqueceu seus adversários. Incentivou a colonização de terras palestinas, retirou assentamentos anos depois, enfrentou o líder palestino Yasser Arafat, ganhou destaque internacional e, nos anos antes do coma parecia tentar desvincular-se do apelido de Trator, que o acompanhou durante toda a vida pública.
— Ariel Sharon teve um papel central na luta pela segurança do Estado de Israel ao longo de toda a sua história. Era antes de tudo um bravo lutador e um grande militar — disse o premier Benjamin Netanyahu.
Aliados e adversários em Israel se juntaram ao premier no coro de lamentos pela morte do ex-líder. O presidente Shimon Peres disse ter perdido um "amigo próximo" e elogiou Sharon como um bravo soldado e um estadista. "Ele sabia tomar decisões difíceis e implementá-las. Nós todos o amávamos e sentiremos muito sua falta", disse Peres num comunicado.
O líder oposicionista Isaac Herzog destacou Sharon como "um grande líder" que soube "mudar sua visão do mundo e reconhecer o caminho certo para o Estado de Israel".
No lado palestino, no entanto, os comentários não tiveram o mesmo tom de elogio ao ex-líder israelense morto.
— Ficamos mais confiantes na vitória com a partida desse tirano — afirmou Sami Abu Zirhi, porta-voz do movimento islamista Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
Já o líder do Fatah, partido do líder histórico palestino Yasser Arafat e no governo na Cisjordânia, classificou Sharon como "criminoso, responsável pelo assassinato de Arafat".
— Esperávamos que comparecesse ante o Tribunal Penal Internacional como criminoso de guerra — declarou Jibril Rabub.
A Autoridade Nacional Palestina (ANP), que governa a Cisjordânia e está em processo de retomada de negociações de paz com Israel — sob mediação dos EUA — absteve-se de fazer comentários nas horas seguintes ao anúncio da morte.
No resto do mundo, líderes emitiram comunicados lamentando a morte do ex-premier. O presidente Barack Obama, dos EUA — cujo secretário de Estado, John Kerry, está engajado na tentativa de reavivar o processo de paz — enviou condolências e reafirmou a aliança inquebrantável do país com Israel. "Continuamos a lutar por paz e segurança duradouras para o povo de Israel, inclusive por nosso compromisso com o objetivo de dois Estados vivendo lado a lado em paz e segurança", disse o comunicado da Casa Branca. "Enquanto Israel dá adeus ao primeiro-ministro Sharon, nos unimos ao povo israelense para homenagear seu compromisso com seu país".
O escritório do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ressaltou a mudança de Sharon de linha-dura para a busca de uma solução negociada com os palestinos. Sharon "será lembrado por sua coragem política e determinação de levar adiante sua dolorosa e histórica decisão de retirar colonos e tropas israelenses da Faixa de Gaza", disse o comunicado.
O presidente da França, François Hollande, enviou condolências à família e enfatizou as ações de Sharon no fim de sua vida política. "Após uma longa carreira política e militar, ele fez a escolha de voltar-se para o diálogo com os palestinos", disse o presidente num comunicado.
Já a chanceler federal alemã, Angela Merkel, ressaltou a "valente decisão" de Sharon de retirar os israelenses de Gaza. Num breve comunicado, o premier britânico, David Cameron, disse que Sharon "tomou decisões valentes e controversas em busca da paz". "Israel perdeu hoje um líder importante", disse ele.