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Guerra religiosa no Porto. Rabino de Belmonte pede desculpa a padre católico

No espaço de uma semana, a aproximação entre as comunidades católica e judaica do Porto ruiu, com o projeto de criação do Centro Interpretativo da Memória envolto em polêmica e com o Encontro Diálogo e Reconciliação a ser adiado.

A ideia de criar um Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova no Porto, defendida pelo padre católico Jardim Moreira, da paróquia da Vitória, foi “contrariada” pela comunidade judaica daquele concelho.

Para travar este projeto, contribuiu não só o chumbo do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) – que adiou nova candidatura a fundos para o ciclo 2014/2020 – mas também o apelo do rabino Daniel Litvak ao patriarca de Lisboa, divulgado na terça-feira, na qual descrevia o Centro Interpretativo da Memória como “malévolo”.

“Advertimos que iríamos considerar a sua execução como uma agressão ao judaísmo e que iria criar grande descontentamento no mundo judaico. Dada a trágica história do judaísmo em Portugal, para nós um museu do judaísmo em Portugal seria uma espécie de Museu do Holocausto”, lê-se na carta de Daniel Litvak.

Distante desta tese, o padre Jardim Moreira defende que o Centro Interpretativo, orçado em 1,6 milhões de euros, seria “importante”, argumentando que o Porto é procurado por turistas judeus de todo o mundo.

O padre católico conta que os visitantes procuram o ehal – um nicho de pedra lavrada onde a comunidade judaica guardava a Torá – descoberto há 12 anos num prédio da Rua de São Miguel que atualmente alberga um lar de idosos.

Estando afastada a hipótese de transferir os cerca de 40 utentes do lar, a Câmara cedeu à paróquia da Vitória, em 2013, um edifício devoluto numa artéria perpendicular à de São Miguel para a instalação do Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova, idealizado por Jardim Moreira.

Mas Daniel Litvak, na carta enviada ao patriarca de Lisboa, recorda uma conversa que manteve, há quatro meses, com o padre da Igreja da Vitória e com os líderes da comunidade judaica do Porto, na qual expressou a sua oposição a este projeto. Mostrou-se mesmo “surpreso” por ter sido submetido a candidatura ao anterior QREN.

E assim, entre o chumbo dos fundos comunitários e a polêmica entre as comunidades católica e israelita, o Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova ficou “parado”, o que conduziu, também, ao adiamento do Encontro Diálogo e Reconciliação marcado para terça-feira, que seria promovido pela paróquia da Vitória e pela Rede de Judiarias de Portugal.

Neste encontro, “pela primeira vez em Portugal”, iria ser cantada a oração Shemá Israel por responsáveis da Igreja Católica, rabinos e dirigentes de comunidades Judaicas portuguesas e bispos das Igrejas Anglicana e Luterana.

“A oração Shemá Israel é a base das religiões monoteístas e abramistas”, explicavam os promotores da iniciativa em comunicado.

O evento, acrescentavam os responsáveis, “pretendia ser um exemplo de diálogo inter-religioso e de fomento da paz entre os povos e as culturas do mundo”, mas a carta do rabino israelita a manifestar-se contra a criação do Centro Interpretativo da Memória Judaica e Cristã-Nova no Porto gerou o adiamento do encontro.

O padre Jardim Moreira escusou-se a comentar toda esta polêmica à Lusa, considerando apenas que, desta forma, “está lançada a discussão em torno da cooperação entre as várias religiões”.

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