Hoje, 56% dos recém-nascidos nos EUA são circuncidados.
Uma nova orientação da Academia Americana de
Pediatria defende a circuncisão de recém-nascidos, sob o argumento de
que seus benefícios ultrapassam os riscos.
Entre as vantagens, segundo a academia, está a prevenção de infecções
urinárias, de doenças sexualmente transmissíveis, como o HPV e o HIV, e
do câncer de pênis.
Hoje, 56% dos recém-nascidos nos EUA são circuncidados-cerca de 1
milhão a cada ano. As taxas mais elevadas estão em áreas onde há uma
tradição cultural ou religiosa (como entre os judeus e os muçulmanos).
No Brasil, não há estimativas.
Segundo a academia americana, a decisão ocorreu após estudos feitos
nos últimos sete anos atestarem os benefícios do procedimento. Um deles
diz que há uma redução de 90% no risco de infecções urinárias no
primeiro ano de vida.
"É impossível continuar neutro após evidências tão robustas", diz o
pediatra Paulo Cesar Nogueira, membro do departamento de nefrologia da
SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Mas, segundo ele, não deve haver nem nos EUA nem no Brasil uma
recomendação expressa para que todos os meninos sejam circuncidados.
"Continuará sendo uma decisão exclusiva dos pais."
POLÊMICA
"Do ponto de vista médico, os benefícios da circuncisão na redução de
riscos de doenças ultrapassam os pequenos riscos envolvidos no
procedimento", disse o pediatra Andrew Freedman, coautor da revisão
publicada na "Pediatrics" que embasou a nova orientação.
Ainda assim, a postura da academia é polêmica. Médicos dizem que as
evidências científicas sobre os benefícios são questionáveis e que o
procedimento expõe crianças a riscos desnecessários.
Para o professor Antonio Macedo Júnior, chefe do grupo de
uropediatria da Unifesp, só crianças com indicações clínicas (como as
que têm malformações congênitas do trato urinário) devem se submeter à
circuncisão.
"Há riscos de infecção ou mesmo anestésicos no procedimento que precisam ser levados em conta."
Fora essas situações, segundo ele, a circuncisão seria justificada em
regiões onde há muito câncer de pênis associado à falta de higiene ou
em locais com alta incidência de HIV.
DECISÃO
A decisão americana ocorre num momento em que há declínio na
cobertura das circuncisões por parte das seguradoras de saúde em ao
menos 18 Estados americanos.
Um recente estudo mostrou que essa tendência poderá contribuir para o
aumento dos custos de cuidados de saúde para tratar infecções urinárias
e aquelas causadas pelas DSTs.
"A principal razão dessa nova orientação é econômica e não por haver benefícios claros", diz Macedo Júnior.