Nosso patriarca Yaacov é qualificado pela Torá como "ish tam yoshev
ohalim"(Bereshit 25:27) – um homem íntegro (estudioso), freqüentador dos
recintos onde se estuda Torá.
Antes de ir à casa de seu tio Lavan, estudou Torá por 14 anos na Yeshivá
que havia sido instituída por dois importantes personagens daquela
época: Shem (filho de Nôach) e Êver (bisneto de Nôach). A dedicação de
Yaacov à Torá durante os 14 anos de estudos chegou até o ponto de ele
nem se deitar.
O versículo "Vayishcav bamacom hahu"(Bereshit 28:11) –
Deitou-se naquele lugar – Rashi explica, que se deitou apenas naquele
lugar, conseqüentemente, excluindo outros lugares. Isso nos ensina que
deitou-se ali, porém durante os anos de estudo na Yeshivá de Shem e
Êver, sequer chegou a deitar-se, tamanha sua dedicação aos estudos.
Vejamos então um pouco sobre o tema do estudo da Torá e sua importância
no judaísmo, segundo o enfoque do livro Shearim el Hayahadut, de autoria
do Rabino B. Efrati.
O ser humano é constituído de corpo e alma. Uma das necessidades básicas
do corpo do ser humano é a alimentação, que constitui o seu sustento. O
sintoma da fome é o alerta do corpo para esta necessidade primária. Há
dois sintomas diferentes de fome na constituição do ser humano: uma
aparente e outra oculta. A aparente é aquele sentido imediato da
necessidade de alimentação, que se manifesta pela sensação de estômago
vazio, fraqueza, tontura, etc. Estes sintomas de fome são eliminados ao
se consumir uma determinada quantidade de alimentos.
O sintoma de fome oculta, por sua vez, só será sentido com o tempo; é a
necessidade fisiológica de vitaminas, proteínas e sais minerais que se
manifesta por alguma doença ou algum distúrbio físico que obriga o
indivíduo a procurar um médico e submeter-se a uma série de exames. A
partir de então, terá de alimentar-se preocupando-se com a qualidade dos
alimentos consumidos.
A alimentação quantitativa tem como origem a necessidade de sanar a fome
aparente, não levando em consideração a qualidade do alimento ingerido.
A alma, da mesma forma que o corpo, necessita de "alimentação". Há
também dois sintomas desta fome espiritual: a fome espiritual aparente e
a oculta.
A fome espiritual se manifesta por um vazio interior e deve ser sanada
com a quantidade necessária de sustento espiritual. Entretanto há o
perigo de preencher este vazio sem levar em consideração a qualidade do
sustento espiritual. O indivíduo passa a preencher seu tempo de forma
errada, com "alimentos" que não o preenchem com as verdadeiras
necessidades espirituais. Por exemplo, uma leitura inadequada ou outra
atividade qualquer, que mate o tempo apenas quantitativamente e não
qualitativamente.
A fome espiritual oculta passa a ter seus sintomas com o decorrer do
tempo. Eles manifestam-se por deslizes no comportamento, angústia,
depressão, e o desespero de não mais encontrar o sentido da vida. O
sustento espiritual da fome oculta é condicionado a uma boa qualidade de
"alimento" espiritual, que possa de fato preencher e nutrir a alma com
conceitos e estudos de alto nível. Estes são os sustentos básicos para
sua formação, "vitaminas" para sua subsistência e "calorias" para
revigorar suas energias. O único "alimento" capaz de preencher os
requisitos da alma para sua subsistência e seu desenvolvimento natural e
sadio é o estudo da Torá, em todas as suas áreas: Torá, Mishná, Talmud,
Midrash e Mussar.
Todas elas contêm o potencial para suprir as necessidades espirituais do
indivíduo e por intermédio do estudo da Torá e seu aprofundamento,
alcançamos para nossa alma o equivalente ao que alcançamos por
intermédio da melhor alimentação para o nosso corpo.
No versículo: "Hoy col tsamê lechu lamáyim! Vaasher en lo cássef lechu
shivru veechôlu, ulchu shivru belo kêssef uvlo mechir yáyin vechalav!"
(Yesha'yáhu 55:1-2) – Ah! Todos vocês que têm sede, eis a água! Vocês
que não têm dinheiro, venham, abasteçam-se e comam gratuitamente, sem
retribuição. Venham, abasteçam-se de vinho e de leite! – o profeta
compara a Torá à água, ao vinho e ao leite.
O Radak, comentarista do Nach explica que da mesma forma que o mundo
necessita de água, uma substância de primeira necessidade, a humanidade
necessita de sabedoria. Assim como um indivíduo sedento necessita de
água, a alma necessita do estudo e do cumprimento da Torá. Da mesma
forma que o vinho alegra os corações (yáyin yessamach levav enosh), o
estudo da Torá alegra os que a estudam (pikudê Hashem yesharim
messamechê lev). Assim como o leite é o alimento básico do recém-nascido
e da criança para seu bom desenvolvimento físico, assim também o estudo
da Torá é básico e fundamental para o progresso e o bom desenvolvimento
da alma.
Consta no profeta Amôs (8:11): "Hinê yamim baim neum Hashem Elokim
vehishlachti ráav baárets, lô ráav lalechem velo tsamá lamáyim ki im
lishmoa et divrê Hashem" – Dias virão, diz D'us, quando enviarei a fome e
a sede. Não será uma fome em busca do pão, nem sede pela água, mas sim,
a necessidade de ouvir as palavras do Eterno.
Fonte: revistanascente.com.br