O Rabino Nissan ben Avraham e os Bnei Anussim

O Rabino Nissan ben Avraham e os Bnei Anussim

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Lugar: a cidade de Barcelona na Espanha.

Tempo: aproximadamente 500 anos atrƔs.

Um grupo de pessoas entrou em segredo em um dos prĆ©dios nĆ£o tĆ£o aparente em uma ruela a beira da cidade. O trajeto atĆ© o lugar nĆ£o foi fĆ”cil, e o tempo todo se viravam para trĆ”s para ver se as pessoas que os perseguem, nĆ£o estavam nos seus rastros.

As dezenas de pessoas que se amontoaram no sotĆ£o do prĆ©dio, nĆ£o chegaram alĆ­ juntas. Cada uma veio de seu prĆ³prio lugar, e atĆ© mesmo tentou aumentar o trajeto o quanto possĆ­vel, e tudo para esconder o destino e o objetivo de sua ida atĆ© alĆ­.

Eles chegaram alĆ­ com o objetivo de participar de uma aula de TorĆ”, o que era proibido a eles de acordo com as regras que lhes foram impostas pelo governo em seu paĆ­s.

Eles eram os “anussim”.

Os judeus “anussim” eram, como sabemos, judeus para todos os efeitos, que escondiam em pĆŗblico sua religiĆ£o, apĆ³s restarem-lhes somente duas opƧƵes: ou abandonar sua terra natal, a Espanha, ou converter-se ao catolicismo e abandonar sua religiĆ£o, e assim poderiam ficar na Espanha e viver por longas e longas geraƧƵes. A maioria dos judeus que respeitavam a lei, optaram obviamente, por abandonar o paĆ­s. PorĆ©m, muitos deles resolveram aceitar a segunda opĆ§Ć£o e converteram-se, mas apenas de modo aparente, e as escondidas, estes judeus continuavam a praticar as mitzvot (preceitos de D-us), e sĆ£o eles os denominados “anussim”.

Hoje em dia, Sefarad (Espanha em hebraico) e outros paĆ­ses ao seu redor, estĆ£o repletos de pessoas que afirmam ser descendentes dos “anussim” (bnei anussim – descendentes de marranos ou anussim). Grande parte deles, atĆ© mesmo, sustentam a prĆ”tica, durante geraƧƵes, de alguns costumes, como acendimento das velas e outros, e isso para provar que eles sĆ£o realmente descendentes dos “anussim”. PorĆ©m, obviamente, devido os anos que se passaram, jĆ” nĆ£o Ć© mais possĆ­vel comprovar quem realmente Ć© filho de uma famĆ­lia judaica de anussim e que nĆ£o tenha se assimilado durante essas geraƧƵes.

O Rabino Nissan ben Abraham, ele prĆ³prio Ć© descendente dos “anussim”. Quando ele descobriu esta realidade, fez de tudo para retornar as suas raĆ­zes judaicas anteriores. Ele viajou para Israel, ficou por aqui por alguns anos, e finalmente fez a conversĆ£o de acordo com a “HalachĆ”” (lei judaica) e hoje Ć© um judeu temente aos cĆ©us e respeita as leis. HĆ” dois anos atrĆ”s, comeƧou o Rabino ben Abraham, a ocupar a funĆ§Ć£o de “Rabino dos descendentes de Anussim”, esta funĆ§Ć£o Ć© muito especial, pelo interesse e a sede que existe entre os “bnei anussim”, em aprender e conhecer mais sobre o judaĆ­smo, a religiĆ£o que seus antepassados respeitavam e pertenciam e que tiveram de abandonar para nĆ£o perder suas vidas.

“Nasci no ano 5718 (1948) em Maiorca”. Maiorca, explica o Rabino Nissan ben Abraham, Ć© um ilha no Mar MediterrĆ¢neo, em frente as praias espanholas e faz parte do territĆ³rio nacional espanhol. Ɖ um paraĆ­so turĆ­stico visitado por muitos turistas o tempo todo. A cerca de 600 anos, houveram em Maiorca levantes anti-judaicos, partindo dos habitantes catĆ³licos da ilha. Nesses levantes, a comunidade judaica foi praticamente dizimada. Quase todos os judeus foram mortos e os que sobreviveram resolveram converter-se ao catolicismo, mas Ć© claro que os seus coraƧƵes continuavam judeus e tentavam, a medida do possĆ­vel, continuar praticando o judaĆ­smo as escondidas.

AtĆ© o ano de 1661 existem comprovaƧƵes claras de que os “anussim” praticavam o judaĆ­smo na ilha de Maiorca. E isso Ć© possĆ­vel aprender de um simples fato – atĆ© entĆ£o a InquisiĆ§Ć£o praticava os Autos de FĆ© contra os “anussim” em Miorca. No ano 1690 morreram 36 judeus anussim pela mĆ£o dos inquisidores em um Auto de FĆ©, situaĆ§Ć£o que deixou os anussim sobreviventes e que ainda resistiam, em uma situaĆ§Ć£o difĆ­cil e eles procuraram, a partir daĆ­, nĆ£o mais “irritar” os inquisidores. Assim, a partir desta data, nĆ£o houveram mais Autos de FĆ©, o que presumi que nĆ£o haviam mais judaizantes (pessoas que praticavam o judaismo) na ilha.

A comunidade de descendentes de “anussim” de Maiorca hoje em dia tem cerca de 10000 pessoas. Ɖ nessa comunidade que cresceu o Rabino Nissan ben Abraham atĆ© seus 20 anos. “Todos os descendentes de “anussim” que vivem na ilha hoje, sĆ£o catĆ³licos fervorosos, porĆ©m eu pessoalmente sou considerado entre os habitantes da ilha, judeu, e Ć© melhor que seja assim. O tempo todo os catĆ³licos nos consideravam como judeus, na igreja chamavam os “anussim” de “judeus” e nos xingavam. Apesar de nĆ£o termos nunca sofrido nenhuma violĆŖncia fĆ­sica, sempre fomos tratados diferentes e com inferioridade pelos habitantes catĆ³licos da ilha.

“Pelos sobrenomes, que sĆ£o exatamente 14, era possĆ­vel saber quem eram os “anussim”, e essa separaĆ§Ć£o clara persistiu por mais de 500 anos. Apesar de algumas outras famĆ­lias terem se misturado com os catĆ³licos da ilha, essas 14 famĆ­lias especĆ­ficas foram discriminadas e nĆ£o conseguiram se livrar de seu carma, e eu digo graƧas a D-us”.

“Meu pai, foi um dos primeiros que se casou com uma mulher fora do grupo, fora da comunidade apĆ³s 600 anos que eles nĆ£o se misturavam. Assim, ficou claro que para que eu me tornasse judeu de fato, teria que passar pela conversĆ£o, o problema Ć© que naquela Ć©poca eu nĆ£o sabia disso. No ano 1970 fundaram na ilha uma comunidade judaica da linha conservadora, mas que os judeus pareciam mais ortodoxos que conservadores. Passei a frequentar a comunidade, depois que os seus membros me receberam de braƧos abertos.

O rabino Ben Abraham tinha entĆ£o somente 14 anos, e os membros da comunidade estavam preocupados com o que poderia pensar o governo da ilha, e no que estariam “doutrinando” aquele rapaz de 14 anos. Logo, pediram a ele que trouxesse uma autorizaĆ§Ć£o de seus pais para fazer parte nas oraƧƵes, eventos e festas comunitĆ”rias. Quando o rabino contou a seus pais sobre sua frequĆŖncia nas atividades da comunidade, eles nĆ£o responderam, ele entĆ£o, entendeu que o fato de nĆ£o opinarem era uma autorizaĆ§Ć£o para continuar frequentando.

“Quando terminei o meu serviƧo militar em Maiorca com 20 anos, fiz minha Aliah (imigraĆ§Ć£o para Israel), e fui viver na cidade de Afula onde estudei durante um longo tempo para fazer o meu Guir (conversĆ£o). Quando terminei o meu processo de conversĆ£o, continuei para os estudos de rabinato e consequentemente ao final deste, recebi a SemichĆ” (documento formal) de Rabino do Rabinato Chefe de Israel”.

Hoje em dia o Rabino Nissan Ben Abraham, mora em ShilĆ³ em Shomron (SamĆ”ria), estĆ” casado e Ć© pai de 12 crianƧas.

“No inĆ­cio trabalhei como professor no ishuv (pequenos vilarejos onde vivem famĆ­lias de colonos na JudĆ©ia e SamĆ”ria) e tambĆ©m fazia serviƧos como Sofer Stam (pessoa capacitada pelo Rabinato para escrever objetos sagrados, como Tefilin, Mezuzot, Meguilot, Sefer TorĆ”). Hoje em dia trabalho na OrganizaĆ§Ć£o Shavei Israel presidida por Michael Freund, a cerca de dois anos. Viajo durante duas semanas todo mĆŖs, nesse curto espaƧo de tempo tenho que estar em quatro ou cinco cidades diferentes, encontrar-me com descendentes de “anussim”, ensinar-lhes judaĆ­smo e suas leis. Explico-lhes o que Ć© o povo de Israel e qual o objetivo de cumprir as Mitsvot. ConheƧo, portanto, essas pessoas e posso afirmar que existem entre eles, famĆ­lias inteiras que tem casa cem por cento kasher, mas que nĆ£o sĆ£o famĆ­lias judias de acordo com a halachĆ”, ainda”.

O Rabino Ben Abraham afirma tambĆ©m que “existe uma diferenƧa primordial entre as comunidades de “anussim” da Espanha e da Ilha de Maiorca. Maiorca era um lugar fechado, que deixa claro que os “bnei anussim”, casaram-se somente entre si, endogamia mesmo, e na minha opiniĆ£o 99% dos descendentes de “anussim” na ilha sĆ£o judeus mesmo, tanto que inĆŗmeras vezes nĆ£o pude sequer pedir-lhes que acendam a luz pra mim no Shabat. Entretando, os “benei anussim” da Espanha, talvez tenham preservado alguns costumes, mas nĆ£o existe porĆ©m, nenhum testemunho de que tenham se casado entre si, ou que a mĆ£e sempre se manteve judia. Por isso digo, na minha opiniĆ£o, que ao contrĆ”rio de Maiorca, 99% dos descendentes de “anussim” na Espanha nĆ£o sĆ£o judeus de acordo com a “HalachĆ”””.

Especialmente na Ilha de Maiorca, onde existe um nĆŗmero grande de pessoas que pertencem ao grupo de descendentes dos “anussim”, e eles sĆ£o quase que certamente judeus, essas pessoas nĆ£o tem nenhuma intenĆ§Ć£o ou vontade de retornar a cumprir as mitzvot e isso porque? Eles ainda tem muito medo! Mesmo apĆ³s, centenas de anos eles ainda tem muito medo. Explica o rabino Ben Abraham: “este medo existe sem nenhuma dĆŗvida, mas nĆ£o deveria existir por que nĆ£o tem nenhuma lĆ³gica, quando falo sobre esse assunto com os anussim, eles negam completamente, e pra mim essa Ć© a prova, pois eles tem medo do que dirĆ£o os seus vizinhos. Eu, obviamente, nĆ£o posso andar pelas ruas dizendo para os bnei anussim voltarem a cumprir as mitzvot, Ć© possĆ­vel apenas dar aulas para aqueles poucos que nos procuram, na esperanƧa de que eles divulguem e espalhem o que aprendem para as outras famĆ­lias de bnei anussim e quem sabe assim possamos trazer mais e mais almas judias que estĆ£o afastadas da prĆ”tica das mitzvot”.

Fonte: Shaveiisrael
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  1. Muito lindo este estudo, e extremamente esclarecedora , muito bom mesmo.Parabens rabino Ben Abraham, por sua determinaĆ§Ć£o.

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