Comandantes do alto escalão das Forças Armadas de Israel
acusaram à Turquia de ter repassado ao Irã informações sobre a rede de
espionagem israelense no país do Golfo Pérsico, informou nesta
sexta-feira o jornal Yedioth Ahronoth.
"Sempre soubemos que o chefe da Inteligência turca
fornecia informação aos iranianos", afirmou um alto comandante
israelense ao jornal, depois que o Washington Post revelou ontem que o Irã capturou uma dezena de espiões israelenses, graças a essa informação.
Os agentes, aparentemente curdos e que agiam a partir do
território turco pela relativa facilidade de cruzarem a fronteira,
foram descobertos no ano passado.
A informação foi revelada na quarta-feira pelo
jornalista David Ignatius, mas o governo israelense não confirmou, nem
desmentiu os fatos.
Somente hoje, altos comandantes confirmaram, em condição
de anonimato, que as estreitas relações que os serviços de inteligência
israelenses tinham com seus pares turcos se transformou em um
"bumerangue", que informações cruciais em poder da Turquia foram
repassadas ao Irã, um arqui-inimigo de Israel.
"(A rede) começa a partir do primeiro-ministro, Recep
Tayyip Erdogan, que é anti-semita e simpatizante da Irmandade Muçulmana,
e se projeta para baixo, a todos os (funcionários) que Erdogan
introduziu (no governo)", garantiram as fontes.
Após décadas de cooperação secreta entre seus serviços
de inteligência, que viam os mesmos inimigos na região, Israel e Turquia
assinaram uma aliança estratégica em meados dos anos 1990, que foi
sendo desmontada pouco a pouco desde a chegada de Erdogan ao poder em
2003.
Foi a ofensiva militar israelense em Gaza em 2008-2009 e
o ataque israelense em 2010 ao Mavi Marmara, uma embarcação de uma
pequena frota de ativistas internacionais que se dirigiam à Faixa de
Gaza com ajuda humanitária, o que estremeceu as relações entre os dois
países.
Em março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
conseguiu que Israel pedisse perdão a Erdogan pela morte de dez
ativistas turcos naquele fato, mas, na prática, as relações continuam no
nível mais baixo.
Há três anos, em um comentário gravado por erro, o então
ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, revelou que seu país temia
que informações altamente sensíveis compartilhadas pelos dois países,
assim como a tecnologia de equipamentos militares avançados, acabassem
no Irã e acusou o chefe da Inteligência turca, Hakan Fidan, de ser o
responsável pelos vazamentos.
"É simpatizante do Irã, (os turcos) têm bastantes
segredos nossos em suas mãos, e só de pensar que podem cair nas mãos do
Irã nos preocupa bastante", disse Barak.
Outras fontes asseguraram ao jornal que a cooperação com
a Turquia e a venda de equipamentos sensíveis foi suspensa desde o
momento em que Israel soube que Fidan "estava se encontrando com o maior
de nossos inimigos (Irã)".
Desde então as relações de confiança se transformaram em
suspeita e Israel deixou de confiar nele, com quem, de todas as formas,
o Mossad seguiu trabalhando até recentemente em outros planos de
interesse comum, como a ameaça da guerra civil na Síria.
Uma fonte diplomática advertiu também ao jornal que os
EUA, aliado dos dois países, deveriam repensar sua política de
cooperação militar e segurança com Ancara, sobretudo por causa "do apoio
velado ao Irã, apesar das sanções (pelo programa nuclear), e do apoio
da Turquia a organizações terroristas como o Hamas em Gaza e a Al Qaeda
na Síria".