Contra preconceito, Israel adota projeto de enviar professores árabes a escolas judaicas

Contra preconceito, Israel adota projeto de enviar professores árabes a escolas judaicas

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Guila Flint de Tel  Aviv
Coisas Judaicas
O Ministério da Educação de Israel adotou no atual ano letivo, recém-iniciado, um projeto de encaminhar professores árabes para lecionar em escolas judaicas, elaborado pela ONG Merchavim. De acordo com pesquisas, a iniciativa já apresenta resultados positivos em um mês, diminuindo os preconceitos e a hostilidade entre os dois principais grupos étnicos no país.


Entre os 8 milhões de habitantes de Israel, cerca de 1,6 milhão é árabe-palestino, constituindo uma grande minoria étnica-nacional de 20,7% da população, na qual a maioria judaica integra 75,1% do total.

Os dois grupos têm poucas oportunidades de encontro e convivência, já que a maioria mora em cidades e estuda em escolas separadas

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A ONG israelense Merchavim iniciou o projeto de integração de professores árabes em escolas judaicas há sete anos e, recentemente, obteve o apoio do Ministério da Educação.


"No ano letivo atual, conseguimos encaminhar 46 professores árabes para lecionar em escolas judaicas", disse o diretor da Merchavim, Mike Prashker, a Opera Mundi. "No ano que vem, mais 150 professores árabes farão parte do projeto e, dentro de cinco anos, deveremos atingir a meta de 500 professores árabes que estarão lecionando em escolas judaicas, no país inteiro."



Divulgação


De acordo com Prashker, no inicio a Merchavim encaminhava apenas professores de língua árabe. Com o tempo, o projeto foi se ampliando e hoje em dia inclui professores de ciências, inglês e matemática.
"Procuramos um caminho para aproximar os dois grupos étnicos que fosse significativo e contínuo e descobrimos que existe uma carência de professores nas escolas judaicas enquanto há 10 mil professores árabes desempregados", explicou.
"Do nosso ponto de vista, a educação separada de crianças judias e árabes contribui para a ignorância, o medo e o preconceito que existe na sociedade israelense e, de acordo com pesquisas que fizemos ao longo dos anos, os preconceitos diminuem consideravelmente quando os alunos estudam com professores árabes".
Tensão em tempos de guerra
Segundo Prashker, a tensão nas escolas nas quais lecionam professores árabes "naturalmente aumenta em tempos de guerra".

Ele mencionou a ofensiva israelense à Faixa de Gaza, no fim de 2008 e início de 2009, e a segunda ofensiva, em 2012, como momentos "especialmente problemáticos" nos quais a Merchavim proporcionou um apoio especial aos professores e aos diretores das escolas, para que pudessem enfrentar a tensão e responder às perguntas dos alunos sobre o conflito.
"Naqueles momentos, muitos alunos perguntavam a nossos professores se eles eram a favor de Israel ou do Hamas (grupo palestino islamista que controla a Faixa de Gaza) e eles respondiam que eram contra guerras em geral e a favor da paz entre os dois povos", disse.


Prashker também afirma que, além de diminuir os preconceitos de alunos e professores judeus contra árabes, o projeto também tem um efeito de empoderamento dos professores árabes.

"Eles se sentem acolhidos e respeitados", disse, "pois percebem que a sociedade israelense não só os aceita como também lhes possibilita um cargo de extrema confiança – de educar seus filhos.”


Professora

Iman Abu Ziad é professora de Língua Árabe e trabalha com o projeto da Merchavim desde o inicio, há 7 anos. Ela, que tem 30 anos, é casada e mãe de uma filha, mora na aldeia árabe de Jaljulyia e leciona na escola Ben Gurion, na cidade de Ramle. Seus alunos pertencem à 4ª, 5ª e 6ª séries do ensino fundamental, crianças de 10 a 12 anos.


Coisas Judaicas
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"Quando comecei a lecionar na escola Ben Gurion tive muito apoio da diretora", contou Abu Ziad a Opera Mundi. "Ela me apresentou aos outros professores e aos alunos e fez tudo para que eu me sentisse à vontade na escola".
Abu Ziad, formada em Literatura Árabe e Pedagogia pela Universidade de Tel Aviv, é religiosa e veste o "hijab" – véu tradicional usado por mulheres muçulmanas.
"No começo, os alunos estranharam o hijab e fizeram muitas perguntas", disse, "demonstraram muita curiosidade". "No final, o que importa é ser uma boa professora e não a origem étnica", acrescentou.
No entanto, o caminho para Abu Ziad não é fácil. "Muitas vezes me sinto dividida entre o meu povo, a minha cultura, e o outro povo cujos filhos eu educo. (...) Especialmente nos momentos de guerra e tensão entre os dois povos, daí a situação fica bem delicada, passei por momentos bem difíceis", afirmou.
Antídoto contra o racismo
Após set anos de trabalho em escolas judaicas, Abu Ziad diz que se sente muito contente com a relação que conseguiu criar com seus alunos. "Acho que consegui incentivá-los a ver o outro, entender melhor a cultura do outro povo, e pensar de maneira menos estereotipada", concluiu.
Para o especialista em Filosofia da Educação, Yossi Yonah, o projeto da Merchavim contribui para combater a "desumanização e demonização" dos cidadãos árabes em Israel.



"A sociedade israelense vive uma situação de conflito com o Mundo Árabe desde a fundação do Estado e isso gerou muito medo e ódio", disse Yonah a Opera Mundi, "considero o projeto da Merchavim muito positivo, pois derruba os estereótipos dos alunos contra os árabes em geral".



De acordo com Yonah, o projeto pode levar a um aumento da tolerância, que por sua vez criará uma espécie de "antídoto" contra atitudes racistas e discriminatórias.


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