A maioria dos israelenses se oporia a qualquer acordo de paz com os palestinos que envolvesse a retirada para as linhas pré-1967 (quando, a partir da Guerra dos Seis Dias, Israel passou a ocupar mais territórios árabes), mesmo que as trocas de territórios fossem acordadas, para acomodar as colônias judias.
O resultado é de uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (6), pelo jornal israelense Ha’aretz.
Em 2010, israelenses e palestinos assistiam à retomada das negociações entre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente Mahmoud Abbas, com a mediação dos Estados Unidos, através da então secretária de Estado, Hillary Clinton.
Como tem sido recorrente, este tipo de pesquisas de opinião, frequentemente de metodologia questionável, em tempos de processo de paz acaba por ser ou importante, para garantir a participação da sociedade no processo e um debate construtivo, ou negativo, por dar ênfase a fatores e vozes únicas que se opõem à solução do conflito como proposta.
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Israelense da Democracia, liberal, e mostrou que 65,6% dos questionados não espera que um acordo seja alcançado dentro de um ano. Isso mostra que a descrença no processo e no comprometimento não é só do lado palestino, visivelmente mais afetado, por uma ocupação militar.
As conversações foram retomadas no mês passado, após três anos sem contatos neste sentido. O secretário de Estado norte-americano John Kerry disse esperar alcançar, em nove meses, um acordo de paz que tem sido postergado há décadas.
Mas mesmo que o governo de Israel consiga desafiar os céticos e assegurar um acordo, a pesquisa, conduzida em conjunto com a Universidade de Tel Aviv, sugere que ele teria que lutar para “vendê-lo” aos israelenses.
Das 602 pessoas questionadas, 55,5% (número que sobe a 63% entre os judeus) afirmou não apoiar uma decisão israelense de concordar com a fronteira de 1967, mesmo que a troca de territórios permitisse a algumas colônias judias na Cisjordânia e em Jerusalém Leste permanecerem parte de Israel.
A fronteira de 1967 é uma reivindicação central para a Palestina (que já cedeu ao abrir mão de grandes porções não só do seu território histórico, mas também do previsto em 1948, quando foi estabelecido o Estado de Israel). Neste aspecto, os palestinos contam com o apoio declarado de diversos atores internacionais, inclusive da ONU.
Além disso, 67% dos israelenses afirmaram que se opõem às exigências palestinas pelo retorno, mesmo que de um número pequeno, de refugiados, entre os que fugiram e os que foram expulsos durante a criação de Israel. Eles também se colocaram contra a compensação aos refugiados ou seus descendentes.
Em outras questões relacionadas com os negociadores, a questão sobre se os bairros árabes em Jerusalém deveriam se tornar parte de um Estado palestino, cerca de 50% dos israelenses judeus disseram que se opõem à ideia, enquanto apenas 55% dos árabes-israelenses afirmaram-se favoráveis, supostamente devido aos “benefícios” da cidadania israelense, como os serviços de saúde em Jerusalém Leste, segundo a pesquisadora.
Depois da abertura da rodada de conversações em Washington, na semana passada, os negociadores palestinos e israelenses concordaram a encontrar-se novamente na segunda semana deste mês, em Israel ou na Palestina.
O presidente palestino Mahmoud Abbas também enfrenta dificuldades para conseguir apoio completo para as negociações entre a sociedade palestina e até mesmo dentro da Organização para a Libertação da Palestina, já que alguns partidos têm realizado manifestações contrárias, assim como os grupos Hamas e Jihad Islâmica, na Faixa de Gaza.
Em uma declaração emitida nesta terça-feira (6), dois partidos, a Frente Popular e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, pediram a suspensão das conversações, ao denunciarem-na como “uma repetição de negociações sem futuro e prejudiciais”, realizadas na década de 1990.
Com informações do Ha'aretz,