Diretor de Shoah traz novas revelações sobre Eichmann

Diretor de Shoah traz novas revelações sobre Eichmann

magal53
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Adolf Eichmann, durante julgamento em Jerusalém, em 1961. Foto: Yad Vashem.

Lançado em DVD no Brasil no final de 2012, com cerca de nove horas, o antológico documentário "Shoah" (1985), de Claude Lanzmann, aborda – sem usar imagens de arquivo - o extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O filme traz depoimentos de sobreviventes e de carrascos nazistas. 

Para muitos críticos, a obra representa para a história do Holocausto no cinema o que a obra de Primo Levi significou para a literatura. Foi para “Shoah” que Lanzmann entrevistou, em 1975, o rabino Benjamim Murmelstein, cujo depoimento acabou ficando de fora, pois seu "tom era outro", disse o cineasta. É este depoimento que foi lançado recentemente no Festival de Cannes, com o título “O Último dos Injustos”.

Murmelstein foi o terceiro e último presidente, do final de 1944 até meados de 1945, do conselho judaico de Theresienstadt, o gueto "modelo" na então Tchecoslováquia. Segundo Lanzmann, graças a ele, mais de 120 mil judeus austríacos conseguiram escapar do Holocausto. Antes disso, a partir de 1938, o rabino conviveu intensamente em Viena com Adolf Eichmann (1906 - 1962), um dos principais administradores da morte em escala industrial do Holocausto. 

Por dois motivos, “O Último dos Injustos” é fundamental: ao mostrar que os judeus não colaboraram com os nazistas e ao retratar Eichmann não como um burocrata frio, mas como agressivo, corrupto e violento. 

"Eu quis mostrar que os ditos colaboradores judeus não foram colaboradores", disse Lanzmann em entrevista ao jornal francês Libération. "Eles nunca quiseram matar judeus, não partilhavam a ideologia nazista, eram infelizes sem poder. Nós reconhecemos facilmente quem eram os assassinos."

Quanto a Eichmann, sua imagem muda completamente com as revelações de Murmelstein, que conviveu por ele mais de sete anos.

Segundo o rabino, Eichmann não possuía nada da "banalidade do mal" a ele imposta pela filósofa Hannah Arendt durante o célebre julgamento do nazista em Jerusalém, em 1961. O carrasco foi condenado à morte, executado por enforcamento e suas cinzas foram jogadas ao mar. 

Murmelstein também aborda a famigerada Noite dos Cristais, o ataque a casas, lojas e escolas judaicas na Alemanha e na Áustria, em 9 de novembro de 1938, e lembra que ele foi marcado para o exato 20º aniversário do estabelecimento da República de Weimar, a "República Judaica", classificada como uma traição por Hitler. "A Noite dos cristais é a punição dos judeus pela República de Weimar", afirma o rabino.

"O que Murmelstein nos conta é uma magistral lição de história", conclui Lanzmann. 

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