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De onde vem e o que significa meu sobrenome?



Por Paulo Valadares

A maioria de nós recebe uma herança e muitas vezes não sabe o que ela significa e mesmo assim ela será repassada para os descendentes. Esta herança são os sobrenomes familiares. O lingüista franco-russo Alexander Beider lançou A Dictionary of Jewish Surnames from the Russian Empire: Revised Edition onde analisa e explica 74 mil sobrenomes usados por judeus originários do Império Russo. Pensando que um mesmo sobrenome corresponde a várias famílias conjugais temos um retrato onomástico completo deste grupo majoritário entre os judeus.

Imagine um grupo de pessoas que viviam isoladas culturalmente, tratadas como estrangeiras e que a partir de um determinado momento tem que incorporar aos seus nomes, algo que não pertencia a sua tradição onomástica, o nome de família – elas que até aquele momento usavam somente o patronímico, era Fulano, filho de Sicrano (exemplo: Yaacov ben Abraham) nos momentos mais formais. Este processo de aquisição dos nomes de famílias entre os judeus da Europa Oriental começou no século XIX, imposto pelo Estado, como um instrumento de dominação social, para o controle dos conscritos ao serviço militar e principalmente na cobrança de impostos. Imagine que este grupo etnocultural devia ser de aproximadamente um milhão de famílias conjugais (pai, mãe e filhos). Quantos nomes seriam necessários para evitar a praga de homônimos? Onde buscá-los? Como foi um processo autoritário não houve muito tempo para escolhas e elas com o tempo se perderam. Um onomasta é um estudioso deste processo, é o investigador que pode explicar e recuperar a história deste fenômeno cultural moderno – nome de família, apelido ou sobrenome.

Chegou as livrarias um excepcional livro sobre este tema é A Dictionary of Jewish Surnames From The Russian Empire: Revised Edition (Bergenfield, NJ, Avotaynu, 2008) de Alexander Beider. Capa sóbria, azul com o mapa dourado da região estudada, destacando as Guberniyas (em nossa divisão administrativa, estados): Courland, Vilna, Vitebsk, Mogilev, Grodno, Minsk, Volhynia, Chernigov, Kiev, Poltava, Podolia, Bessarabia, Kherson, Ekaterinoslav e Taurida. Nele o autor nos traz a história dos nomes judaicos na Europa Oriental, os tipos e morfologia dos sobrenomes, adoção dos sobrenomes em várias regiões, sobrenomes judeus e não-judeus na Europa Oriental e o estudo científico da etimologia dos sobrenomes judaicos.  O livro está dividido em duas partes: história e teoria onomástica (188 páginas) e na segunda parte, um dicionário com 74 mil sobrenomes. Acompanha também um segundo volume: Listing of  Surnames by the Daitch-Mokotoff Soundex System (188 páginas).

Alexander Beider é um judeu moscovita, jovem e franzino com uma imensa capacidade de trabalho e que atualmente vive na França com a sua família. Possui dois doutorados – é Ph.D em Matemática Aplicada pelo Instituto Físico-Tecnico de Moscou (1989) e em Estudos Judaicos pela Sorbonne (2000). A sua bibliografia compõem-se de artigos e livros sobre onomástica. É autor dos livros: A Dictionary of Jewish Surnames from the Russian Empire (1993), Jewish Surnames from Prague (15th-18th centuries) (1995), A Dictionary of Jewish Surnames from the Kingdon of Poland (1996) e A Dictionary of Ashkenazi Given Names; Their Origins, Structure, Pronunciation, and Migrations (2001).

Desde que A. B. surgiu neste universo os genealogistas tem acompanhado o seu trabalho com interesse. Aqui vai um depoimento de autor: quando Guilherme Faiguenboim, Anna Rosa Campagnano e eu escrevíamos o Dicionário de Sobrenomes Sefarditas (S. Paulo: Fraiha, 2003 e 2004), nós tomamos como paradigma a primeira edição deste dicionário, decisão que mostrou-se acertada em nosso caso.


Este trabalho que chegou agora teve a sua primeira edição em 1993. A edição original tem 760 páginas e esta em revised edition 1008 páginas mais as 188 páginas do suplemento. Durante estes quinze anos A. B. não apenas aumentou a bibliografia, mas também aguçou a capacidade de interpretação, enriquecendo sobremaneira este trabalho, que sem nenhum favor, é um magnus opus da onomástica, tanto entre judeus, quanto entre não judeus. Os estudiosos de onomástica podem encontrar respostas para perguntas conceituais e também muitas sugestões na criação de um modelo próprio de interpretação.

Mas o que procurar neste trabalho de referência?

O leitor comum que começou a fazer a sua genealogia familiar tem nos seus verbetes pistas ou indicativos para continuar o seu trabalho. Não esquecer que a maioria das pessoas, até os bisavós, descende de oito famílias diferentes, com oito sobrenomes distintos. Como os verbetes têm uma estrutura semelhante: “Sobrenome [pronúncia alemã] (Onde foi encontrado) Tipo: Significado < Sufixo> {outras grafias}”. È possível encontrar, além do significado do sobrenome, de onde eles são originários – informação muito importante para se localizar dentro do vastíssimo Império Russo, que combinada com outros livros, pode ser a porta de entrada para o seu passado europeu.

Um exemplo:

Berezovskij (Troki, Lida, Bel´sk, Slonim, Pruzhany, Volkovysk, Grodno, Brest, Mozyr´, Radomyls´, Kiev, Uman´, Cherkassy, Mogilev-Pod.){Perezovskij, Brezovskij; Brzhozovskij (Bzhozovskij, Brzhezovskij, Brozovskij, Brazovskij)} T: oriundo da aldeia de Berezovka (distritos de Vilkomir, Sokolka, Belostok, Brest e Novogrudok) {Perezovskij, Brezovskij; (Brzhozovskij, Brozovskij, Brazovskij)}. T: oriundo da aldeia de Berezovo (distritos de Sokolka e Belostok){Perezozovskij} chamada Brzozowo em polonês {Brzhozovskij}. T: veja Berezovich . T: oriundo da aldeia de Berezovka (distrito de Rechitsa) {Brazovskij}. T: oriundo da aldeia de Berezovka (distrito de Uman´, Radomyls´  e Kiev) {Poberezovskij}. T: veja Berezov.T: oriundo da aldeia de Brezovka(veja Berezivker). PÁGINA 249

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