O Ministério da Educação do Hamas organizou cursos de treinamento paramilitar nas escolas de Gaza que incluem, entre outras atividades, desfilar como um soldado, conduzir um fuzil e resistir a técnicas de espionagem. Cerca de 10 mil estudantes palestinos do ensino médio, com idades entre 15 e 18 anos, participaram do curso. Sob a denominação de "Futowa", o curso foi dado em 35 escolas de toda a Faixa de Gaza e pretende instruir os jovens palestinos em ações paramilitares.
O adolescente Izzat, 15 anos, prende a respiração enquanto cruza um aro envolvido em chamas, um arriscado exercício que faz parte da cerimônia de graduação do curso que concluiu na semana passada na Cidade de Gaza. Izzat veste um uniforme militar verde oliva e leva uma madeira em forma de arma na exibição realizada no estádio Al-Yarmouk da Cidade de Gaza por conta do fim do curso.
"Sempre fui seguidor da resistência desde que era pequeno e toda a vida quis me somar às milícias quando fosse maior", revela o adolescente em cujo rosto já surge os primeiros sinais de uma barba. Sobre as lições aprendidas durante o curso, Izzat assinala como um dos pontos fortes, "desmontar e montar rifles e pistolas e também disparar", além de receber "treino físico e mental".
Entre os exercícios realizados pelos adolescentes, está o de saltar de vários metros de altura usando uma corda e simular um treino armado. Os organizadores apontam que são ministradas aulas de como marchar como um soldado, matérias específicas sobre a terminologia de segurança, além de técnicas de contra-espionagem e disparo e manejo de armas de fogo.
Mohammed Abed Rabbo, outro estudante de 16 anos, explica que decidiu participar do curso para "receber doutrinas morais e militares, assim como treino para aprender a combater contra os colaboradores do inimigo". E perante os que possam pensar o contrário, Rabbo esclarece que ninguém o obrigou a comparecer no curso.
"Escutei sobre o curso no bairro e decidi fazer parte". Seu professor, Mohammed, deixa claro que "o curso teve como missão desenvolver as habilidades físicas e militares dos jovens", e que os meninos agora conhecem melhor a situação militar e de segurança na Faixa de Gaza.
"Nós enfrentamos diariamente agressões militares de Israel assim como também intensas campanhas de sua inteligência que tem por missão recrutar colaboradores palestinos", declara. "Acho que o projeto de treinar estudantes em ações paramilitares é uma obrigação nacional. Estamos em um conflito sem fim com a ocupação de Israel e temos que treinar um Exército para confrontar os ocupantes", afirma Wael, outro dos responsáveis pelo curso.
Por sua vez, o responsável de Educação Superior do Hamas, Osama al-Muzeini, comenta que um dos principais objetivos do programa é "varrer a ocupação das terras da Palestina", e defende "o direito de nossos estudantes a treinarem como qualquer país do mundo". Perante os mais críticos, esclarece que "a primeira condição para poder se inscrever no curso é que o adolescente traga uma autorização por escrito dos pais".
O Hamas despertou duras críticas por doutrinar a cultura islâmica e cursos paramilitares a menores palestinos, inclusive alguns de pouca idade, em mesquitas e acampamentos de verão. O movimento islamita tomou o controle da Faixa em junho de 2007 após enfrentar as forças leais ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, e desde então governa de fato neste território.
O chefe do Executivo do Hamas, Ismail Haniyeh, assistiu à cerimônia e defendeu que o projeto "trará a vitória e a libertação" e que "uma vez que libertemos Jerusalém e a Mesquita de al-Aqsa, o curso de treinamento acabará". O primeiro-ministro islamita foi ainda mais longe ao exortar a criação de uma escola especial para o treino e estudos de segurança para crianças palestinas, e solicitou que os ministros de Educação e Interior tomem as cartas do assunto e elaborem um plano estratégico "a fim de treinar o maior número de estudantes".
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