Com carisma e discurso para classe média, líder faz Israel pender para centro.
Yair Lapid foi a grande surpresa da eleição israelense de terça. Como seu partido ficou em segundo lugar, ele será figura central na formação da nova coalizão de governo do país.
Yair Lapid fala a partidários na sede do centrista Yesh Atid em Tel-Aviv (23/01)
Mas com o fechamento das urnas na terça-feira de 22 de janeiro ficou claro que Lapid havia se reinventado como um dos líderes políticos mais poderosos do país, aproveitando sua popularidade como celebridade para enviar uma mensagem populista que ressoou.
Lapid, 49, foi a grande surpresa da eleição israelense. Seu partido ficou em segundo lugar, quando as pesquisas haviam previsto que ficaria em quarto. Ele percebeu que sua mensagem teria mais apelo para a classe média e se desse ênfase na justiça social e nas desigualdades crescentes na sociedade. Ele estava certo. Seu partido centrista Yesh Atid ganhou 19 assentos, posicionando Lapid como uma figura central na formação da coalizão do próximo governo.
Embora pouco conhecido no exterior, para muitos desta geração em Jerusalém, Lapid é o mais fiel retrato de um israelense.
Seu pai foi um sobrevivente do Holocausto que passou a servir como ministro da Justiça. Sua mãe era uma romancista muito conhecida no país. Um ano atrás, quando decidiu parar de trabalhar na televisão e entrar para a política, Lapid disse que sua missão seria a de representar a classe média do país, um eleitorado muito negligenciado. Ele representava o cidadão comum, uma postura refrescante para um político israelense. Como autor de uma coluna de fim de semana do jornal Yediot Aharonot, escreveu um artigo com um título que se tornou seu bordão: "Onde está o dinheiro?"
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Ele escreveu: "Essa é a grande pergunta feita pela classe média israelense, o motivo pelo qual entrei para a política. Onde está o dinheiro? Por que o setor produtivo, que paga impostos, cumpre seus deveres, executa serviços e carrega todo o país em suas costas, não vê esse dinheiro?"
Lapid aproveitou a frustração de centenas de milhares de israelenses que foram às ruas em protestos reivindicando justiça social no verão de 2011. Quando fundou o Yesh Atid (Há um Futuro, em tradução literal) na primavera seguinte, ele adotou e ampliou as demandas populares para uma partilha mais equitativa da carga, ou seja, o fim de isenções militares automáticas para milhares de estudantes ultraortodoxos que optam por se dedicar completamente ao estudo da Torá, assim como demandas por uma melhor educação pública e pelo fim do aumento de impostos que sufocam a população trabalhadora.
Mas quando pesquisas indicaram que Yesh Atid reuniria cerca de uma dúzia de cadeiras no próximo Parlamento, Lapid insistiu que ganharia 20 ou mais e que poderia melhor traduzir a raiva da classe média de Israel em poder político.
Sobre o processo de paz com os palestinos, Lapid também decidiu adotar uma postura mais equilibrada, apresentando posições seguras dentro do consenso: ele disse ser a favor de negociações para um Estado palestino, mantendo os grandes assentamentos judeus na Cisjordânia sob controle israelense, e se opõe a qualquer divisão de Jerusalém.
E enquanto seu pai era conhecido por seu secularismo - por sua política com base em uma plataforma antirreligiosa -, Lapid é mais abrangente e inclusivo. Entre os membros superiores do Yesh Atid estão Shai Piron, um rabino ortodoxo que é bem visto como um educador; Yaakov Perry, ex-chefe do serviço de segurança interna do Israel Shin Bet; Yael Garman, o prefeito da cidade litorânea de Herzliya; Ofer Selá, um ex-jornalista; Mickey Levy, ex-chefe de polícia de Jerusalém; e Dov Lipman, rabino ultraortodoxo nascido nos EUA que tem trabalhado para aliviar as tensões entre os setores divididos da sociedade israelense.
Após os resultados preliminares das eleições de terça, Lipman, em declarações no evento de Lapid, em Tel Aviv, disse que ele havia se juntado ao Yesh Atid porque acreditava no partido.
"Espero poder mudar as coisas para melhor", disse. "Durante 30 anos, este país tem enfrentado uma batalha entre a esquerda e a direita. Agora queremos mudar as coisas essenciais: serviço militar obrigatório, educação, habitação, uma classe média que vem passando por uma situação difícil."
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Lapid, casado e pai de três filhos, é um pugilista amador e é conhecido por suas roupas elegantes. Um ex-colega de televisão do Canal 2 relembrou seus charutos e seu jipe. Nascido em Tel Aviv filho de Yosef Lapid, conhecido como Tommy, um sobrevivente do Holocausto de ascendência húngara que foi a Israel em 1948, e Lapid Shulamit, uma conhecida autora, ele começou sua carreira como jornalista.
Ele então se tornou um apresentador de programa, e era âncora do jornal nas noites de sexta-feira na rede de televisão Canal 2.
Depois que seu pai morreu em 2008, aos 77 anos, Lapid escreveu "Memórias Após a Minha Morte", a história de vida de seu pai nos dias no gueto de Budapeste até sua época como ministro da Justiça no governo de Ariel Sharon.
Na terça, o Canal 2 transmitiu uma entrevista pré-gravada com Lapid. Falando de seu pai, disse: "Quatro dias antes de morrer, me disse - e ele era um homem dramático, amava grandes gestos dramáticos - disse para mim: 'Yairi, deixo para você uma família e um Estado."'
Em outra entrevista há alguns anos, quando Lapid entrevistou seu pai, ele fez a seu pai uma pergunta que fazia a todos os seus entrevistados: "O que é israelense, na sua opinião?"
Seu pai respondeu: "Você."
Por Isabel Kershner