por
Sheila Sacks
“Evitar o Irã
nuclear é o primeiro desafio” (Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de
Israel)
“O programa de bomba
nuclear do Irã está completo” (Reza Kahlili, ex-espião da CIA no Irã)
Ainda que o aquecimento global e suas
consequências catastróficas como as enchentes, os deslizamentos, terremotos, maremotos,
ciclones, furacões, secas extremas etc ameacem o nosso planeta, o fato concreto,
urgente e inconteste em termos de aniquilamento da raça humana permanece sendo
a ameaça nuclear que, fatidicamente, não reina sozinha nessa segunda década do
século 21.
A proliferação das armas químicas e
biológicas é hoje uma realidade inquestionável e em razão desse ambiente
inseguro para a humanidade o ponteiro do Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), instituído como um
alerta simbólico pelo BAS (Bulletin of Atomic
Scientists), foi adiantado em 2012 em mais um minuto.
Experiências
nucleares assustam
Estamos, pois, a cinco minutos da
meia-noite, horário que marca a destruição nuclear ou o fim da vida como a
conhecemos. Criado em 1949 por físicos do “Projeto Manhattan” que desenvolveram
a bomba atômica para os EUA (muitos deles ganhadores de prêmio Nobel), o
relógio do fim do mundo já posicionou o ponteiro a 2 minutos da meia-noite, em
1953, ano em que os soviéticos realizaram a sua primeira experiência com a
bomba de hidrogênio. Meses antes, os Estados Unidos já haviam testado nas Ilhas
Marshall, no Oceano Pacífico, o seu dispositivo termonuclear.
Na dança dos números, calcula-se que
atualmente os EUA e Rússia possuem mais de 26 mil armas nucleares prontas para
serem lançadas, apesar de em 2010 o Pentágono ter anunciado que havia reduzido
em mais de 80% o seu arsenal atômico desde os tempos da Guerra Fria, em função
de acordos de desarmamento e de negociações do Tratado de Não-Proliferação
Nuclear (TNP). Com 5.113 ogivas prontas para serem usadas, os EUA admitem que
ainda há milhares de ogivas que foram “aposentadas” mas ainda não foram
desmontadas. Dono do maior arsenal militar do planeta, os EUA prometem reduzir
em 5 bilhões de dólares o seu orçamento militar de 2013, que mobiliza cerca de
525 bilhões de dólares.
Quanto à Rússia, a estimativa é que Moscou
possui 4.237 ogivas estratégicas para ataques a longa distância. Mas, o número
total do arsenal russo estaria entre 15 mil a 17 mil ogivas.
No tocante às ambições nucleares do Irã e
da Coreia do Norte (fatores que em 2007 movimentaram o Relógio do Juízo Final
para mais perto da meia-noite e que em 2012 voltaram a ser motivo de
preocupação), cientistas do BAS emitiram comunicado alertando para a situação
de risco da humanidade. Isso devido ao contínuo desenvolvimento das armas
nucleares e as atuais dificuldades de concluir acordos no sentido de cessar a
sua produção. Segundo o Conselho de Segurança do BAS existem hoje 19.500 armas
nucleares ativas, o suficiente para destruir a Terra várias vezes.
Comércio
de armas aumenta
Em paralelo, estudo elaborado em 2012 pelo
Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri) detectou que o comércio
de armas convencionais não estacionou nem diminuiu. Entre 2007 e 2011 houve um
aumento de 24% na comercialização dessas peças, principalmente por conta da
militarização de países asiáticos como a Índia (a maior importadora de armas),
Coreia do Sul, Paquistão, China e Singapura. Os maiores vendedores de armas
continuavam sendo os EUA e a Rússia, mobilizando mais de 50% do mercado: o
primeiro com 30% das vendas a 75 países e os russos com uma fatia de 23%.
O instituto sueco afirmou ainda que as duas
potências prosseguiam no trabalho de modernização de seu sistema de armas
nucleares e que o gasto total no setor militar em 2011 havia atingido 1,74
trilhão de dólares. Oito países (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China,
Índia, Paquistão e Israel) concentravam 4.400 armas nucleares operacionais, com
2 mil aptas para serem usadas em combate a qualquer momento (“Estudo aponta
modernização do arsenal nuclear no mundo” – Deutsche Welle, em 6 de junho de
2012).
Rússia
investe em armas nucleares
Esses constantes avisos, porém, não impedem
que nações reservem mais recursos para as áreas militares. O presidente da
comissão de Defesa do Parlamento russo, Vladimir Komoedov, anunciou que entre
2013 e 2015 serão investidos 101,15 bilhões de rublos (cerca de 3,2 bilhões de
dólares) para reforçar o arsenal nuclear do país, o triplo do que foi gasto em
2012. E para 2015 a previsão dos gastos militares chegará aos 3 trilhões de
rublos (cerca de 96 bilhões de dólares), grande parte destinada à Força de
Mísseis Estratégicos (FME). Exemplo dessa diretriz é a entrada em atividade nos
primeiros dias de 2013 do mais moderno submarino nuclear russo já construído,
com capacidade para transportar 16 mísseis balísticos intercontinentais de
alcance de mais de 8 mil quilômetros.
A historiadora e dissidente russa Marina
Kalashnikova acusa o governo de Moscou de ter ficado de fora de quase todas as
convenções internacionais que restringem a expansão de seu poderio militar. “A
ideia da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte que reúne 28 países)
de intimidação pela posse de armamento nuclear não significa absolutamente nada
para os generais russos", escreve Kalashnikova. "Ao contrário dos
seus homólogos ocidentais, eles não têm medo das grandes perdas militares e
civis. Isso já era verdade na época de Stalin. Perdas não afetam a popularidade
dos governantes do Kremlin..." E alerta: “O equilíbrio estratégico não
funciona e nunca funcionou. Os militares russos de hoje não são mais fracos do
que os da URSS e em algumas áreas ultrapassam os militares soviéticos”.
A historiadora também denuncia o Kremlin
por ativar uma rede de extremistas do Terceiro Mundo; formar alianças com
forças e regimes ditatoriais para expandir sua influência; e de estar por trás
do ataque de 11/9, ao citar a frase de um funcionário da OTAN sobre o papel da
al-Qaeda e Bin Laden na ação terrorista: “Isso (o ataque de 11/9) está além de
suas capacidades intelectuais”.
A dissidente que teve sua casa em Moscou
arrombada, documentos roubados e permaneceu detida numa clínica psiquiátrica
por 35 dias, mudou-se para Berlim com o marido Viktor, um ex- oficial da KGB
(agência de inteligência soviética), em setembro de 2010, e três meses depois
ambos foram internados em um hospital com suspeita de envenenamento. Exames
confirmaram que os dois tinham uma concentração de mercúrio no sangue 25 vezes
acima do normal (“Um alerta de Marina Kalashnikova”, por Jeffrey Nyquist, em 2
de março de 2010).
Estudioso de geopolítica e escritor
político, o norte-americano Jeffrey Nyquist já havia afirmado, no final da
década de 1990, que “altas lideranças da al-Qaeda são, na verdade, agentes
russos”. Formado em sociologia política pela Universidade da Califórnia,
Nyquist foi colunista do site de notícias WorldNetDaily (WND), um dos mais
acessados em todo mundo e publicou a obra “As Origens da Quarta Guerra
Mundial”. Ele defende uma posição mais agressiva dos EUA em relação à Rússia e
enumera os motivos: a potência do Leste vem sucessivamente aumentando o seu
arsenal nuclear; dá apoio e contribuição tecnológica aos sistemas de mísseis
chineses; e está aliada à China no patrocínio de países de regimes repressivos
(Coreia do Norte, Irã, Síria, Cuba e Venezuela, entre outros).
Considerado ultradireitista em suas
opiniões, Nyquist critica a discreta repercussão na imprensa de denúncias de
dissidentes, muitos deles eliminados pouco tempo depois de se manifestarem. E
cita a frase de um agente aposentado da KGB: “Ninguém é mais fácil de comprar
do que um jornalista ocidental.”
Apoio
nuclear ao Irã
Simultaneamente à evolução e expansão de
tecnologia nuclear para uso próprio, a Rússia vem mantendo convênios de
cooperação nesta área com o Irã desde 1995.
Em 2010, a primeira usina nuclear iraniana iniciou as suas operações com
combustível fornecido pela Rússia. Localizada no sul do país, a usina nuclear
de Bushehr foi concluída pelos russos e nesse início de 2013 ligada à rede de
energia nacional, operando em plena capacidade.
Apesar de o governo do Irã negar que faça
uso da energia nuclear para construção de bombas, relatório divulgado pelo
“Institute for Science and International Security” (ISIS), de Washington, em
meados de 2012, afirma que o Irã está mais perto de obter a quantidade de
urânio indispensável para montar uma arma nuclear. O estudo indica que a usina
de enriquecimento de urânio de Natanz, com 10 mil centrífugas, levará de dois a
quatro meses para acumular 25 Kg de urânio enriquecido a 90% necessários para
fabricar uma bomba nuclear. Para o presidente do ISIS e um dos autores do
relatório, David Albright, de posse do material Teerã disporia de um artefato
nuclear no prazo de oito a dez meses.
Mas tem gente que já descartou esse prazo. Em artigo veiculado no site de notícias WND, um ex-agente da CIA (Central
Intelligence Agency) que atuou infiltrado na Guarda Revolucionária do Irã, de
pseudônimo Reza Kahlili, afirma que o programa iraniano de construção de uma
bomba nuclear está completo. Segundo Kahlili, sua fonte tem acesso ao programa
nuclear iraniano e confirmou que o Irã finalizou com sucesso uma bomba nuclear
com a ajuda da Rússia e da Coreia do Norte, em uma das instalações
desconhecidas pelos inspetores da AIEA, na cidade de Khondab. O local fica no
interior de uma montanha, com centrífugas e laboratórios, e é imune a ataques
aéreos. Há 60 especialistas trabalhando sob a supervisão de quatro cientistas
russos e três norte-coreanos. Armas biológicas também estão sendo desenvolvidas
pelos iranianos (“Iran's nuclear bomb program complete”, em 7 de janeiro de
2013).
Reza Kahlili nasceu em Teerã, foi agente da
CIA nas décadas de 1980 e 1990, escreveu o livro de memórias “A Time to Betray”
(Tempo de Trair), publicado em 2010, e vive escondido em algum lugar da
Califórnia.
Armas
nucleares nas mãos de terroristas
A suspeita de que a al-Qaeda possa ter
armas nucleares não é recente. Em 1999, o cientista político Yossef Bodansky,
ex-diretor do Centro contra terrorismo do congresso dos EUA e autor de vários
livros sobre o tema, afirmou que sim. Seu colega Paul L. Williams, ex-consultor
do FBI sobre crime organizado e terrorismo, autor do livro “Al Qaeda
Connection” também acha possível. Ambos os especialistas sugerem que a rede
terrorista adquiriu armas nucleares de fabricação soviética dos chechenos. “Em
1995”, conta Williams, “os chechenos plantaram uma bomba radiológica no
Izmailovsky Park, perto de Moscou. A bomba foi feita de césio-137 e, se tivesse
sido detonada, poderia ter matado milhares de russos. Este incidente representa
o primeiro caso de uma bomba nuclear a ser implantada como uma arma de terror”,
afirma. William ainda relata que depois
da guerra as armas foram vendidas a al-Qaeda e e agentes britânicos infiltrados
em campos de treinamento da organização no Afeganistão, em 2000, viram armas
nucleares sendo fabricadas.
O que vai ao encontro das afirmações do
então braço direito de Osama Bin Laden e atual chefe da organização, Ayman al-Zawahiri,
semanas depois do atentado de 11/9. Em entrevista ao jornalista paquistanês
Hamid Mir, ele teria dito: ”Senhor Mir, se você tem 30 milhões de dólares, vá o
senhor ao mercado negro da Ásia Central, ponha-se em contato com um cientista
soviético descontente e lhe asseguro que ele lhe dará dezenas de valises de
bombas inteligentes.” A revelação foi feita pelo jornalista em um programa da
TV australiana, em 2004. Segundo Mir, que foi o único repórter a entrevistar os
terroristas após o ataque aos EUA, Zawahiri ainda explicou: “Eles entraram em
contato conosco. Nós enviamos nosso pessoal para Moscou, Tashkent (capital do
Uzbequistão) e outros países asiáticos. Nosso pessoal negociou e comprou
algumas bombas pequenas.”
Cinco anos depois, Mir voltou ao tema e
falou para o site de notícias WND sobre
o seu encontro, dias antes, com um engenheiro egípcio que tinha perdido um olho
depois de participar de um teste nuclear da Al-Qaeda, na província de Kunar, no
Paquistão (“ ‘American Hisoshima’ linked with Iran Attack”, em 28.04.2006). O
jornalista contou que ficou perturbado e deprimido com o encontro porque o
engenheiro teria dito que o pesadelo nuclear estava chegando à América. “O American Hiroshima, nome que os líderes
da al-Qaeda escolheram para o plano de ataque aos EUA, irá acontecer em breve,
tão logo que os norte-americanos lancem um ataque às instalações nucleares do
Irã”, falou Mir.
Trabalhando como âncora do canal de
notícias Geo News, na capital
paquistanesa, Hamid Mir escapou de um atentado terrorista em novembro do ano
passado, quando uma bomba foi deixada em seu carro, embaixo do assento.
Chefe
da al-Qaeda recebeu treinamento na Rússia
Reforçando a ideia de ligação da al-Qaeda
com o regime russo, um
ex-tenente-coronel da FSB (a agência de informações que substituiu a KGB),
Alexander Litvinkenko, declarou publicamente que o médico egípcio Ayman
al-Zawahiri, chefe da al–Qaeda e o primeiro da lista do FBI (Federal Bureau of
Investigation) de terroristas procurados, foi treinado pela FSB na Rússia.
Autor do livro “Explodindo a Rússia:Terror
Doméstico” que acusa agentes russos por atos de terrorismo em Moscou e de
culparem indevidamente os chechenos, Litvinkenko desertou e pediu asilo
político na Inglaterra, em 2000. Seis anos depois, aos 41 anos, ele morreu
misteriosamente, provavelmente envenenado, depois de tomar chá com três
compatriotas em um hotel de Londres. O governo russo negou qualquer
envolvimento, mas segundo Jeffrey Nyquist “privadamente, autoridades britânicas
admitiram ter sido o Kremlin que enviou os assassinos que envenenaram
Litvinenko com material radiativo polônio-210, em novembro de 2006”. O
ex-militar falava abertamente que Vladimir Putin, presidente da Rússia e
ex-agente dos serviços secretos (KGB) era o terrorista mestre por trás da
al-Qaeda.
A rede terrorista é responsável pelo ataque
às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e ao prédio do Pentágono,
nos arredores de Washington, ocorridos em 11 de setembro de 2001 (11/9). Na
época foram sequestrados quatro aviões com tripulantes e passageiros para os
ataques, sendo que um deles caiu em um campo na Pensilvânia. No total foram
2.996 mortos e mais de 6 mil feridos.
Irã
envia recursos ao Hezbollah
O Irã também vem ajudando com recursos e
armamentos, desde a década de 1980, a milícia xiita libanesa Hezbollah,
detentora de um longo histórico de atos terroristas. Especialistas acreditam
que Teerã envia anualmente 200 milhões de dólares para o grupo extremista que
está ligado ao regime sírio de Bashar al-Assad. Em entrevista à rede britânica
de rádio e televisão BBC, em 2009, a
professora Amal Saad-Ghorayeb, estudiosa do Hezbollah, assim definiu o grupo:
“O Hezbollah é libanês, seus membros são árabes xiitas, mas sua ideologia e
modelo seguem o Irã.”
Na mesma linha de pensamento, o professor
Fares Ishtay, do departamento de Ciência Política da Universidade do Líbano
afirmou que o Hezbollah é uma frente iraniana na região, mas que já criou
estrutura própria. Fontes do Pentágono calculam que o grupo xiita libanês tem
atualmente 50 mil mísseis e foguetes, graças ao reforço militar da Síria à
organização. Na guerra civil na Síria, o governo de Assad tem tido o apoio de
mais de 5 mil militantes do Hezbollah e teme-se que o grande arsenal de armas
químicas do país possa também ser transferido de alguma forma para esse grupo
terrorista.
O Hezbollah surgiu a partir da revolução
iraniana (1979), com o objetivo de criar um governo no Líbano regido por leis
islâmicas similar ao regime de Teerã. Apoiado pelas forças iranianas, o grupo
foi responsável por ataques terroristas nas décadas de 1980 e 1990 às embaixadas
norte-americanas no Irã, no Líbano e no Kwait, com mais de 100 mortos. Também
sequestrou aviões comerciais, jornalistas e professores universitários;
utilizou-se de caminhões-bomba para destruir quartéis em Beirute, resultando em
centenas de mortos; praticou atentados em Paris, explodiu a embaixada de Israel
em Buenos Aires, em 1992 (29 mortos e 249 feridos) e a sede da associação
judaica argentina (AMIA), em 1994, matando 85 pessoas e ferindo 300.
Entre os indiciados pelos ataques apontados
pela justiça da Argentina está o atual ministro da Defesa do Irã, Ahmad Vahidi,
que na época era o comandante da Força Quds, uma divisão especial da Guarda
Revolucionária do Irã cuja missão é organizar, treinar, equipar e financiar
organizações militares islâmicas clandestinas em todo o mundo para a prática de
ações terroristas.
Reação
é vista como intervenção
O Ocidente vai respondendo a esses
atentados violentos de forma reativa, com os governos arregimentando suas
forças policiais e militares a cada ataque perpetrado. Os EUA, um dos alvos
prioritários do terror, têm procurado se antecipar e abortar esses atos em seu
território fazendo uso de avançados serviços de informação e de rígidas medidas
de segurança. A mobilização e o envio de tropas norte-americanas e de seus
aliados europeus a países da Ásia e África corroídos por conflitos internos de
raiz religiosa geralmente cobram um preço demasiado alto em termos de perda de
vidas, gastos públicos e críticas de intervencionismo.
Lênin, líder da revolução russa de 1917,
chamava os atentados terroristas de “propaganda armada”. De certa forma, o
terrorismo vende suas ideias ou ideologias utilizando os argumentos mais vis e
imorais ao seu alcance. Seu objetivo é introduzir o medo, a incerteza, a
sensação de fragilidade e impotência no coração dos homens, atiçando e
fomentando a violência e o ódio como fórmula escabrosa de política. “Ataques
terroristas imitam os golpes arbitrários da natureza”, compara Susan Neiman,
filósofa norte-americana, ao analisar o 11/9. “Como os terremotos, os
terroristas atacam aleatoriamente: quem sobrevive e quem morre dependem de
contingências que não podem ser merecidas ou evitadas.”
Por outro lado, a inércia e a dubiedade
respaldadas por uma aparente política estratégica tendem a se transmutarem em
omissão criminosa e não podem ser justificadas. Neiman explica que uma das
principais consequências do terror é a destruição das próprias distinções
morais. As vítimas transformadas em cúmplices, embaraçadas por sentimentos de
possíveis culpas e injustiças praticadas anteriormente que determinariam os
atos de seus algozes. Legitimando, no final das contas, ideologias
fundamentalistas que instigam aos assassinatos e às guerras. Um impasse moral
que a política das nações tem se mostrado incapaz de enfrentar nesse jogo de
retranca das civilizações. O que nos leva a crer, nesse início de 2013, que estamos
sós, lamentavelmente sós. A humanidade refém de mentiras, trapaças e ameaças, à
mercê do apocalipse nuclear.
Em 27 de janeiro de 2013