O premier israelense, Benjamin Netanyahu, aperta a mão de Barack Obama em visita à Casa Branca: a desconfiança entre os dois é tema recorrente de conversas nos bastidores da diplomacia
TEL AVIV — As expectativas são distintas. Judeus e árabes em Israel não se entendem quando se trata das eleições americanas. Segundo pesquisa do Israel Democracy Institute (IDI), a maioria dos judeus israelenses (75% da população de oito milhões de pessoas) prefere ver Mitt Romney na Casa Branca, enquanto os árabes israelenses (20%) torcem pela reeleição de Barack Obama. A tendência contrária acentua a distância dentro do próprio país - e reflete também as diferenças entre israelenses e palestinos.
Obama foi preferido por 45% dos árabes israelenses na enquete do IDI, enquanto Romney ficou com apenas 15% dos votos (40% não quiseram responder). Entre o público judeu, a preferência por Romney é mais clara: 57,2%. Obama recebeu apenas 21,5% dos votos. A conclusão é a de que a maioria judaica vê com desconfiança a atuação do presidente democrata e anseia por uma troca de governo em Washington.
Um dos motivos é a clara falta de simpatia mútua entre Obama e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tanto pessoal quanto ideologicamente. Os dois líderes não se entenderam sobre o papel dos Estados Unidos no Oriente Médio, a construção de assentamentos na Cisjordânia e a reação ao programa nuclear iraniano. Quando se trata de Romney, no entanto, a situação é outra. Netanyahu o conhece pessoalmente desde os anos 1970, quando trabalharam juntos numa firma de investimentos em Boston. Netanyahu tem sido acusado de, agora, apoiar Romney ao ter autorizado o uso de sua imagem em propagandas do republicano.
O vice-chanceler Danny Ayalon, um ex-embaixador de Israel nos EUA, nega a tendência:
- Não é verdade que tenhamos um candidato preferencial. O melhor presidente para Israel é o melhor presidente para os EUA.
Mas os israelenses parecem influenciados pela cruzada de Netanyahu para convencer os EUA e o mundo de que, se obtiver armas nucleares, o Irã pretende transformar em prática a retórica de “varrer o Estado Judeu do mapa”. Para eles, Romney é mais sincero que Obama quando diz apoiar Israel diante da ameaça nuclear.
- O que mais esperamos é que os EUA façam o esforço para impedir o Irã de conseguir armas nucleares - diz Dori Gold, ex-embaixador de Israel na ONU e ex-assessor de Netanyahu. - Os americanos começaram a impôr mais sanções, mas o próximo governo terá que aumentar a pressão, incluindo a ameaça do uso da força.
Gold aponta outras expectativas de Israel sobre o novo presidente: teria que reagir melhor à Primavera Árabe, exigindo do novo governo egípcio, controlado pela Irmandade Muçulmana, por exemplo, que impeça a instalação de grupos terroristas no país. Gold não admite, mas ele e outras figuras próximas a Netanyahu acreditam que Obama fracassou no Oriente Médio nos últimos quatro anos, revelando-se “fraco” diante dos desafios regionais. Críticos do presidente americano também dão a entender que ele se sente menos comprometido com a aliança com Israel. É no que acredita a comunidade de 160 mil judeus americanos que moram em Israel.
Boca de urna dá 85% ao republicano
Entre os 80 mil eleitores que foram às urnas em Israel no último dia 24 (quase o triplo de 2008), Romney recebeu 85% dos votos, segundo boca de urna da ONG iVoteIsrael.
- Nos EUA, como a maioria das pessoas, eu votava nos democratas. Agora, votei em Romney - disse o médico Naftali Neal Fish, que imigrou da Filadéfia nos anos 80.
Tradicionalmente, no entanto, os eleitores da comunidade de 6 milhões de judeus nos EUA (2% da população) votam em massa no Partido Democrata. Pesquisa realizada em setembro pelo American Jewish Committee revelou que dois em cada três judeus americanos vão manter a tradição e votar pela reeleição de Obama (63% contra 27%). As únicas exceções são os ultraortodoxos e os descendentes de russos. Mas o apoio automático dos judeus aos democratas parece estar diminuindo. Em 2008, Obama recebeu mais votos da comunidade: 78%, mais ou menos o mesmo percentual da era Clinton.
Já os quatro milhões de palestinos moradores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza seguem a tendência dos árabes de Israel. Para eles, Obama é a melhor opção no poder — mesmo que decepcionados com o fracasso do presidente em reativar as negociações de paz. Os palestinos esperavam de Obama uma pressão maior sobre Israel para frear a construção de assentamentos na Cisjordânia. E mais do que isso: que apoiasse o reconhecimento da Palestina como o país 194 das Nações Unidas.
A ameaça americana de veto no Conselho de Segurança, há um ano, fez o presidente Mahmoud Abbas desistir da votação. Nos próximos dias, tentará pelo menos que a Assembleia Geral aceite a Palestina como Estado-observador.
Apesar da decepção, apoiar Romney está fora de questão para a maioria dos palestinos. Principalmente depois que a posição do republicano foi revelada em um vídeo secreto que vazou na internet em setembro. Na gravação, durante um jantar de campanha, Romney diz que os palestinos não têm “nenhum interesse em estabelecer a paz” e estão “comprometidos com a destruição e eliminação de Israel”.
Sublinhando tudo isso está a aparente falta de interesse de ambos os candidatos no conflito entre Israel e Palestina durante a campanha. No debate sobre política externa, a palavra “Palestina” foi lembrada apenas uma vez, enquanto “Israel” recebeu 34 menções.
- Isso é impressionante, porque deveria estar claro aos americanos que, sem resolver este conflito, não haverá sucesso nas políticas americanas para todo o Oriente Médio - sentencia Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente palestino.