Alemanha propõe debate para proteger o ritual de circuncisão

Alemanha propõe debate para proteger o ritual de circuncisão

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A proposta de garantir prática judaica e muçulmana enfrenta um futuro incerto no parlamento alemão.
BERLIM - Uma proposta para consagrar a circuncisão de crianças do sexo masculino como um procedimento protegido e que  judeus e muçulmanos poderiam continuar o ritual  sem receio de sanções, enfrenta um destino incerto no Bundestag da Alemanha, dizem observadores.  A proposta visa acalmar “a tempestade” que brotou em maio passado, após um tribunal decidir que a circuncisão em Colônia, violava os direitos da criança, pois constituía "lesão corporal ilegal" mesmo com autorização dos pais. Embora estritamente local em sua jurisdição, a nova decisão dos direitos da criança desencadeou uma preocupação sobre o futuro legal da circuncisão em todo o país. A nova proposta enviada em 25 de setembro, pelo Ministério da Justiça procurou tranquilizar judeus e muçulmanos. Eles poderão continuar praticando o ritual em suas respectivas crenças na Alemanha - sem interferência. 
A proposta foi enviada aos governos estaduais e outro e é esperado para chegar ao parlamento alemão até o final do ano. Entretanto, apesar da recepção positiva que os líderes judeus deram a proposta, alguns questionaram suas perspectivas de se tornar lei, devido à política do secularismo na Alemanha. Eles afirmaram “a preocupação de que essas expressões públicas de bem-estar das crianças ocultam um antissemitismo subjacente”. "O projeto de lei apresentado na Alemanha é um grande passo em frente", disse Deidre Berger, diretor-executivo do escritório berlinense do Comitê Judaico e acrescentou: "Estamos extremamente preocupados se o Parlamento alemão irá adotar esta proposta. A opinião pública parece estar contra a circuncisão e muitos parlamentares, de todos os partidos são ambivalentes. Além disso, as principais associações médicas na Alemanha são anti-circuncisão. É provável que fiquem opostos ao projeto de lei”. Toda esta decisão foi desenca deada devido a circuncisão de um menino mulçumano de 4 anos de idade que foi hospitalizado com complicações médicas após o procedimento. 

Judith Kessler e Tuvya Schlesinger em um protesto pró-circuncisão em Berlim no início deste ano
Na opinião do rabino Joshua Spinner, vice-presidente executivo  e presidente da S. Ronald Lauder Foundation “os alemães não estão  protegendo as crianças contra a circuncisão. Ao contrário eles estão se protegendo do circuncidado”. Spinner enfatizou ainda a "alteridade" de judeus e muçulmanos na cultura alemã.  “Judeus e turcos podem ser alemães”, disse.  Atualmente a Alemanha é o lar de pelo menos 100 mil judeus e cerca de 4 milhões de muçulmanos. "Do meu ponto de vista este é um passo na direção certa", disse Dieter Graumann -  presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha.  Já segundo Juliane Wetzel, pesquisadora sênior do Centro de Pesquisa sobre o antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, a decisão de Colônia acentuou uma falta de tolerância com as minorias em uma sociedade onde judeus e muçulmanos são vistos como outsiders. "O Islã é visto como uma religião arcaica e agora o judaísmo é visto da mesma maneira", disse dura nte uma entrevista na universidade. 
TNS Emnid uma organização de pesquisa alemã mostrou que 56% dos alemães concordam com a decisão de Colônia: "O sentimento básico aqui é antirreligioso", disse Sylke Tempel, editor-chefe da Internationale Politik -  um jornal político autoritário. Em sua opinião a decisão de Colônia não foi um ataque deliberado sobre o Islã ou o Judaísmo, mas mostrou uma total incompreensão da sociedade Alemã de como a circuncisão é importante para ambas as religiões.“Esta escola de pensamento com base em pouca evidência científica, sustenta que a circuncisão faz dano físico irreversível e provoca trauma emocional”. A Academia Alemã de Medicina Pediátrica (BVKJ) subscreveu este ponto de vista e pediu uma moratória de dois anos sobre a circuncisão. Isto está em nítido contraste com a Academia Americana de Pediatria e a Organização Mundial de Saúde.
Em 09 de setembro o comício realizado na Bebelplatz, a mesma praça em Berlim, onde os nazistas queimaram mais de 20.000 livros que consideravam "não-alemães" - a maioria por autores judeus - líderes judeus e muçulmanos denunciaram a decisão de Colônia, garantindo o direito de praticar livremente sua religião. Muitos usavam camisetas com exclamações de orgulho judaico. " O que você ainda quer de nós judeus?",  pediu o sobrevivente do Holocausto de 79 anos, Charlotte Knobloch. 

"Há 60 anos tenho defendido a Alemanha como um sobrevivente do Holocausto. Agora eu me pergunto se isso está certo”. Apesar das preocupações a nova proposta parece ter forte apoio de membros do Bundestag. 

Dietmar Nietan, um social-democrata do Bundestag, disse que o avanço da lei vai proporcionar um equilíbrio entre o direito à liberdade de religião e os direitos das crianças.  Philipp Missfelder, membro do Bundestag e que pertence à União Democrata Cristã, afirmou que  o projeto de lei "é uma boa abordagem para resolver o dilema jurídico atual a respeito da circuncisão", acrescentando que "garante a prática da vida religiosa judaica em nosso país e bem-estar das crianças." Missfelder disse esperar que o projeto de lei passe pelo Bundestag “sem alterações substanciais."  

A chanceler  Angela Merkel denunciou a decisão de Colônia e pediu a promulgação rápida de uma lei aceitável  para judeus e muçulmanos. Um outro membro do Bundestag Stefan Ruppert está confiante que a legislação será satisfatória para todos os judeus. 

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