A história dos alemães que desembarcaram no Jari em 1935 para uma confusa e misteriosa expedição científica
Frederico Füllgraf*
Entre a foz do Rio Jari, no Amazonas, e sua deslumbrante
Cachoeira de Santo Antônio, há uma cruz de madeira, medindo três metros
de altura por dois metros de largura, que há alguns anos é explorada
como atração turística no Amapá. Debaixo dela jaz o teuto-brasileiro Joseph Greiner,
ali sepultado em janeiro de 1936, vitimado pela selva. Feita sacrário,
hoje a cruz é protegida por um telhado e encabeçada pelo entalhe de uma
suástica – a cruz gamada de origens indo-tibetanas, popularizada como
ícone incendiário do nazismo. Lápide improvisada, o necrológio da cruz
explica: “Joseph Greiner morreu aqui em 2/1/36, a serviço da pesquisa
alemã, vitimado pela febre – Expedição Alemã do Jary, 1935-1937″.
Setenta anos de intempérie se encarregaram de esmaecer um dos pouquíssimos marcos de uma insondável aventura na Amazônia.
Meu envolvimento com a história que segue começou em 2003, por meio
de uma página encontrada por acaso nas profundezas da internet,
intitulada “A rota do nazismo na Amazônia”, em referência ao livro sobre
uma misteriosa expedição alemã. Minha primeira reação foi a lembrança
da teoria da conspiração tramada no livro A crônica de Akakor
(Editora Bertrand, 1977) do correspondente da rádio alemã no Brasil,
Karl Brugger – assaltado e assassinado no final de 1983 à saída de um
restaurante no Leblon, Rio de Janeiro. Nele Brugger ecoava a
invencionice contada nos anos 1970 por um falso índio, de uma “expedição
nazista à Amazônia”, ocorrida no final da 2ª. Guerra Mundial – crônica
esdrúxula reciclada em 2007 por Steven Spielberg. Plágio bilionário, o
cenário apoteótico de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
é a “cidade perdida” de Akator, supostamente uma “base subterrânea de
nazistas na Amazônia”. No curso destes anos resisti à publicação do que
sabia sobre o Jari para não comprometer um projeto cinematográfico há
muito acalentado. Contudo, o episódio atraiu o interesse da revista
alemã Der Spiegel, cujo correspondente no Brasil resolveu
adiantar-se, publicando o livro Das Guyana-Projekt (O Projeto Guiana).
Resisti em lê-lo para não me deixar influenciar, mas a publicidade dada
ao assunto na Alemanha justifica, agora, a abertura de uma modesta
janela no Brasil.
No inferno das selvas
Num sebo da internet encontrei o tal livro sobre a expedição.
Folheando-o, dei-me conta que tinha nas mãos a encomenda errada, porque
sua edição era a de 1953. Demorei em entender que são duas as versões
sobre a aventura no Amapá: uma oficial, de 1953, e outra, de 1938, nem
tanto. Publicado pela Deutscher Verlag em 1938, plena ditadura nazista, o
livro original Rätsel der Urwaldhölle” – Mistérios do inferno da selva,
que eu adquiri mais tarde, tem 60 fotografias a mais que a versão
pós-guerra. Suas ilustrações mais escancaradas são duas suásticas: uma,
na cabeça da cruz, e outra, tremulando alegremente na popa de uma canoa,
sobre o Jari. Símbolo proibido pela constituição democrática alemã, do
pós-guerra, as fotos com as suásticas nazistas foram banidas da edição
de 1953.
Capricho germânico, o livro é um diário making of do filme
homônimo, estreado e distribuído pela Universum Film AG (UfA) em 1938,
depois misteriosamente desaparecido. Em seu lugar, surge na década de
1970 o inofensivo documentário Sobre o cotidiano dos índios da selva amazônica
– relatos de uma viagem de pesquisas, 1935 – 1937, distribuído pela
WBU, produtora de filmes educativos, fundada na década de 1960 pelo
geógrafo dublê de documentarista, Otto Schulz-Kampfhenkel.
O apoio brasileiro
Conta a versão oficial da aventura que em outubro de 1935 desembarcam em
Belém do Pará três jovens aviadores alemães, acompanhados de 11
toneladas de bagagem, cuja lista e sofisticação extrapolam abusivamente
os limites desta crônica. Risível nota de rodapé é que além do
inexplicável arsenal trazido, os alemães não abriram mão do conforto, em
plena selva amazônica, de cobertores de pelo de camelo e roupa de cama.
Eram eles Gerd Kahle, Gerhard Krause e o líder da expedição, Otto
Schulz-Kampfhenkel. Ao contrário da informação, falsa, veiculada pela
imprensa internacional, Joseph Greiner, sepultado sob a cruz do Jari,
não foi integrante do Esquadrão de Pesquisas Schulz-Kampfhenkel, vindo
da Alemanha, mas, provavelmente, contratado no Rio de Janeiro. Explica o
líder da expedição: “Neste meio tempo Gerd (Kahle) manda um
cabo do Pará, informando que lá não é possível encontrar nenhum
‘capataz’. Mas já que eu estou no Rio de Janeiro, tento encontrar algum landsmann (patrício), criado no País e versado em Português. Depois de muito procurar, eis que encontro o sujeito certo: Joseph Greiner, auslandsdeutscher
(alemão criado no exterior), jovem marinheiro, empreendedor e
confiável, que se soma como quarto integrante ao nosso grupo
expedicionário, onde terá a função de mestre-bagageiro, capataz e
encarregado das provisões. Contratado, ele embarca no primeiro navio de
cabotagem rumo ao norte, no Pará”. (Rätsel der Urwaldhölle, Berlim, 1953.)
Antes de receber a permissão para subir o Jari, Schulz-Kampfhenkel
gastou mais de dois meses com extenuantes despachos aduaneiros e
expedientes burocráticos no Rio de Janeiro. Credenciado pelos mais
prestigiados institutos de pesquisa e museus de história natural da
Alemanha, Schulz-Kampfhenkel conseguiu facilmente a adesão do Instituto
Emilio Goeldi, em Belém, e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Contudo, o apoio mais importante seria o das Forças Armadas brasileiras,
que em 1935 ainda não estavam divididas em facções pró-Alemanha e
pró-EUA. Por isso, em Belém, o governador José Carneiro da Gama Malcher e
o general Manuel de Cerqueira Daltro Filho prestigiaram o comando
alemão com sua visita.
Os alemães retribuíram a gentileza com um teste do hidroavião modelo
“Seekadett”, burlescamente batizado de “Águia Marinha”, especialmente
equipado com flutuadores de compensado e instrumentos de navegação, tudo
inédito para os embasbacados dignatários brasileiros. Talvez o
entusiasmo brasileiro se devesse à expectativa de lucrar com o
componente mais importante da missão: o levantamento topográfico da
bacia do Jari até suas cabeceiras, mapeamento até então inédito, mas
previsto nos mínimos detalhes pelo geógrafo Schulz-Kampfhenkel.
Expedições nazistas
A expedição ao Jari coincidiu com um capítulo insólito da história do
nazismo. Chefe de um “Estado dentro do Estado” – o famigerado
Departamento Central de Segurança do Reich, subordinado à SS -, o
sombrio e esotérico Heinrich Himmler tinha uma obsessão: acreditava na
fantástica “civilização de Atlântida”, cujos descendentes, “de raça
pura”, presumiu no Tibet e na América do Sul. Na origem de seu
esoterismo estavam “ariósofos” sinistros, antissemitas e também seu
fascínio pelas pesquisas do mitologista Otto Rahn, sobre as fabulações
do Santo Graal. Reciclando o Santo Graal como mistério pagão para a SS,
Himmler inaugurara uma série de expedições para os recônditos do
planeta, onde seus homens deveriam encontrar vestígios genéticos da
“raça ariana”.
Em 1934 Himmler indica o jovem geógrafo Otto Schulz-Kampfhenkel,
recém-filiado ao partido nazista NSDAP, como participante da primeira
expedição alemã ao Tibet. Otto não embarcou e safou-se de uma tragédia,
pois a maioria dos integrantes morreu na Nanga Parbat, depois do
Everest, a nona montanha mais alta do mundo. A terceira expedição alemã,
ocorrida em 1939, celebrizou-se com o livro Sete anos no Tibet,
de Heinrich Harrer, oficial da SS (protagonizado por Brad Pitt, no
filme de Jean Jacques Annaud). Outra expedição de Himmler teria como
destino a Amazônia, mas ocorreu apenas na imaginação fértil das
confrarias esotéricas. Himmler e Schulz-Kampfhenkel voltariam a se
encontrar, mas quem patrocinou a expedição ao Jari, como mentor do
geógrafo, foi Hermann Göring, aviador durante a Primeira Guerra Mundial
na esquadrilha de Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho, logo
promovido a ministro da Aeronáutica de Hitler. Muito bem articulado com o
complexo industrial-militar e os grandes bancos alemães, Göring já
apadrinhara expedições anteriores de Schulz-Kampfhenkel, aviador como
ele, e mais uma vez abriu-lhe as portas para a expedição ao Rio Jari.
Berlinense de origem abastada, Schulz-Kampfhenkel estudara geografia e
ciências naturais, especializando-se na caça de animais africanos para
jardins zoológicos alemães. Mas do que gostava mesmo era de voar. Com
sua paixão pela zoologia, em 1934 participou ativamente da “arianização”
ocorrida na DGS (Sociedade Alemã de Pesquisas em Mamíferos) – centro de
excelência mundial. Como a maioria dos militares alemães, o geógrafo se
insurgiu contra o Tratado de Versalhes, imposto aos alemães por sua
derrota na Primeira Guerra Mundial, e que, entre outras retaliações,
lhes proibia pesquisas científicas no exterior. Schulz-Kampfhenkel não
via a hora de violar o tratado com sua expedição ao Jari.
Contra a correnteza
Jari, final de 1935. Apesar da contratação de uns 30 caboclos-mateiros,
familiarizados com a selva, foi uma operação tumultuada. Que o Jari era
um imenso tapete pedregoso, repleto de cachoeiras, sem superfície de
pouso para o hidroavião, era detalhe que os alemães já intuíam,
apostando em condições mais apropriadas rio acima.
Enquanto Gerd Kahle, no comando da expedição, desafiava a lei da
gravidade, forcejando contra a correnteza, na retaguarda
Schulz-Kampfhenkel e Gerhard Krause chocaram os flutuadores do “Águia
Marítima” contra toras de árvores submersas, entre Gurupá e Arumanduba, e
o hidroavião espatifou-se sobre o Amazonas. Agarrados a um dos
flutuadores, a mais de um quilômetro da margem amapaense do Amazonas, os
dois alemães estavam sendo arrastados pela maré. Foram salvos por
remadores caboclos, que Schulz-Kampfhenkel louva como “heróis da selva”.
Estava gravemente comprometido o principal objetivo da expedição: o
mapeamento aéreo da bacia do Jari.
Barcos sobrecarregados e rio raso demais, o geógrafo determina a
instalação de subacampamentos, dividindo sua equipe. O inverno amazônico
se aproximava, chovia copiosamente. Explorando um rio,
Schulz-Kampfhenkel foi surpreendido por uma súbita enchente, perdendo
seu barco com todo o equipamento – câmeras, material de cartografia,
armas, provisões e roupa. Durante uma semana errou sozinho pela selva.
Foi resgatado e safou-se da morte pela segunda vez.
Em janeiro de 1936 alcançaram a grande aldeia dos índios Aparaí, no
médio Jari. O capataz e mestre-bagageiro Joseph Greiner desce novamente o
rio, para apanhar as provisões guardadas em Santo Antônio. Mas os
índios que o acompanhavam retornaram sozinhos. Krause, o mecânico do
avião e operador de som, saiu em seu encalço, mas não conseguiu
salvá-lo. Então Krause o sepulta, ergue aquela cruz de madeira e faz os
entalhes legíveis até hoje. Depois envia uma mensagem ao comando da
expedição, na aldeia Aparaí, informando que, surpreendentemente, o
estoque de quinina de Greiner estava intocado. Ele não havia tomado um
comprido sequer, obviamente confiando exageradamente na “imunidade” do
seu organismo.
No “inferno verde”
Tudo indicava que o lendário Curt Nimuendaju Unkel, alemão que vivia em
Belém e era ligado ao Instituto Emilio Goeldi, havia sido convidado para
guiar a expedição, e neste caso poderia ter evitado grande parte do
descalabro. Mas Schulz-Kampfhenkel menciona com frieza seu encontro com o
indigenista conterrâneo, provavelmente porque Nimuendaju desprezava o
nazismo. Desde 1910 ele atuava no recém-fundado Serviço de Proteção ao
Índio (SPI), mas entraria para a história do cinema como consultor de
pelo menos quatro produções cinematográficas na Amazônia.
Aliás, o “inferno verde” parecia dar o troco, cobrar tributos por
velhos pecados alemães, jamais expiados. Como o caso dos índios levados
em 1820 para a Alemanha pelo naturalista Carl Friedrich Phillip von
Martius: três adultos faleceram durante a travessia do Atlântico, e os
dois curumins Isabella Miranha e Yuri Comás estão sepultados no
Cemitério Sul de Munique. Morreram de frio durante o inverno de 1820
/21. Outra aberração: os crânios dos índios Botocudos, caçados por
exploradores alemães, entre eles o príncipe Maximilian zu Wied, para
compor o macabro acervo dos darwinistas de plantão – prática
absolutamente dentro da etiqueta, pois ninguém menos que D. Pedro II,
durante uma visita à Alemanha, tirou da bagagem, de presente, um crânio
de silvícola.
Mas eram exatamente esses melindres que atiçavam o frenesi alemão,
atraindo mais de 20 produções cinematográficas alemãs à Amazônia, entre
1920 e 1941. Sua maioria explorava a forte demanda por enredos exóticos.
Com uma exceção: o longa-metragem de ficção Kautschuk / O inferno verde,
inspirado no emblemático episódio do contrabando de 70 mil sementes de
seringueira pelo agente britânico Henry Wickham, em 1870. Com um set de
mais de 60 pessoas em plena selva amazônica, a produção ocorreu na mesma
época em que Schulz-Kampfhenkel se penitenciava no Jari.
Os Aparaí do “Führer”
Era 1936, ano das Olimpíadas em Berlim, Schulz-Kampfhenkel não estava
interessado em cultura, apenas em “raça”. Insensíveis à religiosidade
Aparaí, os alemães abateram e descarnaram uma enorme sucuri, que nadava à
flor d’água e não os ameaçava, juntando seu couro ao butim de centenas
de peles, crânios, ossos, dentes, plumagens e órgãos conservados em
álcool, prometidos aos museus de ciências naturais da Alemanha. Mas não
havia ali ciência alguma, o galpão “científico” dos alemães mais se
assemelhava a um gigantesco açougue. Apesar disso, o relacionamento com
os hospitaleiros Aparaí foi mais do que pacífico: índios e alemães
tornaram-se muito bons amigos. Os indígenas naturalmente não entendiam
os objetivos do alemão. A sexualidade brotou entre hóspedes e
anfitriões. Mas, obviamente, não há nos livros de Schulz-Kampfhenkel
qualquer pista de seu envolvimento com a formosa Macarrani, filha do
cacique Aocapotu. Assumi-la teria significado admitir a inadmissível
fraqueza da carne germânica, “superior”, e uma traição da doutrina
racial, cujo rosário o alemão desfiava com fervor. Ao despedir-se dos
Aparaí em 1937, o alemão deixou para trás uma mulher grávida. Sua filha,
nascida entre 1937 e 1938, foi batizada de Cessé, também conhecida por
“alemoa”: tinha a tez clara e os olhos azuis de seu pai “ariano”.
Contou-me Cristóvão Lins, ilustre pesquisador e autor da História do Jari,
que pouco tempo atrás morreu José Pinheiro, líder dos caboclos de
Schulz-Kampfhenkel. Com isso foi-se a última testemunha viva do
nascimento de Cessé.
Operação Guiana
Início de 1937, perto da Guiana Francesa. Os alemães não tinham cruzado o
Atlântico com toda aquela parafernália para testar bobagens. O que
Schulz-Kampfhenkel queria experimentar era a aerofotogrametria, técnica
que revolucionou a cartografia moderna. Já com o avião fora de combate,
teve de se contentar com suas medições feitas em terra. Apesar de
extenuados “seus” índios e caboclos, o alemão insistiu teimosamente em
mapear as cabeceiras do Jari, a pouca distância da Guiana Francesa. O
mapa da fronteira era a chave de ouro para fechar seu plano da
colonização do território francês por grandes contingentes alemães,
apoiados numa forte “coluna indígena”. Com a invasão da França pela
Alemanha, em junho de 1940, o geógrafo não teve dúvidas: submeteu-o a
Heinrich Himmler. Recomendou a selva (do Amapá e da Guiana Francesa)
como território privilegiado pela natureza, com baixíssima densidade
demográfica, excelente para a exploração como “colônia tropical”, que
“não deveria ficar nas mãos de povos, que, comparados à Alemanha ou à
Inglaterra, são inferiores, do ponto de vista racial e civilizatório”.
Porém, o chefe da SS repeliu a idéia com uma aritmética muito simples:
para quê todo o esforço hercúleo, de subir o Jari, se a França estava
sendo ocupada e a Guiana Francesa seria “alemã” por tabelinha?
O espião do Saara
No início dos anos 1940 a “operação Guiana” era página virada da
história. O “Esquadrão Schulz-Kampfhenkel” – integrado por geólogos,
geógrafos, hidrólogos e botânicos, e devidamente incorporado à SS – leva
a cabo uma missão especial no norte da África. O grupo deverá produzir
mapas para a avaliação de terreno, o que faz com incursões rápidas e
mediante a cartografia aérea. É quando o expedicionário do Jari vive
seus dias de glória: da cabine de seu avião, Schulz-Kampfhenkel mapeia o
relevo do Saara, para determinar as trilhas apropriadas aos pesados
blindados do Afrika-Korps do marechal Erwin Rommel.
Chamado de volta à Alemanha e promovido a capitão da SS em maio de
1943, Otto é nomeado “Delegado Especial para Missões Geocientíficas do
Conselho de Pesquisas do Reich”, executando operações de inteligência
geográfica sobre o território da União Soviética. Mas, perdida a guerra,
ele foi preso pelas tropas norte-americanas e duramente interrogado
pela OSS, precursora da CIA. Com o “desmanche” da Alemanha, os EUA
levaram consigo milhares de técnicos e cientistas. E apesar de liberado
em 1946, o geógrafo-aviador continuou figurando como “nazista a serviço
da inteligência militar norte-americana”, na letra “S” do arquivo “Top
Secret decimal file, Records of Army General Staff, RG 319, NA”, tornado
público há poucos anos.
Otto Schulz-Kampfhenkel, o “nazista da Amazônia”, terminou seus dias
levando a vida que tinha pedido a Deus. Viajando, dirigiu dezenas de
documentários educativos e científicos. Conta-me Falko Ahsendorf –
diretor de fotografia em várias produções de Otto sobre a África e o
Oriente Médio, nas décadas de 1960 e 1970 – que Mistérios do inferno selvagem,
o filme sobre a expedição do Jari, estreado em 1938, tornou “próspero” o
geógrafo-aviador, morto em 1989, aos 78 anos de idade. Mas de seu pai
rico, a índia Cessé Schulz-Kampfhenkel nada sabia. E é onde começa outro
filme sobre a aventura, agora contada de trás para frente.
*Frederico Füllgraf é Mestre (MA) em Comunicação Social pela FUB –
Universidade Livre de Berlim e ex-aluno da DFFB – Academia Alemã de
Cinema e Televisão, também em Berlim. É escritor (A bomba ‘pacífica’- o
Brasil e outros cenários da corrida nuclear, Brasiliense, 1988),
roteirista e diretor de cinema, e desde 1985 atua como produtor
associado da ARD (TV Alemã, Canal 1). Selecionado pelo MinC para a
edição 2006 do projeto DOC TV, sua produção mais recente é Maack,
profeta pé na estrada, estreado pela TV Cultura, em 2007. Seu mais novo
projeto é o livro O cinema do inferno verde, atualmente em processo de
criação para a editora Record