Michel Schlesinger

Michel Schlesinger

magal53

Ele toca chofar (chifre de carneiro) em sua casa, em HigienĆ³polis

Ele toca chofar (chifre de carneiro) em sua casa, em HigienĆ³polis
A cerimĆ“nia acabou hĆ” quase meia hora, mas o rabino Michel Schlesinger, 35, continua na "khupĆ”", o altar do casamento judaico. "Vou lĆ” resgatar ele, senĆ£o...", diz sua mulher, Juliana, 33.
O pai da noiva ainda chama Michel de lado e pede uma bĆŖnĆ§Ć£o. Juliana decide ir reservando dois lugares em uma mesa no salĆ£o de festas, em Pinheiros, em SP. Ɖ Michel se sentar que senhoras se aproximam para um papo e amigos dos noivos chegam para cumprimentĆ”-lo.
Juliana costuma acompanhar o marido em pelo menos um evento social por semana, para conseguirem ficar juntos. Ɖ puxada a rotina do rabino que sucedeu Henry Sobel na CIP (CongregaĆ§Ć£o Israelita Paulista), em 2007, apĆ³s o episĆ³dio em que ele foi preso furtando gravatas nos Estados Unidos.
"Sei muito bem que o judaĆ­smo nĆ£o passa sĆ³ pela sinagoga", diz Ć  repĆ³rter Thais Bilenky. E Ć© para atrair mais gente Ć s atividades da comunidade que ele tem encontros semanais com adolescentes e jovens e dĆ” aulas para adultos e idosos toda quarta-feira.
Quando assumiu o rabinato, a CIP tinha em torno de 1.200 famĆ­lias associadas. Hoje, diz, sĆ£o 1.470. O rabino Ruben Sternschein passou a dividir funƧƵes com Michel. "Os dois sĆ£o cordatos, sem esse ego, vamos dizer, do outro. A CIP hoje tĆ” mais integrada Ć  comunidade judaica de SP", diz Dora Brenner, 64, presidente da congregaĆ§Ć£o.
No inĆ­cio, Michel deu duro. Acumulou agendas, celebrou trĆŖs casamentos em uma noite. Sobel "gostava de dizer que eu era seu pupilo, que trabalharĆ­amos muito juntos. A gente constrĆ³i um programa e de repente tem que rever tudo. Foi difĆ­cil emocionalmente [quando Sobel saiu da CIP)". Michel chegou a procurar um psicanalista.
Hoje, a rotina estĆ” mais organizada. A empregada de Michel e Juliana dorme no serviƧo duas vezes por semana e cuida da filha deles, Tamar, 2. Numa das noites, eles vĆ£o ao cinema. Na outra, ela o acompanha em eventos como o "shiur", o encontro mensal de jovens de 25 a 35 anos na casa de um deles para debater temas judaicos.
As reuniƵes jĆ” evitaram que associados deixassem a CIP, trouxeram novos sĆ³cios e intensificaram a frequĆŖncia dos antigos, diz Michel. A coluna acompanhou o encontro antes de Pessach, a PĆ”scoa judaica, em abril. Com latas de cerveja na mĆ£o, os jovens chegam com dĆŗvidas. "Por que pode beber vinho e nĆ£o cerveja [nessa Ć©poca do ano]?" Michel explica que o cereal da bebida Ć© considerado imprĆ³prio no feriado.
Os noivos que Michel casara semanas antes chegam. "JĆ” tĆ“ vendo fotos [da lua de mel na Ɓfrica] no Face [Facebook]", diz. Ele dispensa o tratamento de "senhor". E Ć© conectado. Usa o Twitter para se comunicar, por exemplo, com dom Odilo Scherer, arcebispo de SĆ£o Paulo.
Duas vezes por ano, viaja com os movimentos juvenis. No ano passado, rompeu o ligamento do joelho pulando numa cama elƔstica. "Tem momentos mais sƩrios. Mas mesmo a reza Ʃ mais descontraƭda. Brinco, jogo basquete. Tem atividade de sujar de lama, entro com eles."
-
"Cada rabino tem um tipo de fĆ£-clube, tĆ”?", explica a presidente Dora Brenner. O de Michel seria, em sua maioria, de jovens. "Um rabino plugado faz diferenƧa."
De famĆ­lia tradicional, mas nĆ£o religiosa, ele viu seu interesse pelo judaĆ­smo crescer aos 13 anos, quando fez bar-mitzvĆ”, cerimĆ“nia que marca a passagem para a vida adulta. Passou a ser assistente de seu professor de religiĆ£o aos 15. Com 17, "surgiram gĆŖmeos que queriam ser meus alunos". Em trĆŖs anos, dava aula para 60 meninos.
Celebrou as Grandes Festas (Rosh HashanĆ” e Iom Kipur, em setembro) aos 17, sozinho. "O Marcos [Arbaitman, entĆ£o presidente do clube A Hebraica] me perguntou: 'Sabe fazer as Grandes Festas?'. Falei: 'Sei'. NĆ£o sabia." Naquele ano, prestou vestibular e passou em direito na USP.
No ano seguinte, foi apresentado a Juliana. Demorou para engatar o namoro. "GostĆ”vamos de filmes diferentes", lembra-se ela, que colocou um piercing no nariz na Ć©poca e nĆ£o tirou mais.
Na faculdade, ele chegou a estagiar em um juizado de pequenas causas de direito do consumidor. "Eu era conciliador." Conversava com as partes para tentar acordos antes do julgamento.
No terceiro ano, percebeu que queria ser rabino. Sua mĆ£e pediu que se formasse antes. Obedeceu. Assim que terminou o curso, foi para JerusalĆ©m e lĆ” ficou por quatro anos. Juliana foi junto. Ele se formou rabino e ela fez mestrado em antropologia. Casaram-se na volta.
Na funĆ§Ć£o de rabino, continua um conciliador "o tempo todo." Recentemente, reuniu um corretor e o dono de uma construtora, ambos judeus. O corretor queria a comissĆ£o de um terreno que mostrou Ć  construtora, mas que ela acabou negociando com outro profissional.
"A figura do rabino, mesmo um bem jovem como eu, permite que dois lados dialoguem de uma forma que nĆ£o fariam sozinhos ou com seus advogados. FaƧo isso com casais que brigam por pensĆ£o alimentĆ­cia ou guarda de filhos. Acontece bastante."
Michel e Juliana estĆ£o passando trĆŖs meses em Nova York -voltam de lĆ” ainda neste semestre. Michel estuda judaĆ­smo e acompanha um rabino em sua comunidade. Juliana, pĆ³s-doutoranda, faz visita acadĆŖmica na Universidade Columbia. Ele criou o Blog do Rabino Michel para relatar suas experiĆŖncias nos EUA. E, se pensava que, longe, teria uma vida mais reclusa, enganou-se. "Minha casa daqui estĆ” tĆ£o movimentada quanto em SĆ£o Paulo. Uma coisa pitoresca."

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Our website uses cookies to enhance your experience. Learn More
Accept !